Cooking and Nature – Emotional Hotel, um hotel cozinhado com incrível bom gosto

Cooking and Nature – Emotional Hotel

Cheguei a meio da tarde à aldeia de Alvados com as expectativas em alta – o que é sempre perigoso. Entrei no hotel Cooking and Nature e comecei a cirandar pelos espaços comuns enquanto aguardava pelo check-in, e logo me saltou à vista o extraordinário design de interiores, as cores suaves e harmoniosas, os espaços incrivelmente criativos e acolhedores, tudo com a assinatura irreverente da dupla Iznogud, os mesmos que também deixaram marca no Luz Houses Charming Hotel. Ainda não tinha visto nada e já estava conquistado.

O design é mesmo uma das grandes mais-valias do Cooking and Nature, um hotel original e surpreendente, ousado e provocador e a cujo nome, não por acaso, Rui Anastácio, mentor do espaço, adicionou a assinatura Emotional Hotel. É isso que se propõe esta unidade hoteleira difícil de catalogar: proporcionar emoções.

Estava neste estado de quase êxtase quando me chamaram para ver o quarto. Subi as escadas, passei pelas paredes em tons de betão, pelos candeeiros de parede em forma de moscas gigantes, pelo corredor luminoso, até chegar ao meu quarto, uma divagação futurista que, de novo, me surpreendeu. Calhou-me uma suite em tons de branco inspirada no filme Avatar, um espaço familiar, amplo e pós-moderno, com cama redonda no meio do quarto, sofá-cama e uma banheira de linhas retas em formato open space. Tinha também uma varanda com um chuveiro exterior (pormenor delicioso!) virada aos jardins, de onde avistava as oliveiras, a piscina (imagino que utilíssima com tempo quente) e, pormenor difícil de ignorar, as cinzas de uma fogueira.

Sim, é verdade. Lá fora havia uma fogueira, com tocos de madeira em redor que serviam de bancos para as tertúlias e guitarradas que acontecem noite fora aos sábados. Uma forma de promover a socialização entre os hóspedes, preocupação notória em todos os espaços comuns do hotel Cooking and Nature. Envolver os hóspedes; provocar emoções. E envolver a comunidade.

É outra atitude de louvar. Rui Anastácio tem por objetivo envolver as valências da comunidade de Alvados na estadia dos hóspedes. Para tal, promove workshops de cerâmica artesanal, atividades no centro hípico de Alcaria e ainda uma ideia que me pareceu genial mas cuja recetividade ainda deixa a desejar: levar os hóspedes a lanchar a casa das pessoas da aldeia.

Por esta altura, estava praticamente na hora da refeição. Tinha decidido participar numa cooking lesson, cozinhando o meu próprio jantar pré-preparado pela equipa do hotel Cooking and Nature e baseado em receitas desenvolvidas pelo chef Nuno Barros. Enquanto me dirigia para a sala de jantar com umas ilhas para cozinhar, reparei que o hotel tem uma micro loja que promove produtos de qualidade de marcas como a meia.dúzia, artesanato em cerâmica de José Siphioni, a granola sem glúten da Trinca que haveria de provar ao pequeno-almoço, e ainda mel e azeite e diversos produtos gastronómicos de marca própria.

Para quem gosta de cozinhar, não se aprende muito na cooking lesson (nem é esse o objetivo), uma vez que os ingredientes estão já todos confecionados, restando ao hóspede, por exemplo, rechear a massa filo com o preparado de queijo da Serra de Aire e espinafres da horta já cozinhados, ou untar o lombo de bacalhau com a mistura de amêndoas e ervas que a equipa já preparou. Ainda assim, é uma experiência muitíssimo agradável, para desfrutar de preferência na companhia de um copo de vinho tinto, seja a dois ou num grupo de amigos.

Depois do jantar, já não saí do hotel. Passei pelo bar que usa o muito apreciado princípio da confiança, em que cada hóspede se serve e aponta o que consome, tirei o meu próprio café expresso e anotei o dito numa folha de papel ali pousada para o efeito. Estava-se tão bem que me deixei ficar algum tempo, embora sozinho (era dia da semana e a época alta ainda estava para vir), desfrutando do ambiente exterior do hotel numa noite de temperatura amena.

Escusado será dizer que dormi como um anjo, constatação redundante num hotel como o Cooking and Nature, onde todos os pormenores são evidentemente pensados (eu diria mesmo estudados).

A caminho do pequeno-almoço, por entre uma máquina de costura antiga de marca Oliva, uma salamandra de ferro verde e preta de marca Godin, troncos de madeira e cadeirões com versos de Camões nas costas, li numa placa colocada na sala de estar: “Hapiness is not a destination, it is a way of life”. É isso. Poucas vezes me apaixonei tanto por um hotel.

Localização

O Cooking and Nature – Emotional Hotel fica na aldeia de Alvados, a meio caminho de terra nenhuma, em pleno Parque Natural das Serras de Aires e Candeeiros, e pareceu-me daqueles hotéis que se transforma, ele próprio, no destino – como o Areias do Seixo ou, até, o hotel Monverde que visitei recentemente. O tipo de unidades hoteleiras que contribuem decisivamente para levar visitantes a uma aldeia, uma vila, uma região – no caso, as serras de Aires e Candeeiros, região onde a oferta de atividades ao ar livre tem atraído cada vez mais entusiastas. O hotel fica também muito perto das grutas de Mira de Aire.

Morada: Rua Asseguia das Lages 181, 2480-032 Alvados, Portugal

Quartos

A cada um dos 12 quartos do hotel Cooking and Nature está associada uma emoção. Além do quarto Futuro / Destino inspirado no filme Avatar, tive também oportunidade de conhecer o quarto Simplicidade / Meditação, a pensar no filme Comer, Orar e Amar, o ambiente de inspiração japonesa na suite Exotismo / Sensualidade e o muito francês quarto Romance / Glamour. Consta que a suite mais procurada é uma de inspiração africana chamada Aventura / Descoberta, mas essa não pude visitar por estar ocupada. As restantes são a Luxúria / Paixão, a Aconchego / Proteção, a Curiosidade / Surpresa, a Saudade / Melancolia, a Alegria / Divertimento, a Passado / Nostalgia e a Magia / Fantasia.

Seja como for, e apesar dos ambientes serem propositadamente diferentes, todos os quartos são espaçosos, confortáveis, luminosos e bem decorados. Durma onde dormir, não tem como ficar mal instalado no Cooking and Nature – Emotional Hotel.

Atmosfera

O Cooking and Nature é um daqueles hotéis com múltiplos espaços comuns a esbanjar charme, bonitos e confortáveis, com elementos decorativos de distintas proveniências que criam um todo incrivelmente acolhedor. Espaços pensados para o bem-estar e para a socialização entre os hóspedes, e onde se respira criatividade, bom gosto e design. No fundo, um hino à arte de saber viver.

Quanto aos hóspedes, são de eclética proveniência mas, embora me tenha cruzado com um casal português no Cooking and Nature, o hotel é mais frequentado por hóspedes estrangeiros do que nacionais, porventura consequência da diferenciação associada aos preços salgados.

De resto, se viaja com crianças, saiba que o Cooking and Nature – Emotional Hotel tem uma sala com sofás, uma mesa, lápis para pintar e uma televisão – a sala é insonorizada para as crianças poderem fazer todo o barulho do mundo sem incomodar os outros hóspedes.

Pequeno-almoço (café da manhã)

Um balcão recheado de coisas boas, a começar pela granola e pelo delicioso sumo natural multifrutas. Havia ainda cereais, iogurtes, queijo fresco e requeijão, croissants, pão fatiado e doces, e ainda fruta à disposição (no caso, kiwi, banana, maçã, laranja, pera e ananás). Tudo isso numa sala lindíssima e luminosa, onde os candeeiros são regadores e escorredores de massa. No fundo, uma bela forma de começar o dia, num ambiente inspirador e com produtos de qualidade.