Pousada de Guimarães – Santa Marinha
A realização da Capital Europeia da Cultura, em 2012, foi uma oportunidade para dinamizar e modernizar uma série de espaços urbanos, culturais e edifícios históricos ou devolutos de Guimarães. A revitalização foi oportuna, mas grande parte do charme da cidade reside em edifícios com história, como sucede com a majestosa Pousada de Santa Marinha, localizada num mosteiro cuja antiguidade se confunde com o próprio tempo da nacionalidade e que terá sido entregue pela Rainha Dona Mafalda, mulher de Dom Afonso Henriques, aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, no século XII.
Das ruas da cidade de Guimarães é possível avistar o edifício do mosteiro, localizado numa vertente da encosta do monte da Penha – uma localização extraordinária porque, a partir da pousada, sobretudo do terreiro frontal do edifício e do terraço onde funciona a sala de refeições, tem-se uma perspetiva muito bonita de toda a área urbana e do novo parque vimaranense.
A Pousada de Guimarães pareceu-me ser particularmente acolhedora no inverno. As antigas celas monásticas foram convertidas em quartos confortáveis, equipados com o essencial, embora a decoração seja um pouco excessiva e anule o espírito austero do edifício. No interior da pousada, o espaço mais acolhedor, onde gostei de ficar, demoradamente, a ler, é a sala de estar, muito bem organizada, em dois níveis, com sofás longos e cadeiras enquadrados com mesas de apoio.
Com o tempo mais afável, sobretudo na primavera ou no verão, a Pousada de Santa Marinha oferece um dos espaços de repouso mais agradáveis que conheço em hotéis portugueses. Trata-se da magnífica varanda de São Jerónimo, localizada ao fundo do corredor das celas monacais. É uma varanda ampla, elevada sobre o jardim e envolvida pela copa das árvores mais altas dos jardins – um espaço com uma personalidade cinematográfica.

O mosteiro foi profundamente alterado ao longo dos tempos. Foi ampliado, restaurado, e sofreu estragos consideráveis num incêndio em meados do século passado. A intervenção mais recente, em 1977, pela mão do arquiteto Fernando Távora, restaurou o edifício e permitiu adaptá-lo à pousada que hoje conhecemos. Nota-se que essa intervenção está datada no tempo: uma pousada histórica com a austeridade elegante deste edifício não estaria decorada com mobiliário tão clássico nem teria placas de tijoleira alaranjada em algumas divisões.
Ainda assim, apreciei o facto do processo de modernização não ter alterado os jardins, contornados por buxos, onde sobressai uma cerca ao longo da encosta do monte da Penha. As alamedas levam-nos a descobrir imensas espécies vegetais, árvores centenárias que dão uma personalidade intemporal a estes jardins e até um relaxante curso de água que alimenta um tanque circular no cimo do jardim ou um antigo moinho recuperado.

A pousada mantém uma ligação museológica muito forte com o passado; uma estadia mais atenta permite descobrir vestígios preciosos, como a porta moçárabe, localizada nos claustros, que sustenta a possibilidade de ter existido ali um templo religioso datado dos finais do século VI.
Passeando pela Pousada Santa Marinha, estamos sempre a descobrir factos históricos. O edifício é, aliás, fundamental para perceber a história da própria cidade de Guimarães – em ligação com o castelo e o Paço dos Duques -, como confirma o nome da pousada. Crê-se que Dona Mafalda terá entregue o mosteiro aos cónegos regrantes de Santo Agostinho, em honra de Santa Marinha, advogada das parturientes, para cumprir um voto feito por ter sobrevivido a um parto mais complicado.
Crê-se… A ausência de certezas acentua o imaginário de um espaço com este.
Como é a Pousada de Guimarães – Santa Marinha?
“A pousada é um edifício contemporâneo que mantém uma ligação museológica com o passado de Guimarães e de Portugal.” Tiago Alves
Localização
A Pousada de Guimarães – Santa Marinha fica situada no Lugar a Costa, na encosta do monte da Penha, em Guimarães, a 55 km da cidade do Porto e a escassos 24 km de Braga. Tem uma localização singular porque permite observar a cidade de Guimarães e está próxima dos acessos ao monte da Penha, local que vale a pena explorar durante uma visita à cidade.
Morada: Largo Domingos Leite de Castro, Lugar da Costa,4810-011 Guimarães
Quartos
São confortáveis e preservam o resguardo das celas monásticas, mas a decoração impõe-se excessivamente através de peças de mobiliário clássico.
Atmosfera
A dimensão do edifício estimula a curiosidade. Apetece entrar nos corredores e descobrir novas divisões. É fácil encontrar locais solitários de repouso. O serviço é discreto, amável e prestável. Frequentado por estrangeiros e grupos de amigos com crianças em estadias organizadas.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O buffet clássico das pousadas é muito variado, incluindo as opções do pequeno-almoço inglês (ovos mexidos, salsichas, bacon, cogumelos…) e a oferta do café da manhã continental, com boa variedade de compostas e sumos.
Conclusão
- Pontos fortes: o edifício cheio de história, a varanda de São Jerónimo e os magníficos jardins.
- Pontos fracos: a envolvente urbana da pousada: nas pequenas estradas que percorrem a encosta há um excesso de moradias desinteressantes; o mobiliário demasiado clássico dos quartos.
- Em resumo: um local obrigatório para quem quer habitar a história de Guimarães e gosta de explorar locais com grande carga imaginária, de preferência hóspedes com disponibilidade para uma estadia mínima de dois dias que permita apreciar o património artístico e natural da pousada.
- Ideal para: casais, famílias com filhos.
- Preço: desde 90€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: jun. 2011