Água Hotels Mondim de Basto
Já estive duas vezes no Água Hotels de Mondim de Basto (terei passado três ou quatro noites no total) e cheguei sempre em grande. Grande porque integrada numa comitiva de várias de dezenas de jipes que durante uns dias se entretém a desbravar caminhos menos óbvios deste nosso Portugal – numa das vezes seguimos até à Galiza: em ano de Xacobeo fomos peregrinos de Trancoso até Santiago de Compostela. Contudo, o facto de chegar com outras dezenas de pessoas nunca me permitiu usufruir tranquilamente do hotel, que surge empoleirado no meio do nada, com quartos onde a vista só avista montes e um rio, o Tâmega, a correr bem no fundo de uma garganta.
Em nenhuma das vezes em que fui hóspede no Água Hotels de Mondim de Basto cheguei com calor – era primavera, numa delas; outono já a cheirar a inverno, na outra. Tive o frio por companhia, portanto, e, numa das vezes, uma chuva intensa debaixo da qual esperei que o saco saísse da mala do carro para desatar a correr rumo ao interior do hotel. Não que o frio seja má companhia no hotel Água Hotels, mas a verdade é que nunca cheguei a experimentar a magnífica piscina exterior na qual os meus olhos sempre se detêm. Está visto que tenho de voltar.
Verdade seja dita, num hotel com água no nome não é necessário bom tempo para se entrar numa piscina. O Água Viva Spa assegura-se de que a experiência aquática não tem data de caducidade. Na piscina interior, uma parede de vidro faz-me levitar sobre a relva bem verde do jardim, passar os arbustos aí plantados para depois voar pelo cenário mais inóspito da natureza nestas paragens. Voz a Miguel Torga: “Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição”. Deixei-me estar aí num lusco-fusco que adormeceu o cansaço de um dia longo aos saltos dentro de um jipe. Nem consegui conjurar vontade para uma massagem, embora olhando para trás pense que fiz mal – teria sido o chamado ouro sobre o azul.
Azul é uma boa cor para descrever o Água Hotels de Mondim de Basto, pela decoração dos quartos e pelo céu que entra descaradamente pelo edifício, amplamente transparente. O verde também não fica mal, porque estamos plantados no meio dele: cuidado, nos jardins que rodeiam o edifício, onde não faltam sequer lagos com nenúfares; rebelde nas paisagens em redor. E vou falar também no branco, do edifício de linhas modernas, feito de volumes por vezes extravagantes, a desenvolver-se em andares indisciplinados e com espaços públicos que se sucedem como peças a compor um todo orgânico.
Não lhe ficam mal estas cores. São um prolongamento da Natureza onde o hotel se ergue como uma espécie de espaço zen, ideal para evocar os locais mágicos em redor. A Serra do Alvão é para mim uma das mais maravilhosas do país, cheia de recantos encantadores, com ribeiras e moinhos de água, pequenas praias fluviais, árvores frondosas a tecer uma tapeçaria assimétrica na sua diversidade. As Fisgas do Ermelo são um assombro geológico e a Senhora da Graça um miradouro imponente onde o horizonte parece não terminar. Claro que termina e, ao final de um dia mergulhados na paisagem, é bom chegar à lareira do Água Hotels. E sabermos que no dia seguinte vamos assistir a um belo nascer do sol – algo que fiz em todas as minhas estadias: as obrigações do trabalho às vezes têm estas (boas) surpresas.
Como é o Água Hotels Mondim de Basto?
“Um refúgio aquático dentro do refúgio telúrico, onde a Natureza é quem mais ordena e é assim que deve ser”. Andreia Marques Pereira
Localização
O Água Hotels de Mondim de Basto fica em território do Parque Natural do Alvão, um pouco afastado do centro da vila. Saindo da estrada principal ainda tem de se andar cerca de um quilómetro, entre floresta, até se abrir a gigantesca clareira onde o complexo está instalado. Não desespere, portanto.
Quem vem do Sul, não tem qualquer problema em grande parte do percurso – há auto-estrada até Amarante. A partir daqui deve seguir-se pela N312 (Amarante Oeste/Celorico de Basto) durante 25 quilómetros, altura em que se tomará a N304 por sete quilómetros para depois voltar à direita e seguir um quilómetro por estrada secundaríssima que serve praticamente apenas o hotel.
Morada: Lugar Alto da Corda, Monte da Paradela, 4880-162 Mondim de Basto
Quartos
Fiquei em dois quartos diferentes neste hotel de montanha. O primeiro, num andar elevado (de notar que só há três andares, que acompanham a geografia do terreno, logo não há a sensação de elemento muito alienígena na paisagem); o segundo no rés-do-chão. Gostei mais do primeiro, não apenas pela vista mais desempoeirada, porque a do rés-do-chão também é ampla (e fiquei do mesmo lado: a olhar o rio), mas porque era mais acolhedor – mais pequeno, sem ser pequeno. A decoração é idêntica, mobiliário escuro de linhas simples, reposteiros e almofadas (muitas) em vários tons de azul, contra o branco imaculado das paredes e edredão. Uma das paredes é envidraçada com varanda (pequeno terraço no rés-do-chão) de muro transparente, dando ideia de que estamos sempre a entrar na paisagem. Na estadia mais recente, senti no quarto a passagem inexorável do tempo – notei o desleixo na manutenção da estrutura, mobiliário e casa-de-banho. O hotel tem 42 quartos e duas suites no edifício principal complementados por três casas de montanha e dois espigueiros (mistura a arquitectura tradicional com um dos lados todo envidraçado), com dois quartos em cada um.
Atmosfera
Como estive sempre com casa bastante cheia, não consegui realmente viver o que imagino seja o ambiente natural do hotel: calmo, relaxante. Gosto da luz que entra em catadupa, seja nos quartos, seja nos espaços públicos, e da ligação à natureza: pela água, que está dentro e fora, em construções artificiais ou à solta, pelos jardins que são o mais natural possível e incluem um parque infantil, e pelas bicicletas que o hotel coloca à disposição dos hóspedes. A arquitectura de linhas modernas surpreendeu-me na cave de vinhos, recortada nas rochas.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Mais que não fosse pelo ar da montanha, o café da manhã poderia (deveria) ser mais variado. É servido no restaurante Tâmega o que significa com vista panorâmica para o rio e os montes em redor.
Conclusão
- Pontos fortes: paisagem deslumbrante, spa, atendimento simpático.
- Pontos fracos: degradação do edifício e mobiliário, pequeno-almoço com pouca variedade.
- Em resumo: recomendável para quem quer fugir do stress e envolver-se na natureza; opção forte para quem tem o culto da “saúde pela água”; refúgio para casais.
- Ideal para: para famílias com crianças; casais; grupos de amigos que gostem de ar livre.
- Preço: desde 34€ duplo · Ver preços