The Independente Hostel & Suites, um miradouro sobre o miradouro

The Independente Hostel & Suites

Cheguei ao The Independente muito antes do horário do check-in e fui recebido com simpatia e profissionalismo pelo jovem staff do hostel – explicaram-me que a suite não estava (naturalmente) pronta, pelo que era muito cedo para me instalar. Ao primeiro olhar, o hall de entrada destacava-se pela imponência do pé direito, a condizer com o magnífico edifício recuperado que eu já conhecia de uma outra viagem a Lisboa onde tinha tentado, sem sucesso, jantar no magnífico restaurante Decadente que partilha a morada com o The Independent Hostel & Suites.

Deixei a mochila na receção e rumei ao Príncipe Real para tratar de assuntos profissionais, depois à Baixa-Chiado onde almocei, antes de regressar ao hostel por volta das três da tarde. Fui então recebido por Nuno, um jovem e competente membro da equipa que fez questão de me mostrar todos os cantos do The Independente. Vi as camaratas, espartanas mas arejadas e suficientemente espaçosas, e conheci a sala comum desprovida de gente (a hora era propícia a explorar as maravilhas de Lisboa, não a ficar parado no hostel) onde era impossível ignorar um desagradável cheiro a comida proveniente da cozinha. Nuno explicou-me que as autoridades competentes não permitem a instalação de um exaustor por ser um edifício histórico, pelo que pouco mais podem fazer para combater a maleita do que abrir as janelas.

Subimos ao piso das suites – o último – e aí o ambiente era um pouco diferente, mais acolhedor e intimista e com cheiro a limpeza. Atravessámos um pequeno corredor até ao quarto que me estava destinado, uma suite com o teto inclinado como o sótão da minha avó (adoro sótãos!), decorada em tons de branco de forma simples mas agradável, sem luxos mas suficientemente confortável e com pormenores muito interessantes – como um manequim pintado de azul para colocar casacos ou vestidos. A cama era cómoda, a casa de banho poderia estar melhor cuidada, mas a grande surpresa chegou quando Nuno abriu as portadas e me convidou a conhecer o pequeno terraço virado para a movimentada rua de São Pedro de Alcântara. Do outro lado da rua, o homónimo jardim visto de cima; mais além, o casario da Baixa de Lisboa e, no horizonte, as águas tranquilas do rio Tejo – formando um cenário incrivelmente belo e inspirador.

Fiquei algum tempo a escrever e acabei por passar boa parte da tarde dentro de portas ao som da chuva. À saída, fiz questão de passar na sala comum do hostel e encontrei cinco viajantes – pareceram-me todos estrangeiros – a ler tranquilamente ou muito atentos aos seus gadgets, pelo que optei por não meter conversa e saí para jantar na Baixa lisboeta. O restaurante Decadente ficou para o dia seguinte, quando haveria de comprovar que a sua qualidade é uma mais-valia inquestionável para os hóspedes do The Independente Hostel & Suites.

À noite, antes de me deitar, não resisti e voltei ao pequeno terraço desafiando o frio para contemplar o movimento das gentes noctívagas numa Lisboa iluminada. Nem que fosse por esta vista, já valeria a pena dormir numa das suites do The Independente.

Dormi como dizem dormir os anjos e, após um lento acordar, desci para o restaurante para tomar o pequeno-almoço. Foi quando dei de caras com o protótipo da arte de bem receber – uma senhora cuja simpatia e boa disposição de imediato me colocaram um sorriso no rosto. Não que o café da manhã fosse farto ou variado – era básico mas perfeitamente adequado para um hostel, ainda para mais tendo em conta as acessíveis tarifas praticadas -, mas pela energia que ela (perdão, não me recordo do seu nome) transmitia logo pela manhã. E que bem sabe começar o dia bem-disposto!

Localização

Apesar de não estar no coração da Baixa-Chiado como boa parte dos mais bem conceituados hostels de Lisboa, o The Independente tem a vantagem de se encontrar na divisória entre o Bairro Alto e o muito em voga Príncipe Real, bem junto ao elevador da Glória e ao delicioso jardim-miradouro de São Pedro de Alcântara e rodeado de bons restaurantes nas proximidades (a começar pelo próprio Decadente, que partilha o mesmo edifício do hostel). O The Independente fica ainda pertíssimo da Bica e a curtas caminhadas a pé das áreas do Rossio e Chiado, na Baixa de Lisboa. Em suma, uma localização privilegiada.

Morada: Rua São Pedro de Alcântara 81, 1250-238 Lisboa

Quartos

O The Independente mistura os típicos dormitórios destinados a viajantes independentes (ou a famílias que alugam toda uma camarata para delírio dos miúdos que adoram dormir em beliches) com um punhado de suites pensadas para casais e todos os que preferem a privacidade de um quarto privado. As camaratas estão bem conseguidas, são arejadas e espaçosas (os viajantes não precisam de se acotovelar e os beliches estão distantes uns dos outros), embora tenha sentido que lhes falta um pequeno je ne sais quoi para as colocar ao nível do que de melhor se faz noutros hostels de Lisboa. Verdade seja dita, talvez esteja a ser demasiado exigente, já que a bitola lisboeta neste segmento é muitíssimo elevada: os hostels da capital portuguesa estão ano após ano cotados entre os melhores do mundo.

Quanto às suites, têm um nível superior (e, naturalmente, outro preço), uma decoração simples mas funcional e uma vista privilegiada sobre o jardim de São Pedro de Alcântara. Notei, no entanto, a falta de uma mesa para trabalhar e preferia que a pequena cómoda onde repousava uma televisão (nunca a liguei) não estivesse desconjuntada e a ameaçar desfazer-se. Em 2013, o The Independente prepara-se para inaugurar um conjunto de novas suites no edifício contíguo ao atual hostel.

Atmosfera

É difícil separar completamente o hostel The Independente do restaurante Decadente – duas faces do mesmo projeto hoteleiro. É, aliás, na sala do Decadente que os hóspedes do hostel tomam o pequeno-almoço. O ambiente pareceu-me tranquilo de manhã e à tarde, e notei a presença de muitos jovens viajantes independentes de latitudes variadas. A partir das 20:00, o edifício fica mais agitado com a presença de dezenas de comensais no bar e restaurante Decadente. Seja como for, quem preferir maior calma e tranquilidade só tem de atravessar o piso térreo – onde se encontra o restaurante – e rumar à zona dos quartos, nos pisos superiores.

Na noite em que me alojei no The Independente, estávamos em pleno inverno e o hostel encontrava-se relativamente calmo (o que, na verdade, me soube bem). Mas suponho que na época alta a sala comum, enorme e muito acolhedora, seja o ponto de encontro por excelência para partilhar histórias de viagem e fazer novas amizades.

Pequeno-almoço (café da manhã)

É um pequeno-almoço simples servido por gente incrivelmente simpática. Fatias de um saboroso pão tipo alentejano (pelo menos foi o que me pareceu) com queijo e fiambre, sumo e café com leite e cereais. Os hóspedes das suites têm ainda um iogurte natural e ovos mexidos com bacon. Um café da manhã frugal mas servido com bom gosto em placas de lousa preta retangulares (em vez dos vulgares pratos brancos). Perfeitamente adequado para um hostel.