Hotel Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo
A estrada a desenrolar-se numa lentidão de curvas, de um lado amparada por colinas arborizadas, do outro sem resguardo que nos protegesse do vazio. O conta-quilómetros e o relógio em desacerto, um a mostrar que o Pinhão não estava longe, outro a marcar minutos que dariam para percorrer maior distância em orografias mais lineares.
Mas o Douro é assim mesmo: essa vertigem que exige vagar; a pressa e o stress despidos ao pé da água para, montes acima, mergulharmos no mar de vinhedos com todos os sentidos despertos. O odor intenso das estevas a entrar pela janela aberta do automóvel, um sino ao longe, os olhos a arrecadarem detalhes: um vislumbre do rio, jogos de sombra e luz, alvas quintas na distância. Uma curva mais, e o nosso destino ali, assinalado por um portão largo, laranjeiras em flor, algumas oliveirasn e um parque infantil onde as crianças se dispersam.
Na receção do Hotel Rural Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo perguntam-nos sobre a estrada, que os estrangeiros (e alguns citadinos mais arreigados) acham “perigosa”. Exageros de gente habituada a paisagens domesticadas. O caminho, já se disse, exige vagar, mas não é para abrandar que aqui vimos?
Por mim ficava já ali, no alpendre do hotel, olhos fechados a ouvir silêncio, apenas quebrado por um trinado ocasional, e murmúrios noutras línguas, indecifráveis. Só depois o livro e a vontade de uma bebida fresca, que o tempo é de calor. Foi leitura de pouca dura: a piscina tão convidativa tinha sido já descoberta pelas crianças. Quem resiste a tão insistentes apelos? Quem resiste a um mergulho, na companhia das suas gargalhadas felizes?
O quarto cumpria o desígnio para alojar quatro, sem atropelos. A decoração é de pompa e circunstância, um pouco démodé, com móveis sólidos de madeira escura, reposteiros pesados e tapetes de Arraiolos a proteger o chão – confesso que não é em sítios assim que me sinto mais em casa, mas isto sou eu, avessa a padrões florais, que se repetem pelos espaços comuns, do bar vínico à sala de leitura.
O jantar foi debaixo da ramada, iluminado pelo lilás do céu. Acepipes vários, uma sopa que os miúdos esgotaram até ao fundo do prato, um arroz de pato que ainda não esqueci, tudo isto acompanhado por vinho que ali é da casa, literalmente: um ótimo Quinta Nova tinto.
Depois de um sono repousado, o duche matinal na casa de banho revestida a mármore claro – o corpo a aprontar-se lentamente para a jornada, atento a uma sinfonia de pássaros, há muito despertos. À energia das crianças demos rédea solta, em caminhadas pelas vinhas que descem em socalcos até ao Douro. Há quem ali se dedique ao geochaching, nós limitamo-nos ao esconde-esconde entre as folhas. Antes da despedida sobrou ainda tempo para uma breve visita à adega, e para um brinde com um cálice de Porto: ao Douro e aos recantos preciosos que acolhe.
Como é o Hotel Rural Quinta Nova Nossa Senhora do Carmo?
“Uma magnífica varanda sobre o Douro, onde estamos rodeados por aquilo que a região tem de melhor: vinhas e vinhos”. Ana Pedrosa
Localização
Situada no coração do Douro, a doze quilómetros do Pinhão e a dezoito de Sabrosa, o Hotel Rural Quinta Nova de Nossa Senhora do Carmo é um bom ponto de partida para explorar a região, se a estadia se quiser destinada a essas andanças. Sabrosa é uma vila simpática, de casas senhoriais. Do Pinhão pode ir de comboio até ao Pocinho, naquele que é o troço mais bonito da linha do Douro.
Se preferir deixar o automóvel em casa, pode também chegar até ao hotel rural de comboio, partindo do Porto até ao apeadeiro de Ferrão, de onde será feito o transporte para a quinta. Mas, se a ocasião for tão especial que justifique a extravagância, poderá também chegar de helicóptero, que a Quinta Nova tem heliporto à disposição.
Morada: Quinta Nova, 5085-222 Pinhão
Quartos
O turismo rural da Quinta Nova conta com onze quartos, divididos entre as tipologias standard, superior e premier, categoria que conta com um quarto com cama de dossel e outro com camas ditas “de berço”. Contrariando o que é habitual, aconselharia os quartos standard, uma vez que estes têm acesso direto para o alpendre, onde espreguiçadeiras e sofás nos permitem passar longos momentos de tranquilidade.
Atmosfera
Além de outro casal com filhos, português, todos os hóspedes com quem nos cruzamos eram estrangeiros. Coincidência, ou talvez não, foi com a família portuguesa que partilhámos a mesa do pequeno-almoço; com os outros hóspedes tivemos sempre horários e atividades desajustadas. Isso permite sentir que temos os espaços comuns por nossa conta, o que amplia a sensação de isolamento e paz.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Sem ser notável, o buffet disponível das 08:30 às 10:30 cumpre a sua função de nos alimentar bem nas primeiras horas do dia. Há queijo, fiambre e manteiga a acompanhar pão e bolo caseiro, bem como vários tipos de doces, da marca Quinta Nova, elaborados com os frutos da propriedade, do figo à uva touriga nacional, da cereja ao marmelo. Há ainda fruta fresca, iogurtes e sumos naturais, além da habitual oferta de chá, leite e café.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização, num recanto particularmente belo do Douro. A possibilidade de usufruir de um lugar muito sossegado, onde há sempre espaço para estarmos a sós.
- Pontos fracos: o serviço, demasiado lento e ineficiente para a categoria do alojamento.
- Em resumo: recomendável para quem precise de se isolar do mundo, seja qual for o motivo.
- Ideal para: quem quiser passar uns dias verdadeiramente relaxantes, num cenário único.
- Preço: desde 48€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: jun. 2010