Areias do Seixo
Simplicidade. Poderia ser essa a palavra-chave de um hotel que faz por passar despercebido entre a paisagem. Prova disso é que, na primeira vez que lá passei, poucos dias após a sua abertura, muitos na localidade vizinha não sabiam indicar o caminho para o Areias do Seixo. E se estranhei tal alheamento aquando o pedido de informações, depressa compreendi por que razão o hotel parecia permanecer no anonimato: da estrada é difícil ver o que se esconde para lá do pinhal e, mesmo depois de entrar na propriedade, com a porta de entrada à minha frente e quase duas dezenas de villas nas minhas costas, tudo me parece demasiado acanhado para poder dar nas vistas. Ingénuo engano.
Assim que atravesso as pesadas portas do hotel Areias do Seixo, o convite é também para atravessar um passadiço sobre água sobre a qual flutua uma pequena canoa. A tentação é de me sentar logo ali, num dos dois baloiços que voam sobre um lago interior e pairar ao sabor das notas dedilhadas num piano por Marta Alves que, em conjunto com o companheiro Gonçalo, está à frente deste sonho tornado realidade: romper com as convenções típicas dos cinco estrelas e criar um hotel onde o luxo pudesse caminhar de mãos dadas com a informalidade, com a irreverência, mas também com uma certa dose de familiaridade.
O hotel – em betão, cobre, vidro e, claro, seixos – descobre-se para lá da entrada, onde um espaço amplo alberga as zonas de convívio, o restaurante e até uma mercearia (os produtos vêm todos diretamente das hortas que rodeiam a unidade). Mas, mais importante, daqui é possível deixar o olhar passear pelos pequenos e bem cuidados jardins (que descobriria minutos depois tratarem-se dos telhados dos quartos) e, mais ao fundo, pelas dunas das quais se tem acesso ao sempre selvagem mar do Oeste.
Uma escadaria (a meio, há acesso a uma sala de audiovisual) leva-me ao andar inferior que, aproveitando o declive natural do terreno, continua a ser térreo. Ao longo de um extenso corredor, as entradas para os dez quartos, todos voltados para a arriba e uniformizados em harmonia por elementos comuns (as lareiras, as imensas casas de banho em betão afagado e envernizado, a ausência de TV) mas cada qual com o seu nome e personalidade muito própria. Há ainda uma penthouse, ampla, na qual nasceram quatro quartos, localizada um piso acima da entrada e que pude visitar um ano depois da minha primeira estada no Areias do Seixo.
Fiquei hospedada no quarto Oliveira Princesa (“Conta a lenda que dormia/Uma princesa encantada […]”) onde, quer na decoração quer nas funcionalidades, é visível em cada detalhe o reaproveitamento de materiais. Na casa de banho, sem banheira mas com dois duches circulares, a protagonista é uma oliveira dentro de uma caixa de vidro com uma claraboia aberta sobre si. Já no quarto, é a cama que mais chama a minha atenção: sobre um estrado em madeira reaproveitado do estaleiro de obras, sobressai uma colcha colorida que, contar-me-ia Marta mais tarde, fazia parte do legado de família. Na cabeceira, um painel em madeira, também aproveitado das obras, enfeitado por gastas lâminas de rebarbadoras e, ao lado,a mesa-de-cabeceira executada a partir de um velho bidão em ferro.
Dito assim, a descrição pode parecer estranha. Mas tudo neste espaço luminoso transmite harmonia. E o sono, garanto, é de princesa, qual o nome com que o quarto foi batizado.
Como é o Areias do Seixo?
“Uma unidade em que o luxo vive dos detalhes mais simples, do incansável e simpático serviço e da comunhão com a natureza”. Carla B. Ribeiro
Localização
O Areias do Seixo é como que uma joia rara muito bem guardada. Localizado próximo da povoação de A-dos-Cunhados, na direção de Santa Cruz (na rotunda a seguir a Póvoa de Penafirme é seguir o caminho para Casal do Seixo), a unidade encontra-se anichada no declive natural do terreno, entre o pinhal e a arriba que dá acesso à praia.
Morada: Praceta do Atlântico – Mexilhoeira, Póvoa de Penafirme, 2560-046 A-dos-Cunhados
Quartos
Cada quarto, seu mundo. Com apenas 14 quartos, a ideia foi sempre de criar espaços distintos, com personalidade própria, mas que partilhassem um denominador comum. Assim, à exceção dos quatro quartos da penthouse que se “pendura” sobre a zona da entrada, todos os outros são térreos, alinhados de frente para a arriba e marcados por lareiras e casas de banho XXL em betão afagado e envernizado. Há quatro quartos Love (Ouro, NhaCretcheu, Mi Ma Bô e Oxalá), cinco quartos Gold (Prata, 3 Desejos, Que Voa, 7 Sentidos e Ainda), quatro Tree (Terra, Sem Hora Marcada, Oliveira Princesa e Mar) e um quarto Land (Jasmim). Por todos os quartos há a preocupação de ostentar a reutilização de matérias, mas também a opção por materiais premium (as roupas, os atoalhados…).
Atmosfera
O tempo parece abrandar assim que se chega ao hotel de charme Areias do Seixo. A maioria dos hóspedes são casais e o ambiente romântico é a nota dominante. Os vários funcionários, vestidos informal e confortavelmente, estão sempre disponíveis para ajudar. A simpatia e a amabilidade não parecem forçadas e não é difícil, assim se pretende na veia familiar desta unidade, acabar por conhecer todos pelo nome.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O luxo também se serve à mesa. A maioria dos ingredientes é biológico e a ementa de qualquer refeição pauta-se pelo que a horta oferece (há até a possibilidade de o hóspede colher os ingredientes que servirão de base à sua refeição). Certo é que o sumo de laranja será sempre acabado de espremer e tanto o pão como os pequenos e estaladiços croissants são servidos saídos do forno.
Conclusão
- Pontos fortes: bom gosto, decoração, ambiente, serviço, vertente sustentável.
- Pontos fracos: nada de relevante.
- Em resumo: absolutamente recomendável.
- Ideal para: casais; pouco recomendado para famílias com crianças pequenas.
- Preço: desde 265€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mai. 2010