Porto Bay Falésia
Quando fiquei neste hotel em pleno Algarve percebi perfeitamente do que falava o pintor Calazans Neto no CD Vinícius 90 anos. Dizia ele que, a certa altura, os dois conversavam sobre o que a vida tem de boa, das coisas amenas. “Era do nascer do sol ao morrer do sol às vezes sem fazer absolutamente nada”. Dizia ainda que chega um tempo em se descobre que “o bom é não fazer nada.” Estes pensamentos preguiçosos eram-me ditados pela paisagem cor de ferrugem da Falésia, enquanto o meu corpo esparramado em cima de uma espreguiçadeira – qual vegetal – realizava fotossínteses sucessivas à beira da piscina.
A 14 quilómetros de Vilamoura e a oito de Albufeira, não senti uma única vez que o Hotel Porto Bay Falésia fosse beliscado pela balbúrdia turística que se instala nas localidades vizinhas. O hotel com quatro estrelas dá uns ares de navio de cruzeiro especialmente pela sua imponência, largueza das áreas comuns e o leque atividades próprias destas unidades hoteleiras grandes e com muitos quartos.
Era impossível, no entanto, seguir o alvitre de Calazans Neto. Acabado o livro que levava, comecei a ouvir as conversas das outras pessoas que se espreguiçavam ao sol. A mistura de idiomas embalava-me de novo e, não fosse um calor abrasador, tenho a certeza que o próximo passo seria hibernar o verão inteiro.
Mas, se há coisa que trouxe da infância para a idade adulta é uma atração inexplicável por mergulhos. Nas piscinas – coberta e exterior – andei armada em nadadora olímpica a atropelar as famílias que por lá andavam tranquilamente. Desci à praia, ávida da liberdade oferecida pelo oceano Atlântico. Tive direito a águas cálidas e uma praia toda só para mim. Depois, já completamente zen, entreguei-me nas mãos da massagista para uma sessão de cromoterapia. Lembro-me que nas horas seguintes me senti a levitar. Seja de que espécie for não há melhor terapia para um jornalista stressado do que uma boa massagem ao pelo.
Tivesse vontade de gastar energia e não hesitaria em ter umas aulas práticas nos belos courts de ténis rodeados de natureza. Quem tiver uma paciência de Job – que não é certamente o meu caso – pode também exercitar o taco de golfe no putting green. Eu fiquei pelas massagens e depois descansei de toda “esta azáfama” no Falésia Lounge, à beira da piscina, de pé de molho e com um bloody mary na mão. Foi também no bar que dá apoio à piscina que cometi o pecado da gula – ao longo do dia – sempre que a fome bateu à porta. Os hambúrgueres e as sanduíches club ficaram na memória do palato por serem deliciosos.
Como só tive direito a um fim de semana no Hotel Porto Bay Falésia decidi-me pela cozinha italiana. No Il Basilico a escolha foi bastante difícil. Sou viciada em anti-pasti e era seguramente capaz de me alimentar o resto da vida só de entradas. Escapou-me o crostini tartufati com queijo scarmoza, speck cebola roxa e pasta de trufas, mas ataquei um carpaccio de vaca com rúcula e parmesão, prato pelo qual tenho uma atração fatal. Já que era para esquecer a dieta, o tiramisú foi o remate final para esta luxúria gastronómica.
À noite, para digerir o banquete al dente fui ao Búzios Lounge Bar. Tive um ataque de nostalgia da rubrica de rádio Quando o telefone toca e pedi uma bossa nova ao vocalista; depois, de gin tónico na mão, brindei à boémia de Vinícius de Moraes e Calazans Neto.
Como é o Porto Bay Falésia?
“À beira-mar perdido no barlavento algarvio, perto de Albufeira, o Porto Bay Falésia é daqueles quartéis-generais para umas férias de praia memoráveis.” Maria João Veloso
Localização
Meio escondido entre a internacional Vilamoura e a movimentada Albufeira, o hotel Porto Bay Falésia fica situado na aldeia de Olhos d’Água na Quinta do Milharó. Aconselho vivamente que se aproveite a estadia para observar, ao longo da praia, as nascentes de água doce que dão nome à povoação.
Morada: Quinta do Milharó, Olhos d’Água, 8200-591 Albufeira
Quartos
Os quartos do hotel são ótimos, dispõem de camas enormes onde é perfeitamente possível perder o(a) companheiro(a). As camas são feitas com sedosos jogos de lençóis e os quartos têm casas de banho com todas as comodidades necessárias. O meu tinha uma providencial varanda com vista para o mar, que usei para medir a temperatura do ar e compor a toilette de acordo com a ocasião e, claro, para pôr as leituras em dia.
Atmosfera
São as falésias, o pinhal e as variantes de azuis do mar que dão as tonalidades de paraíso a este hotel, frequentado por famílias, casais em lua-de-mel e outros mais velhinhos que parecem saídos dos policiais de Agatha Christie. As redondezas são também ideais para o bird watching e para infindáveis caminhadas. E há sempre a hipótese de ficar a contemplar as coisas amenas da vida e passar uns dias sem fazer absolutamente nada.Além da praia, existem três piscinas, courts de ténis, um spa e vários bares e restaurantes por isso não é difícil ficar por lá a desfrutar do merecido “descanso do guerreiro”.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Servido no restaurante Madeira, o pequeno-almoço é um continental melhorado com um buffet fresquíssimo de frutas laminadas que se desfazem na boca. Destaque para os ovos – mexidos, estrelados e omeletas – e panquecas feitas na hora. Tudo regado com sumo natural da famosa laranja do Algarve.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização à beira mar num Algarve que ainda não foi invadido pelo turismo de massas e onde é perfeitamente possível escutar uma banda sonora patrocinada pela natureza.
- Pontos fracos: haver tanta paz que o hóspede mais energético ou conflituoso é capaz de achar o hotel maçador.
- Em resumo: recomendável para amantes da natureza e corpos sedentos de paz e de equilíbrio.
- Ideal para: para famílias, sobretudo para crianças e avós. Se tivesse direito a uma segunda lua-de-mel era capaz de investir neste hotel, que nos obriga a pôr todas as preocupações do dia-a-dia para trás das costas.
- Preço: desde 88€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mai. 2010