Pousada de Amares – Santa Maria do Bouro
Sem termos que nos entregar aos sacrifícios da vida monástica, a Pousada de Amares – Santa Maria do Bouro oferece-nos o lado bom da reclusão. Neste Mosteiro Cisterciense do século XII come-se e bebe-se à moda do Minho e dorme-se o sono dos justos, tendo o verde do Parque Nacional Peneda-Gerês como pano de fundo.
Foi sobretudo uma paz incrível o que senti quando à noite fechei os olhos na Pousada de Santa Maria do Bouro. Já aconchegada numa cama de lençóis brancos e comido o chocolatinho da praxe – mimo exemplar de alguns hotéis -, não me saía da cabeça o facto de estar a dormir na cela de um antigo mosteiro cisterciense. E mesmo que o arquiteto e autor do projeto, Eduardo Souto de Moura, defenda que se trata de “uma nova construção e não de um restauro”, foi completamente impossível ignorar que iria passar pelas brasas num local histórico, cujas paredes testemunharam anos de reclusão.
Amares fica a cerca de três horas e meia de Lisboa. Era fim de julho, estava um calor infernal e, por isso, uma vez despachado o check-in, a primeira coisa que fiz foi dar uns bons mergulhos na piscina redonda do jardim. Envolvida pela paisagem incrível do Parque Nacional Peneda-Gerês, pedi umas sanduíches, aparentemente vulgares, mas que nestes hotéis têm um sabor difícil de reproduzir em palavras.
De toalha enrolada à cintura – indumentária pouco própria para a ocasião – deambulei pelos frondosos jardins da pousada, li o meu livro à sombra dos claustros, embebi-me daquele sossego próprio de um templo de paz. Mais a mais, a paisagem circundante lembrava as paisagens campestres de Claude Lorrain, o grande paisagista barroco francês. A noite, entretanto, caiu, e vi-me sentada à mesa do restaurante, antiga cozinha do mosteiro cujo ex-líbris é uma altíssima chaminé.
Seria também neste espaço que começariam os meus problemas, se ousasse fazer dieta. Nem me atrevi a pensar em tal barbaridade. “No Minho, sê minhoto”, disse para os meus botões, enquanto me deliciava com o meu arroz de galo “pica no chão” e piscava o olho aos rojões com papas de sarrabulho do meu companheiro de viagem. A mesa de sobremesas (outro castigo a que nem o mais sacrificado dos monges conseguiria resistir) está recheada de doçaria conventual, tão boa quanto calórica. O mais difícil é mesmo escolher – um grande aborrecimento para os mais gulosos.
Como é hábito nos meses de verão, havia bailaricos nas povoações vizinhas, e fomos bailar como se não houvesse amanhã com gentes tão sãs quanto generosas.Se dormi pouco em quantidade, a qualidade do sono suplantou todas as expectativas. O silêncio reconfortante do campo era apenas perturbado pelo suave piar de uma coruja perdida. Despertei com o galo da manhã, tal como acontecia há muitos anos na minha aldeia. O cantar do galo devolveu-me a infância por instantes, e senti que tinha dormido cem anos, qual bela adormecida.
Retemperadas as energias, a envolvência ordenou-me que explorasse lentamente a pousada, dos claustros medievais aos corredores infindáveis de pedra, onde encontrei arte e mobiliário contemporâneos que, surpreendentemente, casam lindamente com a arquitetura austera e monástica do espaço. Se há lugares que considero perfeito, este é um deles. Fica emoldurado no único Parque Nacional de Portugal, é fruto do traço de um prémio Pritzker nacional e transmite uma tranquilidade sem paralelo. Apeteceu-me até tentar fazer uma incursão na escrita, pensando que seria muito mais fácil levar a cabo este projeto se ali vivesse.
Como é a Pousada de Amares – Santa Maria do Bouro?
“Sem termos que nos entregar aos sacrifícios da vida monástica, a Pousada de Santa Maria do Bouro oferece o lado bom da reclusão.” Maria João Veloso
Localização
A meia dúzia de minutos da entrada do Parque Nacional da Peneda-Gerês e a 68 quilómetros do Porto, a Pousada de Santa Maria do Bouro fica em Amares, rodeada por uma paisagem de cortar a respiração. O hotel fica ainda a um salto de Braga, um dos principais centros religiosos do país. Mais perto fica, no Campo do Gerês, o Museu Etnográfico, que conta a história da vida comunitária em Vilarinho das Furnas, povoação submersa em 1971 para dar lugar à homónima barragem. No parque há uma série de trilhos para percorrer a pé, onde se encontram cascatas, lagoas naturais e, com sorte, até Garranos-do-Gerês, cavalos da região que apetece levar para casa.
Morada: Mosteiro Santa Maria do Bouro, 4720-633 Bouro
Quartos
A Pousada de Santa Maria do Bouro tem 32 quartos, dois dos quais suites. Há ainda a possibilidade de arranjar quartos comunicantes para casais com filhos. Todos os quartos, antigas celas dos monges, têm aquecimento central, ar condicionado e mordomias do século XXI como secador de cabelo e televisão LCD com TV Cabo. O meu quarto era standard e conservava os bancos namoradeiros onde apetecia sentar e ficar horas a fio a olhar a paisagem bucólica. As suites 209 e 224 têm vistas privilegiadas para o Parque Nacional da Peneda-Gerês.
Atmosfera
O soalho range e as paredes podiam falar. O espaço, por mais intervenção arquitetónica que tenha tido, não deixa de ser antigo e obriga-nos a cada segundo a imaginar como seria a vida por ali há 800 anos. E, se a entrada da pousada fica perto da via principal de Amares, os quartos e o restaurante são mais recolhidos, virados para os jardins da propriedade, o que significa paz total. O antigo mosteiro é tão grande que, tirando a hora das refeições, há alturas em que não se vê vivalma e nos sentimos proprietários por um dia deste enorme tesouro.
Pequeno-almoço (café da manhã)
No Minho tudo o que se refere à cena gastronómica tem doses de generosidade acrescida. O pequeno-almoço, servido na antiga cozinha do mosteiro, não foge à regra. A enorme mesa de pedra está recheada de tudo o que se poderia desejar comer na primeira refeição do dia. Há muita variedade de pães, croissants, doces e compotas, e muitos queijos. Os ovos mexidos e estrelados, feitos na hora, são também uma escolha possível. O café da manhã está incluído na diária.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização às portas do Parque Nacional Peneda-Gerês, a harmonia do edifício do século XII e a intervenção do arquiteto Souto de Moura.
- Pontos fracos: por muito que procurasse, não os encontrei.
- Em resumo: recomenda-se para uma escapadinha ao Norte de Portugal e, sobretudo, para quem queira conhecer de lés a lés o parque da Peneda-Gerês.
- Ideal para: pessoas que gostem de silêncio, amantes da Natureza, andarilhos e aventureiros.
- Preço: desde 90€ duplo · Ver preços
- Insignia: Small Luxury Hotels of the World