Terra Nostra Garden Hotel
Saí de Ponta Delgada ao principio da tarde, quando o sol brilhava forte, tanto que cheguei a pensar que, pelo caminho, ainda daria para espreitar a lagoa do Fogo. Avisaram-se na empresa de Rent a Car onde estava a levantar o veículo que não eram exageradas as histórias sobre apanharas quatro estações no mesmo dia. Era incerto, mas poderia estar a despedir-me no ameno verão que estava instalado na cidade, para me aproximar do outono, quiçá do inverno, à medida que fosse caminhando para o outro lado da ilha de São Miguel. Sim, tudo bate certo quando falamos dos Açores. A ilha é incrivelmente fotogénica, a meteorologia é inacreditavelmente excêntrica e cada curva trará sempre uma surpresa.
Tive muitas, nessa curta viagem entre a cidade de Ponta Delgada e a vila das Furnas. Para os meus parâmetros, uma viagem de 45 minutos, com muitas paragens para a fotografia (sim, ninguém resiste), não deixa de ser uma viagem curta. Mas a maior das surpresas estava reservada para o destino final, o Terra Nostra Garden Hotel.
Atravessei a tempestade, na subida aos céus que nos leva ao topo da caldeira. Vi o céua limpar-se, de novo, na descida. Não se tratou de uma descida aos infernos, mesmo sabendo da apropriada atividade vulcânica e das fumarolas. Descer até à Vila das Furnas e entrar no hotel Terra Nostra é, ao invés, um vislumbre do paraíso. Conto de fadas ou bosque encantado são epítetos que lhe assentam bem. Fico-me pelo lugar mágico, e creio que com este termo consigo dizer quase tudo.
Sabia-o um hotel octogenário, sabia das grandes obras de remodelação que sofreu em 2013, sabia da sua decoração a respeitar as origens e a época Art Deco. Não sabia – porque não quis saber – que tinha os seus jardins abertos ao público e que o Parque Terra Nostra é razão de romaria como é o Poço da Dona Beija, ali ao lado, ou até mesmo a subida ao caldeirão das furnas para espreitar o cozido.
A surpresa foi ver a animação à volta do hotel (não confundir animação com enchentes incómodas, que nos Açores não há nada disso). “Não tenha pressa. Às 18:00 os portões do parque fecham ao público”, alertaram-me na receção. Isso significava que 12 hectares de jardins e os três incríveis tanques de água ferrosa ficariam por conta dos hóspedes do hotel Terra Nostra. Eu não tinha, de facto, pressa.
Permiti-me conhecer cada canto do hotel, espreitar as áreas comuns (o bar, a biblioteca, o salão de jogos), o renovado espaço de bem-estar (o cardápio de tratamentos e massagens era tentador), a piscina interior, com sauna e jacuzzi. permiti-me relaxar antes do jantar no restaurante do hotel. E depois do jantar, onde me deleitei com originalidades tipo risotto de beterraba ou filetes esparguete de courgette (calma, que não foi uma refeição vegetariana, também lá estavam uns incríveis filetes de abrótea), não me faltou nada para dormir descansadíssima. Admito que o cocktail da casa, um saborosíssimo Furnas Hot Spring com rum, laranja, canela e ananás caramelizado ajudou à festa. Mas eu já adormeci a pensar que me iria levantar de madrugada, para melhor aproveitar aquele tanque de águas ferrosas só para mim. Só podia adormecer bem.
O Terra Nostra Garden Hotel pode ser um luxo, que é; o pequeno-almoço pode ser óptimo, que é um facto; as refeições e o serviço de bar podem ser divinais, o que se confirma. Mas o que eu mais me vou lembrar desta curta estadia é mesmo a forma como passei a manhã: no tanque de águas férreas e no Parque Botânico, guiada pela apaixonada e apaixonante Carina Costa.
Optei por madrugar, e ainda bem. Às sete da manhã, ainda a neblina está a pedir meças aos primeiros raios de sol, a água a 47 graus sente-se ainda mais quente. Estive por ali uma hora, e nem dei pelo tempo passar.
Depois do lauto pequeno-almoço (não tenho nada contra os buffets, mas gosto do serviço à mesa) estava na hora de me encontrar com uma das engenheiras agrónomas que toma conta do parque, Carina Costa, para a ouvir desfiar a paixão que tem por aqueles jardins. A culpa será do pai, que há décadas assume a função de jardineiro-chefe. Mas também é da vocação, genuína, que Carina tem para falar de priolos (uma ave típica dos Açores) e de cykas, de camélias, bromeis e de fetos. Vamos a ver e no fim da visita acaba a dizer-nos que a sua árvore preferida em sequer é endógena – é um sobreiro de grande porte.
O parque do Terra Nostra merece bem a visita. Ficamos apaixonados e com a certeza que levamos aquele pedaço de paraíso no coração. É isso. Dizer que o Terra Nostra é um lugar mágico é dizer quase tudo.
Veja também um roteiro para visitar São Miguel.
Como é o Terra Nostra Garden Hotel?
“Conto de fadas ou bosque encantado são epítetos que lhe assentam bem. Se ficarmos pelo lugar mágico, creio que conseguimos dizer tudo!” Luísa Pinto
Localização
O Terra Nostra Garden Hotel fica bem no centro das Furnas, uma pequena freguesia com cerca de 1.500 habitantes localizada a este de Ponta Delgada. Fica a pouco mais de 30 minutos de Ponta Delgada, através de uma estrada relativamente fácil e estupidamente cénica, como são todas as estradas açorianas.
Morada: Rua Padre José Jacinto Botelho 5 ; 9675-061 Furnas – Povoação; S. Miguel – Açores
Quartos
No total são 86 quartos, todos ligeiramente diferentes, e que se dividem entre as duas alas que resultaram da mais recente renovação, em 2013: a Ala Art Deco, a original, onde o Terra Nostra Garden Hotel abriu portas em 1935, com vista para o casino; e a Ala do Jardim, que recebeu uma nova estrutura, toda ela voltada para os 12 hectares do Parque Terra Nostra. Os quartos, de quatro estrelas, oferecem todos o roupão e os chinelos de interior (dá jeito ter umas havaianas na bagagem) – e também as necessárias toalhas escuras para levar para o banho nas águas férreas.
Atmosfera
É um ambiente luxuriante. A beleza dos jardins que dão vida ao Parque Terra Nostra foi transportada para o interior do hotel: tudo é cuidado, delicado, sofisticado. E simples, ao mesmo tempo. Mesmo se houver alguém que não se identifique com o estilo da Art Deco (que não é o meu caso, deve dizer; gosto e muito) muito dificilmente não gostará dos ambientes proporcionados por este hotel.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Servido no restaurante do hotel, é uma mistura de serviço à la carte com buffet. Adorei o cuidado de, mal me tinha sentado na mesa, depois de escolher uma bem perto dos grandes janelões (já tinha dito que acho o parque Terra Nostra um paraíso viciante?) me terem trazido dois sumos à escolha. Experimentei o combinado de fruta, com laranja,maçã e ananás e em boa hora. Sou dependente de sumo de laranja, mas este, sem deixar de ser cítrico, era ainda mais leve. Os ovos (omelete, mexidos, estrelados, cozidos) também são feitos na hora e escolhidos à la carte. O resto está patente no bufett, onde há pão de vários tamanhos e feitios (o que inclui o insubstituível bolo lêvedo), queijos da ilha (Serra Nova Amanteigado e Serra Nova com Alho e Salsa), doces de amora e de abóbora, bolo caseiro, iogurtes, cereais.
Conclusão
- Pontos fortes: Ter ao alcance da janela um jardim botânico de 12 hectares e um tanque de água termal a 47 graus. Uma ambiência única e inesquecível.
- Pontos fracos: Talvez o facto de estar longe (no meio do Atlântico) e não me permitir pensar nele todos os fins de semana (os micaelenses podem).
- Em resumo: perfeito para uma escapada romântica, em comunhão com a natureza
- Ideal para: casais, famílias.
- Preço: desde 110€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev2016