Lost Lisbon – Cais House
Não foi difícil encontrá-la, apesar de o local ser algo inesperado. A Lost Lisbon está instalada num edifício pombalino quase integralmente tomado pelos escritórios de uma empresa de transitários e agentes de navegação. Precisamos de subir as escadas, até ao terceiro andar, deixar para trás os olhares desinteressados dos que continuam atrás da secretária a trabalhar (às tantas nem olharam nada, porque eu é que não tinha como não reparar nas paredes envidraçadas e em quem trabalha lá dentro) e chegar, então, à porta da guesthouse. Mal ela se abre, é um mundo novo que nos aguarda. João abre-me a porta e, em vez de uma Lisboa perdida, como sugere o nome, apetece-me dizer que achei que esta Lost Lisbon é um achado.
João Pedro Barros, arquiteto, 26 anos, comprou um apartamento de 300 metros quadrados para viver. Era demasiado para si só e, nessa altura, já ele estava envolvido num projeto maior do que a sua casa: a ambição de criar uma rede de apartamentos com uma casa-sede, onde recebesse turistas e promovesse um estilo de vida em comunidade. E foi no Cais do Sodré, num edifício pombalino com tetos altos e vista para o Tejo, no centro mais centro da movida lisboeta, que acabou por instalá-la.
Convidou amigos designers e arquitetos para ajudar na recuperação dos interiores e na decoração dos quartos, e quatro meses depois estavam sete quartos prontos a receber visitantes, cada um deles com uma decoração personalizada a aludir ao tema escolhido: sete quartos, sete colinas.
Na Lost Lisbon não há dormitórios mas também não há suites. Há quartos duplos espaçosos, há casas de banho partilhadas e há uma cozinha que pode ser usada por todos. E, agora, depois de ter comprado o apartamento ao lado, João está a gerir uma guesthouse de 600 metros quadrados que ocupa todo o terceiro andar do edifício, com 13 quartos, a maior parte deles muito amplos e luminosos. Depois das sete colinas, cujos quartos estão virados para a frente do Tejo, apareceram mais seis quartos virados para a movimentada rua do Arsenal e com nome de bairros lisboetas.
A ideia, explicou-me João na troca de mails que antecedeu a minha estadia na guesthouse Lost Lisbon, era reunir no mesmo espaço pessoas e lugares de todo o mundo, levando à partilha de experiências, possibilitando assim a quem vier de fora “viver como um lisboeta” e a quem vive em Lisboa fazer parte de uma comunidade internacional.
E eu posso dizer que experimentei viver como uma lisboeta. Fiquei no quarto do Castelo, com vista para o novo cacilheiro decorado por Joana Vasconcelos, e onde passei uma noite bem tranquila e repousante.
O quarto é luminoso, o mobiliário simples, quase espartano. Mas onde nada falta. “Andamos pelas lojas de segunda mão a recuperar relíquias”, explica-me João.
Enfiei-me no pouf, elevando as pernas para o fundo da cama, portadas abertas a sentir a brisa. O dia tinha sido longo e extenuante, e soube-me pela vida aquela pausa antes de descer para jantar. A utilização da cozinha (uma possibilidade que raramente desdenho quando me apetece conhecer viajantes e poupar algum dinheiro) fica para uma próxima vez. Tinha um espaço novo para ir experimentar – o renovado Mercado da Ribeira fica ali ao lado.
Como é a Lost Lisbon – Cais House?
“É uma guesthouse num edifício pombalino que permite a quem vem de fora ‘viver como um lisboeta’ e a quem vive em Lisboa fazer parte de uma comunidade internacional”. Luísa Pinto
Localização
A Travessa de Corpo Santo une a movimentada rua do Arsenal com a avenida Ribeira das Naus e está a dois passos do principal terminal de transportes rodoviário, ferroviário e fluvial do Cais do Sodré. O Terreiro do Paço, o Rossio e a Baixa-Chiado ficam a uma curta distância a pé; o Bairro Alto, idem-idem, aspas-aspas. O Parque das Nações à distância de um metro, o Mosteiro dos Jerónimos de uma curta viagem de autocarro. O carro não é preciso para nada.
Morada: Travessa do Corpo Santo 10, 3 Esq, 1200-131 Lisboa
Quartos
São 13 quartos, de várias dimensões. São quase todos duplos, mas também há triplos. E são suficientemente espaçosos para receber a cama de uma criança. A decoração é quase sempre estilo vintage, mas há alguns quartos de apontamentos bem modernos e urbanos. O quarto que experimentei, virado para a Avenida da Ribeira das Naus, permitiu-me repouso total e absoluto. E deu-me uma luminosidade incrível sobre o Tejo às primeiras horas da manhã.
Atmosfera
É descontraída e familiar. É natural que o anfitrião tenha amigos por perto e, quando passamos pela sala, perceba se estamos com vontade de nos juntar para uma amena cavaqueira.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Na Lost Lisbon, qualquer semelhança com os hábitos que tem em casa não será pura coincidência. É um pequeno-almoço versão faça-você-mesmo com tudo o que tem à disposição (e eu não dei por falta de nada). O pão é fresco, há manteiga, queijo e fiambre a rodos, laranjas para fazer sumos, iogurtes, cereais, fruta e uma bela máquina de café.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização, a atmosfera descomprometida e familiar, a simpatia no acolhimento.
- Pontos fracos:a entrada algo fria, por um edifício de escritórios, e a ausência de um elevador.
- Em resumo:recomendável para quem quer ficar numa localização privilegiada para explorar Lisboa e, ao mesmo tempo, conhecer gente de todo o mundo.
- Ideal para:viajantes individuais, mas também famílias com crianças – os quartos são espaçosos para receber berços e terceiras camas, e os espaços comuns são child-friendly. Os gatos, Eça e Queiroz, também.
- Preço: desde 35€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mai. 2014