Porto A.S. 1829 Hotel
Não sei o que gosto mais no edifício onde está instalado o Porto A.S. 1829 Hotel. A localização é fantástica, claro. Em pleno Largo de São Domingos, o centro mais centro da área de todas as modas e tendências da cidade do Porto: a rua das Flores. A Rua das Flores reconquistou a importância que teve no passado – ela, que foi a primeira rua do Porto a ser calcetada, agora viu-lhe atribuído, e bem, o estatuto de pedonal para que todos se possam passear mais à vontade – e o Largo de São Domingos é o remate perfeito.
Outro aspeto de que gosto muito é a esquadria das portadas. Os azulejos que revestem uma pequena parte exterior do edifício também são magníficos. Mas, pensando melhor, afinal sei o mais gosto no edifício do hotel A.S 1829: as memorias que me traz, a história que contam as suas paredes.
Foi num domingo ao fim da tarde que voltei a atravessar aquela porta, agora para entrar num hotel. Da última vez que a tinha cruzado, naquele mesmo local, tinha sido para fazer perguntas sobre um livro que estava na montra. Não há dúvida que o 1829 que dá nome ao agora hotel tem a ver com o ano da fundação, mas o A.S. é de Araújo & Sobrinho, umas das livrarias e papelarias mais relevantes do Porto antigo.
Fui recebida com calorosas boas vindas e uma oferta de um cálice de vinho do porto – que não recusei. Antes subi, check-in feito, de cálice na mão até ao quarto que me estava destinado, no segundo andar. Fiquei, porventura num dos mais pequenos quartos do hotel, mas com vista privilegiada para aquele Largo de São Domingos de que tanto gosto. Deixei-me estar, esparramada na cama, depois de experimentar todos os botões.
Cada um tem o seu fetiche, e eu cá gosto de experimentar como tudo funciona. E logo desconfiei que haveria de embirrar com aquela tecnologia, quando dela precisasse: mas, então, o que é feito de interruptores? Porque é que não está nenhum à entrada da casa de banho? E agora tem de ser tudo touch, e em locais nem sempre mais apropriados? Decidi não pensar mais nisso e aguardar a hora do jantar, e a chegada dos amigos com quem havia combinado o repasto, de copo na mão e a folhear as revistas (sem história) que estavam na mesinha de cabeceira.
Saí para o jantar (declinei o convite de experimentar o restaurante Galeria do Largo, mas na manhã seguinte, ao pequeno-almoço já daria para espreitar um pouco o ambiente) e regressei horas depois. Ao cruzar o hall de entrada, voltei a lembrar-me do balcão de madeira e dos armários com muitas gavetas que existiam no tempo da livraria, e não resisti a passear-me longamente pelo receção, para ver o museu em que ela se transformou. Apreciei muito a decoração deste hotel de charme, e das suas peças vintage que não perdem sobriedade. Uma decoração também feliz nos quartos.
O meu, por ser de área modesta, tinha pouco mais que cama e duas mesinhas de cabeceira – sendo que uma delas era uma bonita arca, a lembrar os tempos dos nossos avós. E tinha uma belíssimo telefone parecido com os que me transportam aos tempos de menina – ainda com roda de números, num belo exemplar clássico. O roupeiro estava numa coluna de madeira saliente, onde também se encontrava um cofre e o frigorífico. Não será apropriado para quem viaja com sobretudos compridos ou malas muito cheias mas, para a minha curta bagagem, chegava perfeitamente.
Trazia um computador comigo, mas não me estava apetecer ligá-lo (a desculpa mental foi não ter uma secretária onde me sentar a trabalhar). A cama era demasiado confortável (ou eu estava demasiado preguiçosa) e a televisão estava mesmo ali à frente. Mas nem a televisão durou muito tempo ligada. Afinal, e já dizia o dramaturgo George Bernard Shaw, que, tal como eu, e por razões profissionais também dormiu muitas vezes fora de casa: “A grande vantagem de um hotel é que é um refúgio da vida caseira”.
Eu tinha mais era que aproveitara estadia no PortoA.S. 1829 Hotel. Mesmo que não me canse da minha vida caseira nem das rotinas de mãe com filhos pequenos, aquela era a oportunidade de acertar contas com as horas de sono em atraso. Depois de voltar a embirrar com as luzes – confirma-se, não faz sentido ter que ir à entrada do quarto para acender a luz da casa de banho – foi, sem dúvida, uma noite muitíssimo descansada.
Acordei revigorada para o pequeno almoço e para me confrontar melhor com as minhas memórias. Disseram-me que só a partir das 10:00, os produtos saem de dentro das vitrinas para o balcão, e que há na mesma a venda de artigos de papelaria que deu nome à Araújo & Sobrinho. Não pude esperar para confirmar. Trouxe na retina as peças do museu.
Como é o Porto A. S. 1829 Hotel?
“Tem um ambiente de charme, construído a piscar o olho a quem gosta de história, de património, de tradição.” Luísa Pinto
Localização
O Porto A. S. 1829 Hotel fica no ponto mais nobre do Largo de São Domingos, e é o remate perfeito da animada Rua das Flores. A estação de São Bento e o metro ficam a cinco minutos de distância; a Ribeira do Porto e a Ponte Dão Luís I a menos de dez. Sempre a pé. É também a zona onde estão alguns dos melhores restaurantes do Porto (o DOP, ali ao lado, ou o Cantinho do Avillez, na rua Mouzinho da Silveira) e o afamado Palácio da Bolsa. É, pois, o sítio perfeito para largar o carro (por exemplo, no Parque do Infante) e permitir-se calcorrear a pé as atrações da cidade do Porto. As que estão mais distantes, na Boavista ou na Foz, estão bem servidas de metro e de elétrico.
Morada: Largo de São Domingos 50, 4050-545 Porto
Quartos
O Porto A.S. 1829 Hotel dispõe de várias tipologias de suites, algumas delas muito espaçosas – ao ponto de comportar banheiras antigas no meio do quarto (um verdadeiro sonho de consumo, confesso), estrategicamente posicionadas junto a janelas e colocadas sobre belíssimo pavimento hidráulico. Mas só posso falar com propriedade daquele em que pernoitei, que era pequeno (senti falta de uma secretária) mas acolhedor.
Atmosfera
É um ambiente de charme, construído a piscar o olho a quem gosta de história, de património, de tradição. Porque são as histórias que dão sentido – e vida – às pedras por mais antigas que elas sejam. Por isso vale a pena deixar o elevador e subir pelas escadas do hotel, para apreciar as páginas de noticias e os nacos de estórias que forram algumas paredes, e apreciar, também, aquele mobiliário que já foi montra e refúgio de tantos artigos de papelaria (mas que também ficavam tão bem em nossa casa).
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço é servido no restaurante Galeria do Largo, e o nome diz tudo. Com aqueles enormes janelões de vidro, é como se o Largo de São Domingos nos entrasse pela vitrine dentro e, numa manhã de inverno ensolarada, o conforto é enorme. O mobiliário, a fazer lembrar uma velha mercearia e com as prateleiras a piscar-nos os olhos com velhos/novos produtos.
Quanto ao pequeno-almoço propriamente dito, devo dizer que cumpre mas não surpreende. A zona de quentes não tem muita variedade, e os ovos, por exemplo, que até podem ser servidos de várias formas, têm de ser pedidos e pagos à parte – um ovo Benedict custa 7,5€. De resto há, claro, cereais e algumas variedades de pão, iogurtes e fruta da época, e umas máquinas para cada hóspede se servir de chá, café e leite a gosto. Costumo não apreciar estas máquinas, mas as do A.S. 1829 surpreenderam-me por serem eficientes. O meu capuccino estava inatacável.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização, no Largo de São Domingos, o melhor remate para a Rua das Flores e porta de entrada para a cada vez mais vibrante Ribeira e zona histórica do Porto.
- Pontos fracos: não chega a ser fraco (isso seria injusto!) mas o pequeno-almoço está aquém de tudo o resto.
- Em resumo: perfeito para quem valoriza os espaços com história.
- Ideal para: casais e famílias.
- Preço: desde 175€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2016