Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa, um hotel de sal e de areia

Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa

Foi sempre um mistério aquele pedaço de terreno baldio na avenida do Furadouro que corre a praia de frente. De um lado vivendas, do outro o areal que era enorme. Acompanhei muitos anos do Furadouro, a praia onde as gentes da minha cidade ia a banhos aproveitando os mais ínfimos raios de sol e a proximidade. Fui com os meus pais, depois com amigos e mais tarde já só ia à noite para variar dos locais habituais. Grande parte da minha infância e adolescência passaram-se na praia do Furadouro, entre Aveiro e o Porto; depois as visitas foram tornando-se mais escassas e agora vejo na televisão como os invernos, e este outra vez, estão a comer vorazmente os areais que outrora me pareciam praticamente infinitos.

Quando estive no Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa, pouco depois da sua abertura, em 2011, já a praia era uma sombra do que fora. A povoação, essa, havia crescido, muito, em altura e na conquista de terrenos: a linha de edifícios rentes à praia já tinha varrido muitas centenas de metros a Sul. E aquele cantinho que sempre me intrigara – lembro-me que chegou a constar que daria lugar a um piscina para os prédios que mais atrás se construíram – dera lugar a um edifício moderno, de linhas retas e muita transparência. Não havia mais buracos na avenida cheia de casas peculiares – um clássico, para mim, a de azulejos com o cão de porcelana no alpendre a olhar o horizonte.

Também eu fiquei a olhar esse horizonte do quarto que me calhou no Furadouro Boutique Hotel. Como todos os que ficam virados para a frente, tinha varanda a acompanhar toda a largura do quarto (enorme porta-janela) e aí fiquei a olhar o Atlântico. À noite, apenas a ouvi-lo e a sentir o ar salgado, depois que os últimos veraneantes finalmente deixaram de percorrer o passeio à beira-mar. Não eram muitos: o fim de semana de julho estava particularmente feio e, se não choveu, esteve perto disso.

A praia ficou logo posta de parte, portanto – sem que viesse qualquer mal ao mundo; ao meu, pelo menos, que passo bem sem ela. E, além do mais, o hotel dá entretimento q.b.. Por exemplo, no quarto esperava-me um pão-de-ló de Ovar com uma pequena garrafa de vinho do Porto que não duraram muito. E no bar, paredes (de vidro, claro) meias com o passeio (onde muitos transeuntes paravam a observar e espreitar o novo hotel), tomei um chá acompanhado por mini sanduíches, biscoitos e petit-fours (incluindo brigadeiros da minha perdição).

Deixando a mesa, o andar -1 promete uma parada hedonista para quem aprecia o dolce far niente. Entre piscina (com claraboia a inundá-la de luz), sauna e banho turco, ginásio, cromoterapia e massagens não há stress que resista. Eu, entre tratamento para pernas e pés cansados, uma massagem de velas e um banho de especiarias, fiquei pronta para tudo.

O “tudo” seria dormir o sono dos anjos, claro, embalada pelas ondas. Mas valores mais altos se levantaram e nem o apelo do restaurante (Cardo) funcionou. A minha sobrinha nasceu nesse meu fim de semana com vista impoluta sobre o mar. Ela vê-o, cheira-o e ouve-o todos os dias. E eu gosto que seja assim.

Localização

A praia do Furadouro fica em Ovar, meio caminho entre o Porto e Aveiro. A A29, que une as duas cidades, tem saída quase direta para a praia. Além do Furadouro, a zona tem outras praias conhecidas, como Esmoriz, Cortegaça ou Maceda, além de uma praia na ria de Aveiro, o Areinho, mesmo à entrada do Furadouro.

Morada: Av. Infante D. Henrique 734, 3880-355 Ovar

Quartos

São 27 os quartos do Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa, entre três suites, quatro superiores, três executivos e um adaptado a mobilidade reduzida (entre as comodidades, uma cama elétrica), divididos entre rés-do-chão e primeiro andar. Eu instalei-me num standard com vista de mar. Que aqui faz toda a diferença. Porque a outra vista, a das traseiras, eufemisticamente chamada “de jardim”, é para um espaço exíguo confinado por três prédios que encerram completamente o horizonte – uma situação mais habitual num hotel citadino do que de praia. Esta duplicidade reflete-se nos preços e nas amenities oferecidas (as suites e executivos são quase todos nas traseiras).

O meu quarto no primeiro (e último) andar era um oceano de luz, que podia transformar-se em penumbra com os reposteiros. O ambiente é luminoso, portanto, acentuado pelo uso de materiais como o mármore no chão, os lacados e a madeira com acabamentos rústicos. A decoração inclui pormenores como fotos a preto-e-branco da região e “pedras” de cerâmica. A casa de banho, como todas no primeiro andar, tinha clarabóia, e a cama quatro almofadas (o hotel oferece um menu de nove).

Atmosfera

O Furadouro Boutique Hotel Beach & Spa é um hotel solar, claro e clean, com muito mobiliário desenhado à medida mas com surpresas, como os candeeiros transparentes modulares vindos de uma câmara municipal da antiga República Democrática Alemã (RDA) que estão na receção, sobre duas secretárias à laia de balcão. Tanto encontramos aparadores de ferro negro e filigrana, como mesas e sofás império ou dois caranguejos de Rafael Bordalo Pinheiro (que ao invés do clássico laranja se pintam de verde e azul). Um recanto de biblioteca no primeiro andar tem um toque mais rústico. No fim de semana em que estive no Furadouro Boutique Hotel não estiveram dias de praia, mas posso imaginar o vaivém quando o sol aperta e os rastos de areia no mármore da entrada.

Pequeno-almoço (café da manhã)

Servido em buffet, o café da manhã é farto e oferece os itens típicos de um pequeno-almoço continental, aventurando-se um pouco pelos sabores britânicos.