Monverde – Wine Experience Hotel
Cheguei à freguesia de Telões ao final da tarde, recebido pelos últimos fogachos de um radioso sol de inverno que me aqueceu a alma e o verde-azeitona da fachada do edifício principal do Monverde – Wine Experience Hotel. Lá dentro, mais calor. Humano. De Tatiana. De Joel. De Bebiana e toda a sua equipa. Parecia ter entrado em casa de amigos de longa data.
No centro do edifício, num pátio interior da quinta transformada em hotel pelos sábios traços do arquiteto Fernando Coelho, algo desafiou de imediato o meu olhar. Do teto, coberto por uma imensa claraboia que iluminava os espaços comuns de forma magistral, uma escultura enigmática pendia num caos aparente impossível de ignorar.
A “Chuva de Folhas”, assim se chama a criação do artista Paulo Neves, homenageia os homens e mulheres cujo suor é consumido nas vinhas, todos os dias do ano, para que delas resultem os vinhos verdes característicos da região. Cada uma das folhas de videira, trabalhadas em madeira, tem um rosto mais ou menos dissimulado, sempre fechado e rude, simbolizando a dureza do trabalho nas vinhas. Um tributo bonito, num hotel incrivelmente bem integrado no ambiente vinícola envolvente, muito por “culpa”de Fernando Coelho e de um outro nome: Paulo Lobo.
O arquiteto e o designer de interiores uniram esforços para criar o Monverde, um wine experience hotel capaz de atrair não só os amantes da arquitetura, mas também casais em busca de sossego e os que procuram experiências vínicas – seja vindimar ou deleitar-se num spa com tratamentos de vinoterapia.
Tudo começou quando, depois de abandonada a ideia inicial de construir uma “casa para os amigos” que visitavam a quinta, o projeto Monverde foi ganhando forma, crescendo, reinventando-se, mesclando-se com a envolvência. Fernando Coelho queria, aliás, aproximar a vinha aos espaços do hotel; queria que a vinha – a alma da Quinta de Sanguinhedo – se visse de todos os quartos, que entrasse pelos olhos dos hóspedes onde quer que se encontrassem. Queria, no fundo, provocar sensações. E conseguiu-o, de forma incrivelmente harmoniosa, através de uma cuidada seleção de materiais, com predominância para a pedra já existente na quinta e a madeira sem qualquer tratamento, porque “a Natureza não é tratada”; através das cores escolhidas – dos verdes primaveris aos castanhos outonais; da decoração dos interiores; da interação dos edifícios com a paisagem vinícola, num diálogo entre homem e vinhedos como em poucos lugares observei. Sim, tudo no Monverde faz sentido!
Harmonia foi, aliás, a palavra que mais vezes me ocorreu enquanto Joel, que tomou as rédeas da minha chegada ao hotel, me mostrou os espaços do empreendimento. São três áreas geograficamente distintas, ditadas pelos edifícios pré-existentes na quinta, duas das quais reservadas para os quartos e uma terceira, mais central, onde se concentram as salas de estar, a receção e os serviços de restauração, e ainda o spa, a piscina e a adega que, do exterior, não tinha sequer imaginado que ali estivessem, de tal forma estão encaixados na paisagem.
Visitei a adega, cuja entrada tem dos poucos traços não retilíneos do projeto arquitetónico (qual interceção das várias pipas de vinho ali em repouso), antes de pousar a bagagem num quarto amplo e luminoso na ala nascente do hotel, de linhas retas e muito bom gosto. Quando levantei o blackout que cobria uma janela enorme com vista para as vinhas da quinta, comecei a entender melhor a ideia do arquiteto: as vinhas estavam ali, logo ali, dentro do quarto!
Já estava escuro quando caminhei junto aos bardos, em direção ao spa, para desfrutar de um banho turco e experimentar a piscina interior num ambiente de tranquilidade absoluta, potenciado pelo momento raro de ser o único hóspede a usufruir do espaço. Na altura soube a pouco, mas o jantar seria servido muito em breve (recordo um surpreendente cogumelo recheado com emulsão de dióspiro que fazia parte do menu de degustação) e não poderia por isso alongar-me em demasia, pelo que decidi entregar-me às mãos de Andressa na manhã seguinte, num retemperador banho vichy que permitiu sentir no corpo as potencialidades do spa e dos tratamentos ligados à vinoterapia.
Foi já a meio da manhã, após um excelente pequeno-almoço, que Bebiana me apresentou aos distintos vinhos verdes saídos das vinhas à minha frente, incluindo um excelente verde-tinto bebido em malga, menos adstringente que o típico “carrascão” que estava habituado a provar. A prova de vinhos é apenas uma das experiências ligadas ao vinho que o Monverde proporciona aos hóspedes mais curiosos. Desde criar o seu próprio vinho até aos tratamentos de vinoterapia, ou mesmo as atividades na vinha propriamente dita, como plantar, podar ou vindimar, não faltam por isso motivos para ir ficando, ficando, ficando. Em total harmonia com as vinhas.
Como é o hotel Monverde?
“Um hotel temático integrado com mestria na paisagem vinícola dos vinhos verdes pelas sábias mãos do arquiteto Fernando Coelho e do designer de interiores Paulo Lobo. Numa palavra: harmonia!” Filipe Morato Gomes
Localização
O hotel Monverde é um projeto de enoturismo implantado na Quinta de Sanguinhedo, freguesia de Telões, literalmente na fronteira entre Amarante e Felgueiras, que integra a denominada Rota dos Vinhos Verdes, marca turística ainda em desenvolvimento. A Rota do Românico passa também nas proximidades (a igreja de Santo André de Telões é um dos monumentos que integra a rota) e constitui um dos maiores atrativos turísticos da região.
Dito isto, imagino que pouca gente usará o Monverde como base para explorar a região; ao invés, suspeito que, tal como acontece em hotéis de charme tipo o Areias do Seixo ou Cooking and Nature, seja o hotel, ele mesmo e por mérito próprio, o destino.
Morada: Castanheiro Redondo s/n, Telões, 4600-761 Amarante, Portugal
Quartos
O hotel Monverde dispõe de 29 quartos e um apartamento, todos com design intimista e uma envolvente rural proporcionada pelo contínuo abraço visual aos vinhedos da quinta. Calhou-me um dos poucos quartos com varanda, onde sobressai uma utilização harmoniosa dos tons pastéis verde-azeitona, dos espelhos e da madeira que, em conjunto, criam um ambiente acolhedor e confortável, propício a uma noite de completo descanso.
Se há hotéis onde tudo parece estar em harmonia, numa espécie de simplicidade luxuosa, o Monverde é seguramente um deles.
Atmosfera
O Monverde é um wine experience hotel capaz de atrair não só os amantes da arquitetura, mas também casais em busca de sossego e todos os que procuram experiências vínicas – seja vindimar ou deleitar-se num spa com tratamentos de vinoterapia. Muito frequentado por estrangeiros, é umenoturismo com ambientes que permitem a socialização e, em simultâneo, proporcionar descanso e tranquilidade.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço no hotel Monverde não é buffet e, no contexto em que a unidade se insere, isso agradou-me bastante. Havia sumo de laranja natural, pães e croissants, ovos mexidos, queijo e fiambre, para além de um pequeno e saboroso prato de frutas (no caso, manga e ananás). O mel e a compota eram da Prisca e a manteiga dos Lacticínios das Marinhas, tudo produtos portugueses e de qualidade. Em suma, um pequeno-almoço saboroso e suficiente, sem os exageros de alguns hotéis de grande dimensão.
Conclusão
- Pontos fortes: o projeto de arquitetura, a harmonia entre todos os elementos do hotel e a envolvência; conforto; profissionalismo dos funcionários.
- Pontos fracos: em dias de chuva, a distância entre os edifícios pode ser desagradável, mas esse é o preço a pagar pelo magnífico aproveitamento dos edifícios pré-existentes na quinta.
- Em resumo: Um hotel vínico perfeitamente integrado na paisagem envolvente, totalmente rodeado pelas vinhas da quinta de Sanguinhedo, visíveis através dos janelões de todos os quartos.
- Ideal para: casais, famílias com crianças, amantes do vinho (verde, de preferência) e das vinhas, e todos os que se interessem por arquitetura e design de interiores.
- Preço: desde 120€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mar. 2016