Quinta M
A simpatiquíssima Florence Giordimaina e o seu marido Louis, ambos de origem francesa, instalaram-se em terras ribatejanas vai para uns seis anos. Após fazerem da quinta a morada permanenteda família, trouxeram quatro yurts (a tradicional tenda de forma circular usada pelos nómadas da Ásia Central) de França para servirem de alojamento turístico com algum luxo mas em contacto com a natureza. Numa palavra, glamping. Era precisamente nessas yurtsque iria pernoitar numa noite fria de março
Cheguei à Quinta M em horário impróprio, demasiado tarde para a visitar. Eram, na verdade, quase nove da noite e eu estava esfomeado, pelo que, logo após conhecer a tenda onde iria ficar alojado, Florence indicou-me um restaurante para jantar na localidade de Torres Novas, a 15km de distância da Quinta M. A visita aos espaços da quintaficaria para a manhã seguinte.
De regresso a Casével após um repasto memorável no restaurante Papa-Figos, foi para mim impossível não pensar na Mongólia enquanto caminhava em direção à yurtonde iria pernoitar. Lá dentro, as diferenças para os gers mongóis eram naturalmente enormes. Já estive na Mongólia várias vezes e as yurts contemporâneas da Quinta M pouco se assemelham às tendas básicas onde dormi no deserto de Gobi, no vale de Orkhon ou no lago Hogsvol. Nem é esse o objetivo de Florence. As tendas são fabricadas em França, o exterior é de material plástico e o conforto no interior é total.
Claro que não há cheiro a queijo no interior, que o chão não é um tapete rudimentar em cima da areia, que o mobiliário não é rudimentar nem tem os motivos mongóis, e que não existe um fogareiro no centro da tenda para aquecer os hóspedes nas noites frias das estepes. Isso é nas estepes mongóis. Na Quinta M, pelo contrário, as tendas são muito confortáveis e bem decoradas, numa espécie de rusticidade chique que lhes assenta bem e as torna incrivelmente acolhedoras, para além de terem ar condicionado e uma casa de banho com todas as comodidades de um hotel. Escusado será dizer que dormi de forma profunda e repousante nesta minha estreia no glamping, antes de tomar um delicioso pequeno-almoço na chamada guesthouse, composto maioritariamente por produtos caseiros muito saborosos e de grande qualidade, preparados com amor por gente que gosta do que faz. Sem dúvida um dos pontos altos da estadia. De estômago reconfortado, era então hora de visitar a quinta e conhecer melhor a paixão dos proprietários pelos cavalos.
Para além de sete cavalos – alguns dos quais lusitanos – e respetivas cavalariças, a Quinta M temum picadeiro exterior com medidas de competição para a filha Morgane, cavaleira profissional, poder treinar, e ainda um picadeiro interior para quando está mau tempo. É possível, pois, estar tranquilamente na piscina enquanto Morgane serpenteia pelo picadeiro com o seu cavalo Basco du Feuillard bem à nossa frente em exercícios de dressage (ou “ensino de competição”).
Nessa manhã, porém, não tive essa sorte. Encontrei Morgane ainda apeada após um belo passeio pelos bem cuidados espaços exteriores da quinta na companhia deFlorence, que me mostrou as cavalariças e suas dez boxes para os cavalos, os picadeiros, a agradável zona da piscina, o terreno onde as vinhas estão a ser plantadas para produção de vinho em pequena escala, e ainda o interior de cada uma das quatro yurts, que beneficiam da mesma estrutura mas apresentam distintas decorações, vincadas pelas tonalidades pastéis (verde, azul, lilás e laranja) agradáveis e tranquilizantes.
Quando voltei ao meu quarto, tive ainda tempo para reparar nos pormenores decorativos que fazem daquele espaço circular um recanto de conforto, amor e bom gosto, como os raios de sol desenhados no teto com traves de madeira e uma clarabóia no centro da yurt, as criativas cabeceiras das camas ou as mesinhas de cabeceira igualmente em madeira – ambientes adequados muito especialmente a casais, de preferência enamorados e de bem com a vida. Quis o destino, porém, que estivesse sozinho na Quinta M, motivo mais do que suficiente para voltar a experimentar o glamping tão breve quanto possível, dessa feita a dois.
Como é a Quinta M?
“Quatro yurts inspiradas nos povos nómadas da Ásia Central que permitem vivenciar o conceito de glamping num ambiente equestre de amor e conforto.” Filipe Morato Gomes
Localização
A Quinta M está instalada num ambiente de completa ruralidade. Para apreciadores de natureza, a Reserva Natural do Paul do Boquilobo está a 11 quilómetros de distância e o Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros a pouco mais. De resto, cidades como Torres Novas e até Santarém ou Abrantes estão à mão de semear, e Lisboa fica a pouco mais de 75 minutos de automóvel. É imprescindível ter carro próprio (ou alugado).
Morada: Casal da Avó – Várzea de Baixo, 2000-451 Casével, Portugal
Quartos
Desengane-se quem pensa em acampar no sentido tradicional do termo, que o conceito da Quinta M é o glamping (acampar com glamour). No total, a quinta dispõe de quatro yurts com nomes de rios: Douro, em tons de verde, “típico das paisagens de vinhas do rio que lhe dá o nome”;Tejo, em “tons de azul com inspiração no desaguo do rio Tejo no oceano”(onde fiquei),Minho, “decorada em tons lilás e ideal para momentos a dois, e ainda a yurt Lima, em tons laranja. Estão isoladas umas das outras, e têm configuração semelhante mas toques na decoração que conferem a cada tenda um ambiente muito próprio.
De resto, as yurts, embora inseridas num ambiente rústico, dispõem de todas as comodidades de um quarto de luxo, incluindo um colchão excelente, ar condicionado e casa de banho privativa. Só não tem, por opção, televisão no quarto – e ainda bem!
Atmosfera
No dia em que visitei a Quinta M, a meio da semana de um dia frio de março, não havia outros hóspedes no “hotel”, mas imagino que o ambiente seja sempre – mesmo no verão – de absoluta tranquilidade. Estando bom tempo, os espaços exteriores convidam a deixar-se estar ou ler um livro, seja no terraço com mesas, cadeiras e guarda-sol em frente à yurt ou na área da piscina, relaxando ou observando os treinos equestres de Morgane. Com tempo menos agradável, a sala comum instalada na casa a que os proprietários chamam de guesthouse (onde se toma o pequeno-almoço) é incrivelmente acolhedora.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço é tomado numa sala luminosa de um edifício separado dos gers, em tons de bege, pontuada por mobiliário antigo misturado com toques de requinte, num espaço que é também sala de estar, espaço de convívio entre hóspedes e proprietários.
Sobre a mesa, havia sumo de laranja natural, um delicioso iogurte caseiro, compotas igualmente caseiras (adorei uma de figo), bolo de requeijão caseiro, pão caseiro (dá para notar o ponto comum? É tudo caseiro!) e ainda queijo e um prato de fruta decorado com amor. Os ovos são servidos a pedido.
Em suma, um pequeno-almoço sem descabidas extravagâncias e com produtos de altíssima qualidade. Absolutamente recomendável.
Conclusão
- Pontos fortes: o conceito, a simpatia dos proprietários, o conforto das yurts (gers) e a qualidade dos produtos servidos no pequeno-almoço.
- Pontos fracos: dada a localização, longe de quase tudo, seria útil haver serviço de refeições – pelo menos ao jantar.
- Em resumo: Um alojamento original que explora na perfeição o conceito de glamping, unindo a paixão pela Natureza e animais num espaço construído, passo a passo, com muito amor.
- Ideal para: casais; amantes de cavalos, da Natureza e das coisas simples da vida
- Preço: desde 150€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mar. 2016