Lisbon Short Stay
Cheguei à Rua dos Sapateiros quando o relógio marcava seis horas da tarde. Toquei à campainha e atravessei a porta do imponente edifício de pedra que alberga a Lisbon Short Stay. Assim que dei uns passos e dobrei a esquina do hall de entrada, a receção ficou ao alcance do meu olhar e a surpresa foi total. Nunca imaginaria tamanha loucura visual escondida num edifício daqueles. Mas eu gosto de ser surpreendido e aquele delírio criativo caiu-me bem. Estava dado o mote para a minha estadia na Lisbon Short Stay. Pouco depois, estava à conversa com Filipa e a pernambucana Roberta pelos corredores do hotel.
As duas fizeram as honras da casa, mostrando-me demoradamente os recantos dos edifícios (os apartamentos ficam situados num prédio adjacente), com passagem pelas áreas comuns visualmente provocadoras e pelos estúdios e apartamentos completamente distintos entre si.
Entre todas as áreas que visitei, fiquei especialmente fã do terceiro piso (o primeiro a ser adaptado para hotel), inteiramente dedicado a personalidades portuguesas. O tom e textura das paredes remeteu-me para algo industrial, urbano e alternativo, uma combinação surpreendente de cores com muito bom gosto. Na porta de cada quarto, desenhos de Chiara Gerer, filha de Thomas, um simpático alemão radicado em Portugal há 27 anos e proprietário da Lisbon Short Stay (sim, é um negócio familiar, que beneficia ainda da criatividade infinita de Ângela, de origem brasileira e mulher de Thomas, responsável pelo design de interiores). Retratavam nomes como Amália Rodrigues, José Saramago, Fernando Pessoa, Luís de Camões, Florbela Espanca, Almada Negreiros, Cármen Miranda ou Aristides de Sousa Mendes. Não tive oportunidade de conhecer os quartos desse piso por estarem todos ocupados mas, a avaliar pelos corredores e espaços comuns – e pelas fotografias que vi posteriormente -, são seguramente os meus favoritos.
Fiquei também interessado num pequeno terraço existente no topo do prédio, com vistas sobre a Baixa de Lisboa e o Castelo de São Jorge. “No verão, isto fica lotado de gente de biquíni a apanhar banhos de sol”, confidenciou-me Roberta. Imagino o bem que deve saber estar ali num final de tarde primaveril e beber um gin tónico.
Feita a visita exploratória à Lisbon Short Stay, instalei-me no quarto Al, assim nomeado em honra de um amigo de Chiara, oriundo da Palestina. Filipa explicou-me que os tons de amarelo-torrado das paredes foram “inspirados nas paisagens do território palestiniano” e que as andorinhas portuguesas penduradas à entrada do quarto eram uma “alusão às pombas brancas da paz”. Era um quarto simpático e espaçoso, com uma varanda estreitinha virada para a Rua da Assunção. Tinha um pequeno sofá (nem todos os quartos têm um), um armário embutido e uma mesinha perfeita para uma refeição frugal a dois, onde repousavam dois pastéis de nata que me piscaram o olho antes de dormir – um amável mimo de boas-vindas.
Pelo que pude observar, a decoração de cada estúdio é inspirada em pessoas de carne e osso – como o Al -, sejam personalidades públicas ou amigos da família. Exemplos? Hélio é um português de origens africanas, pelo que o “seu” quarto evoca as savanas de África; Joana é uma portuguesa apaixonada por Frida Kahlo, paixão refletida na decoração “mexicana” do quarto homónimo; Meibi é japonesa e o estúdio nomeado em sua honra está decorado em tons de vermelho e preto, com peças de sushi e almofadas em forma de peixe.
Saí para jantar na Baixa de Lisboa e voltei já cansado e com vontade de dormir. Não fora isso, e poderia ter passado um tempo agradável bebendo um copo no surpreendente Navegadoors, um 4-em-1 com acesso direto ao hotel e porta principal em plena Rua Augusta. É um espaço amplo, decorado com a mesma irreverência criativa da Lisbon Short Stay e partilhado por quatro conceitos distintos: um cocktail bar, chamado precisamente CocktailBar, a pizaria Eros, a coffee shop Madame X e, por fim, um restaurante japonês de seu nome Nipon.
Dormi bem e tranquilo numa cama confortável. De manhã, hora de tomar banho e uma frase bem-humorada escrita no gel de banho captou a minha atenção e me pôs a sorrir: “save water, shower with a friend“. Fica para uma próxima, de preferência não tão short!
Como é a Lisbon Short Stay?
“Estúdios e apartamentos funcionais no coração da baixa pombalina, num hotel com decoração extravagante e criativa.” Filipe Morato Gomes
Localização
A Baixa de Lisboa tem vivido um boom no que toca à reabilitação de edifícios para fins hoteleiros – unidades que beneficiam de uma localização privilegiada no coração da capital portuguesa. É o caso da Lisbon Short Stay. Na verdade, dificilmente o turista poderia pedir mais em termos de localização: os estúdios e apartamentos ficam na Rua dos Sapateiros, uma pequena artéria paralela à Rua Augusta que desemboca em pleno praça do Rossio. Fica, por isso, pertíssimo da estação de metro Baixa-Chiado e a dois passos do Rossio, do Terreiro do Paço, do Bairro Alto e até do Cais do Sodré. Perfeito.
Morada: Rua dos Sapateiros 158, 1100-580 Lisboa
Quartos
A Lisbon Short Stay tem estúdios de vários formatos, constituídos por um quarto com casa de banho privativa e uma kitchenette equipada para pequenas refeições, com micro-ondas, placa de fogão, torradeira e cafeteira. Conheci inúmeros desses estúdios e posso garantir que são todos – mesmo todos! – diferentes em termos de decoração e tonalidades, proporcionando ambientes totalmente distintos entre si (garantiram-me que há hóspedes que solicitam um quarto específico quando reservam o hotel). Os quatro apartamentos são igualmente diferentes entre si, tendo em comum o arrojo na decoração e o facto de serem espaçosos e funcionais. Está previsto o aumento do número de apartamentos através da ampliação do hotel para um prédio localizado em frente à entrada principal da Lisbon Short Stay.
Atmosfera
Excêntrica e criativa são as palavras que me ocorreram ao passear pelos espaços comuns da Lisbon Short Stay. Entre todos os pisos, é inevitável que os hóspedes se identifiquem mais com o ambiente de um ou de outro, tal a diversidade das criações de Ângela, a mente por detrás da decoração dos interiores do hotel. Uma coisa posso garantir: não é um hotel normal, chato e repleto de formalismos decorativos. A começar pela surpreendente receção, que duvido deixe alguém indiferente – mas não vou contar muito para não estragar a surpresa que se esconde atrás da fachada austera do edifício pombalino.
De resto, e com exceção para o espaço Navegadoors, não é uma unidade hoteleira pensada para a socialização entre os hóspedes, antes para a viver a dois ou entre amigos. É, aliás, frequentada maioritariamente por casais – com e sem filhos – oriundos dos quatro cantos do mundo, Portugal incluído.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Tendo apartamentos self catering e estúdios com kitchenette, a Lisbon Short Stay não inclui o pequeno-almoço na diária. Por sugestão de vários hóspedes, estão no entanto a ponderar fornecer esse serviço nos quartos ou no espaço Navegadoors, adjacente ao hotel e integrado no mesmo edifício.
Conclusão
- Pontos fortes: o fator surpresa, assim que se atravessa a porta de entrada; a criatividade dos espaços comuns; quartos com decoração única; localização; o mini-terraço em dias de verão; profissionalismo do staff.
- Pontos fracos: nada de relevante, exceto a ausência de pequeno-almoço.
- Em resumo: um refúgio multifacetado no coração de Lisboa, com ambientes distintos capazes de agradar a um público urbano de gostos variados.
- Ideal para: casais sem filhos (nos estúdios), grupos de amigos ou casais com filhos (nos apartamentos), gente de espírito jovem.
- Preço: desde 45€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: jan. 2014