Hotel Astória
À sua frente corre o Mondego, o dos “formosos campos” que nunca ficaram enxutos das lágrimas de Inês de Castro; nas suas traseiras, corre a Rua da Sofia, uma das artérias comerciais mais conhecidas de Coimbra. O Hotel Astória faz a esquina – dobra-a suavemente num extremo à laia de torre que termina em cúpula parisiense.
É uma peça arquitetónica preciosa no seu estilo Arte Nova. Quando abriu, em 1926, foi o acontecimento social do ano na cidade e passou a ser o grande hotel de Coimbra – ainda se recorda o discurso que Humberto Delgado proferiu de uma das suas varandas durante a campanha presidencial de 1958. Quase um século passado e praticamente tudo se mantém igual – literalmente. E neste caso não é uma virtude. A aura está lá, mas a realidade com que me confrontei não se compadece com glórias passadas: o mobiliário é antigo mas está velho, o edifício também, e nem todos os pergaminhos do mundo o conseguiriam esconder.
Gostei do elevador do hotel, onde se chega depois de passar o lobby de mármore. Encantador e antigo, de madeira e com bancos – sentei-me só porque sim, pelo prazer pueril de andar de elevador sentada. Foi uma experiência de outros tempos bem vivida – funciona perfeitamente e é das poucas heranças do passado que tem tido manutenção (mesmo os radiadores antigos estão em maus estado). Porque saio do elevador e vejo os corredores a precisarem de tinta, as paredes tatuadas de rachadelas; no rés-do-chão, circulo pelos salões inegavelmente bonitos mas cobertos por uma inexorável decadência. É fácil perceber que já terão sido espaços sofisticados, frequentados pela alta sociedade. Agora tudo está gasto no Hotel Astória, como se numa casa de família que entretanto perdeu os rendimentos mas se continua a agarrar a uma ideia de grandeza.
Entro no Bar 21 e à primeira vista é fácil gostar. A arquitetura é elegante, com o seu pé direito alto e a mezzanine que o quebra num dos lados; o soalho e as paredes apaineladas emprestam um ar devidamente Art Déco e confortável; as ilhas de sofás e poltronas sobre tapetes vermelhos convidam à conversa. A sala de pequenos-almoços segue a mesma linha de painéis nas paredes e grandes janelões a transbordarem de luz.
Imagino como seria o Astória com um trabalho de restauro. Que teria de ser uma profunda remodelação nos quartos, claramente desajustados aos dias de hoje. A matéria-prima está lá para voltar a fazer do hotel uma referência em Coimbra e no país. Um hotel histórico, sem que tal seja eufemismo para velho; um hotel onde a história tenha charme e não seja apenas uma sombra pesada.
Como é o Hotel Astória?
“Hotel histórico de Coimbra, vive mais do peso da história do que da sua patine. Poderia ser um hotel de charme mas é apenas antiquado.” Andreia Marques Pereira
Localização
O Hotel Astória conta com uma localização privilegiada em Coimbra, em frente ao rio na entrada para o centro histórico e comercial. Além disso, está ao lado da Ponte de Santa Clara, que dá acesso à outra margem e a dois passos da Estação Central.
Morada: Avenida Emídio Navarro 21, 3000-150 Coimbra
Quartos
Ao todo, o Hotel Astória oferece 62 quartos (e suites). Fiquei num quarto standard virado ao Mondego e essa era a sua maior qualidade – ainda que a pequena varanda de ferro forjado não oferecesse qualquer segurança: espreitei-a a medo, pensei que poderia cair a qualquer momento. O quarto, de tetos altos e mobiliário antigo e espartano – escasso e descuidado -, era austero e pouco acolhedor, com a luz desassombrada dos quartos antigos. A casa de banho alinhava pela mesma bitola e nem a banheira antiga lhe dava charme – simplesmente antiquada e desconfortável.
Atmosfera
Eclética, mas com tendência para uma faixa etária alta. É tranquilo e relaxado na sua decadência geral.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Pago (e bem) à parte, é frugal e sem nada de relevante. Vale pelo salão onde é servido, mas não se espere muito do café da manhã.
Conclusão
- Pontos fortes: localização, arquitetura.
- Pontos fracos: a (má) conservação; falta de estacionamento; Wi-fi apenas nas zonas públicas.
- Em resumo: é um hotel para quem tenha curiosidade pela história, não para quem procura conforto – sobretudo nos quartos.
- Ideal para: quem quer visitar Coimbra (fica bem localizado) e não pensa passar muito tempo no hotel.
- Preço: desde 45€ duplo · Ver preços