Herdade do Amarelo
Cheguei à Herdade do Amarelo à hora do calor – e da sesta, no Alentejo. Era domingo e suávamos em bica. O ar desgrenhado deve ter impressionado de tal maneira o anfitrião, Fernando Almeida, que este nos indicou a piscina mesmo antes de nos fazer o check in. Uma forma de receber desarmante, que teria réplicas ao longo da curta estadia. A sete quilómetros das praias de Vila Nova de Milfontes, aquele mergulho é capaz de nos ter salvo a vida.
A zona da piscina na Herdade do Amarelo é um lugar envolvente, com uma imponente parede de pedra vinda diretamente do olival e desafogadas vistas para a Serra de São Domingos, paisagem que poderá ser apreciada de qualquer dos sete quartos. Era daqueles dias de verão em que não corre a mais leve brisa e só nos conseguimos aguentar “de molho”. Ali passámos uma belíssima tarde, entre mergulhos e ensaios de passeio de bicicleta.
O calor era tal que procurámos de seguida um lugar à sombra. Estivemos recolhidos na sala de pequeno-almoço, onde a decoração mistura o mourisco, indiano e alentejano. Estranhamente, fica tudo a condizer, e não se pense que a Herdade do Amarelo se assemelha àquelas lojas de bricabraque onde os objetos estão numa desordem total. Aqui não. Chocalhos de vacas convivem alegremente com eixos de rodas de carros de bois antigos. Cores garridas como sedas indianas rivalizam com espelhos a imitar o estilo moçárabe.
Em Vila Nova de Milfontes petiscámos uns caracóis na Tasca da Vila e quando regressámos à Herdade do Amarelo já o sol começava a brincar ao esconde-esconde. Ficou mais fresco e deambulámos por ali de alpendre em alpendre, de fonte em fonte. Como bom anfitrião, Fernando Almeida resolveu brindar-nos com um jantar de produtos locais. Coisas simples, que caem bem na nossa costela alentejana. Entrámos com paio de porco preto e queijo da região e saímos com uns deliciosos secretos de porco preto acompanhados de uma salada mista da horta, regada com azeite produzido na herdade.
O resto do serão foi passado à conversa com o proprietário, que nos explicou que o sossego do lugar tem sobretudo a ver com a paz que ele encontrou na Herdade do Amarelo. Para trás ficou uma vida cheia de carros descapotáveis e casas espalhadas pelo país. Hoje os seus olhos brilham quando nos diz que cortou pessoalmente os azulejos espalhados pela casa, que plantou o olival ou que nas horas vagas vai às ostras no Rio Mira.
A experiência de dormir num sítio destes é esta interação com os proprietários, que acabam por se expor muito mais que o dono de uma cadeia de hotéis, que em momento nenhum nos aparece para dizer que provemos o bolo de iogurte do pequeno-almoço. Pormenores como este fazem toda a diferença. Ficou por usar a banheira de hidromassagem que a varanda do nosso quarto (o Taipa) ostentava.
Depois de dormirmos o sono dos justos tomámos um generoso pequeno-almoço e, antes do regresso a Lisboa, ainda visitámos o Spa. No hamman ao ar livre apetece ser massajado até à medula óssea. Ali são desenvolvidas massagens ayurveda e drenagens linfáticas, entre outras opções. Infelizmente não nos pusemos nas mãos da massagista, o que poderá ser sempre uma boa desculpa para voltar à Herdade do Amarelo.
Como é a Herdade do Amarelo?
“Se pudéssemos rebatizar este lugar, chamar-lhe-íamos Herdade da Água. Ouvimo-la a jorrar por todo o lado, o que, no Alentejo, à torreira do sol, tem um outro significado.” Maria João Veloso
Localização
A sete quilómetros de Vila Nova de Milfontes, a Herdade do Amarelo fica na Estrada Nacional 532, entre São Luís e o Oceano Atlântico. De um lado a Serra de São Domingos, do outro a planície alentejana a roçar no mar.
Morada: Apartado 5338 – EN. 532 – km 7, 7630-440 Vila Nova de Milfontes
Quartos
Ao todo são sete quartos com personalidade própria. A decoração é suave, mas remete-nos para as arábias ou para outros lugares distantes sem uma geografia concreta.
Três suites – “quartos românticos” – Pedra, Taipa e Amaranta. Denominador comum? Uma banheira de hidromassagem que fará as delícias numa estadia a dois. As famílias não foram esquecidas neste espaço. Para elas há quatro quartos familiares. Qualquer um deles, além da cama de casal ou dupla, dispõe de duas camas individuais na mezzanine.
Atmosfera
Quando se faz da viagem um vício e se procuram lugares especiais de corrida noutros continentes, ficamos ainda mais surpreendidos por encontrar em Portugal um lugar onde apetece ficar em lua-de-mel o resto das nossas vidas. No meio do nada, a Herdade do Amarelo é um oásis de puro deleite feito de pormenores. A decoração sóbria das arábias e um hamman a céu aberto, para pôr a alma a relaxar, fazem da Herdade do Amarelo o lugar ideal para nos evadirmos da vida citadina.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Ao pequeno-almoço molha-se o pão alentejano no azeite da casa. Além da manteiga, há queijos locais e enchidos, a que se juntam croissants do tipo francês, bolo caseiro acabado de fazer e fruta da época vinda diretamente dos pomares da propriedade.
Conclusão
- Pontos fortes: A paz, a ligação com a Natureza, os caminhos pedestres. Há três definidos: o percurso do Corgo, que acompanha o rio homónimo, o dos animais, onde poderá ser pastor por um dia, e o percurso do Olival, que nos leva como o nome indica ao encontro das árvores que produzem o azeite.
- Pontos fracos: Nada a assinalar.
- Em resumo: para românticos inveterados, amantes da natureza e pessoas que gostem de paz e sossego.
- Ideal para: Luas-de-mel, celebrações, festas e casamentos.
- Preço: Desde 130€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: jul. 2013