Vidago Palace Hotel
Passei os grandes portões de ferro do Vidago Palace Hotel como se passasse para outro tempo. A grande alameda rasga um bosque centenário, plátanos, magnólias, pinheiros, cameleiras, azevinhos, e desemboca numa monumental fachada ocre avermelhada, cheia de branco das inúmeras janelas e portadas que a correm. De repente, poderia estar numa estância termal do império austro-húngaro. Mas estou numa antiga estância termal portuguesa, mandada construir sob o signo da monarquia e inaugurada pela novíssima república: o Vidago Palace Hotel foi inaugurado a 6 de outubro de 1910, um dia depois do dia programado, 5 de outubro. Ao invés do rei D. Manuel II, foram os representantes republicanos a fazer as honras da casa.
Cem anos depois, a 6 de outubro de 2010, novamente a república esteve no Vidago Palace Hotel. Na sua reinauguração teve direito a visita do primeiro-ministro português, José Sócrates – mas eu, ao invés dele, passei o dia inteiro no hotel e à noite encostei a cabeça num dos seus quartos. Pude, assim, experienciar o Vidago Palace Hotel, versão cinco estrelas agora e entrada direta no restrito clube dos The Leading Hotels of the World.
Depois do auge e da decadência, a reinauguração do Vidago Palace Hotel foi um renascer. Nunca ao longo das últimas décadas se pareceu tanto como o original, dizem os responsáveis. Tenho de acreditar. Até porque o ouvi de antigos clientes: “A sensação na mata quando vi o hotel igual… Julguei que ia ver tudo moderno, do Siza Vieira” (o arquiteto é responsável pela reabilitação exterior do Palace). A mesma pessoa que ao ver a escadaria dupla, de madeira, que parte da entrada, se recordou de “brincar às caçadinhas” nela e da outra escadaria que descia para o que chamavam “noite”.
Não tenho qualquer imagem do antigo hotel, mas ouvi quem lamentasse a substituição da madeira do salão nobre, o fim dos óleos nas paredes e da antiga piscina em “8”. Não foi uma remodelação a que sofreu o Vidago Palace Hotel, foi uma reconstrução. Só com ela se pôde regressar ao espírito original e devolver-lhe o esplendor fin de siècle, como símbolo de uma maneira de viver há muito perdida, feita de pormenores e detalhes.
Não são estes que vejo quando entro, esmagada pelo fausto discreto do lobby. Este segue nos espaços comuns, com dourados e trabalhos em gesso, tetos altos e colunas grandiosas, lambris e rodapés rebuscados, estatuária e tapeçarias de Beiriz, mármores venezianos e nacionais. O salão nobre, agora transformado em restaurante, e a sala de pequenos-almoços têm um pé direito descomunal quebrado com mezanines-varanda a toda a volta. Mais refreados nas ambições das alturas, a sala de fumo, o bar e a Sala Primavera, com papel de parede e painéis de madeira, preenchem-se de mobiliário eclético ao estilo Belle Époque, com cores quentes e tecidos sumptuosos. Há elementos originais na estrutura arquitetónica, mas também na decorativa – com peças que foram remontadas – e até no mobiliário – os poucos que resistiram estão em destaque ou dispersos entre outras que recriam o princípio do século XX.
Do princípio do século XXI ficará para a história o novo spa termal desenhado por Siza Vieira nas traseiras. O acesso é por uma galeria que une os dois edifícios contratantes – a arquitetura clássica versus as linhas direitas assinatura da contemporaneidade. A cor exterior prolonga-se. Lá dentro avanço entre mármore, que se abre constantemente à paisagem: ginásio, hamman e sauna, vitality pool, salas de tratamento e piscina interior – do lado de fora, a exterior entre relvado verdíssimo.
Como verdíssimo é o exterior deste hotel. Um parque luxuriante, onde o antigo balneário termal mantém o esplendor arquitetónico de mármores e colunas generosas e é um centro de congressos e o antigo espaço de engarrafamento da água Vidago é o Club House com um alpendre fantástico a convidar ao ócio – entre tacadas no ampliado campo de golfe. Agora tem 18 buracos e uma vista ímpar, sobre o parque e sobre Trás-os-Montes. Acabo o dia no terraço que rodeia a frente e os lados do hotel, cheio de mobiliário em verga. E mais uma vez, volto ao passado.
Como é o Vidago Palace Hotel?
“O antigo balneário termal da aristocracia e burguesia é agora um moderno hotel spa. Sem perder o requinte e o fausto do passado, mas com todos os confortos do presente.” Andreia Marques Pereira
Localização
O Vidago Palace Hotel está a pouco mais de uma hora do Porto, (quase) sempre por autoestrada. Primeiro a A3 até à convergência com a A7 (Guimarães); seguindo a A7 até à A24 que se toma em direção a Chaves até à saída para Vidago. O Palace está bem no centro, no Parque de Vidago.
Morada: Parque de Vidago, 5425-307 Vidago
Quartos
Fiquei num quarto na mansarda do edifício e o que eu gosto de mansardas! O único problema foi a vista, difícil de alcançar. De resto, o quarto era muito, muito confortável, com mobiliário à medida (recriando a atmosfera original do hotel) e a casa de banho (com luz natural) retro, incluindo na louça sanitária (gostei particularmente da banheira, com pés e tudo). Vi alguns dos quartos e todos seguem esta linha, cada qual com a sua cor (as da natureza circundante: castanhos, azuis, vermelhos ou verdes como o meu). Não são muito grandes e tal deve-se aos constrangimentos arquitetónicos da fachada – as suites sim, e podem incluir sala de estar e de vestir. Há ainda quartos no andar -1, estes com pátios privativos. No total, são 70 os quartos do Vidago Palace Hotel.
Atmosfera
A tranquilidade do Vidago Palace Hotel é a sua razão de ser. Herdou essa vocação do antigo balneário termal (100 hectares de parque e floresta, povoados de pavilhões de água mineral) como herdou o requinte discreto por onde quer que olhemos. E se estamos em cenário Belle Époque a refletir-se em toda a decoração, contamos com todas as vantagens modernas devidamente camufladas para que nada crie ruído nessa ilusão, seja nos restaurantes, nos bares, na sala de fumadores – exceção na biblioteca, que tem equipamento multimédia. A Cave de Vinhos, literalmente na cave, traz uma atmosfera contemporânea sem cedências na sofisticação para proporcionar o binómio de tapas e vinhos (sobretudo do Douro e Porto). O campo de golfe parece ajudar a essa combinação de tranquilidade e requinte que se respira no hotel
Pequeno-almoço (café da manhã)
É um deslumbramento tomar o pequeno-almoço sob a cúpula de vidro entre ferro forjado como que num jardim de inverno. E o café da manhã não desilude. Servido em buffet, é continental e inglês – ovos mexidos e bacon convivem com compotas caseiras, pastelaria e fruta; e ainda há a possibilidade de escolher à carta.
Conclusão
- Pontos fortes: recuperação de um património histórico, a coerência da decoração que é uma réplica do início do século XX, o parque.
- Pontos fracos: nada de relevante.
- Em resumo: perfeito para descansar, para relaxar com a “água”, para golfistas.
- Ideal para: casais, para amantes da Natureza e de viagens no tempo.
- Preço: desde 135€ duplo · Ver preços
- Insígnia:The Leading Hotels of the World