Orange 3 House B&B
Cheguei a pé, como gosto de fazer, para me entrosar com o ambiente exterior de um hotel e perceber onde está inserido. Tinha acabado de cair uma chuvada inesperada quando cheguei à parte pedonal da Travessa das Laranjeiras, uma ruazinha bonita junto ao elevador da Bica. Desci a escadaria e dei de frente com uma laranjeira no meio da calçada; ao lado, a entrada para a Orange 3 House.
Joana estava à minha espera no piso térreo da guesthouse de sorriso aberto. Por casualidade, nenhum dos três quartos da Orange 3 House estava nesse dia ocupado (momento raro), pelo que tive oportunidade de conhecer todos os quartos, decorados com cores acolhedoras e extremo bom gosto. Por sugestão de Joana, acabei por me instalar no quarto do último piso – um quarto acolhedor, abundantemente iluminado por janelas amplas e com mobiliário minimalista e funcional – antes de regressar ao bulício de Lisboa em reportagem.
Quando voltei à guesthouse, já a tarde era noite e Igor estava em casa com Joana. Igor é uma personagem encantadora. Psicólogo de formação, empreendedor por vocação e sempre a fervilhar de ideias, decidiu renovar o pequeno prédio da Travessa das Laranjeiras para criar o bed & breakdast Orange 3 House (trocadilho sonoro entre tree e three, brincando com o nome da rua, a laranjeira defronte da casa e o número de quartos da guesthouse). Tive a sensação de ser um velho amigo de Igor, como se nos conhecêssemos há muito tempo e nos encontrássemos frequentemente. Sentado à conversa na zona de entrada do edifício, que funciona como cozinha e sala de pequenos-almoços, foi precisamente isso que senti: que estava a ser recebido em casa de um amigo. E essa sensação não tem preço.
Saí novamente para jantar, aventando a possibilidade de um reencontro para um copo tardio e só regressei à Travessa das Laranjeiras por volta da uma da manhã. Fui tentado pelo burburinho vindo dos bares da Bica, mas acabei por resistir a um gin tónico no Hendrix e entrei na Orange 3 House preparado para dormir. À minha espera, um pequeno mimo: figos secos do Algarve, região de onde Igor é originário.
Assim que cheguei ao quarto, tinha a Bica inteira lá dentro. Foi um susto. Ouvia as conversas da rua, as gargalhadas de grupos de amigos, tudo. Por momentos, pensei que mais valia ir beber o tal gin dado o barulho no quarto, mas algo em mim me fez parar para pensar que não, não era possível, algo estava errado. Fui à janela e – claro! – estava aberta. Mal a fechei, entrei no mundo do sossego absoluto e, da vida noturna na Bica, literalmente ali a dois passos, nem mais um pio.
Dormi como dizem que os anjos dormem. Confortável, de sorriso na boca e a flutuar na maciez do edredão. De manhã, a claridade de Lisboa iluminou o meu quarto e, quando desci para a cozinha, já Joana tinha o pequeno-almoço preparado para que o meu dia começasse em modo alegre.
Não dá para descrever quão bem me senti na guesthouse Orange 3 House B&B. Foi a experiência mais “normal” do mundo, no bom sentido, como se fosse dormir à minha casa na Bica. Só tive pena de não me despedir de Igor mas, bem vistas as coisas, aos amigos diz-se apenas “até breve”.
Como é o Orange 3 House B&B?
“Com a Bica literalmente a dois passos, um refúgio de tranquilidade e bom gosto numa bela zona de Lisboa.” Filipe Morato Gomes
Localização
A Travessa das Laranjeiras é uma pequena artéria pedonal junto ao elevador da Bica, uma área de Lisboa com bom ambiente e bares muito interessantes para toma rum copo à noite, nem diferente da confusão juvenil das noites do Bairro Alto que fica nas proximidades (mas ainda assim suficientemente distante). A Orange 3 House B&B está ainda a dois passos do Príncipe Real, o bairro da moda da capital portuguesa – onde tudo parece estar a acontecer. O acesso ao Largo Camões e a toda a zona do Chiado e Rossio, no coração da Baixa lisboeta, faz-se facilmente a pé. Em suma, uma localização excelente.
Morada: Travessa da Laranjeira, 6, 1200-239 Lisboa
Quartos
A Orange 3 House B&B é um prédio antigo recuperado com extremo bom gosto. Os três quartos da Orange 3 House são irrepreensíveis sob todos os pontos de vista – do conforto à decoração, das amenidades ao bem-estar que proporciona. O branco é o tom dominante, o que torna os espaços mais amplos e luminosos. Eu fiquei no terceiro e último piso e, apesar de não ter as vistas de outros locais, nem a escadaria me impediu de ter aquela sensação de felicidade por chegar a um local onde me sinto bem para passar a noite.
Atmosfera
Antes de mais, referência à energia e simpatia de Igor e ao profissionalismo de Joana – e são ambos incrivelmente atenciosos. Quando conheci Igor, tive a aquela sensação agradável de ter chegado a casa de um amigo de longa data – e isso vale ouro no mundo da hotelaria.
A guesthouse parece-me pensada para casais urbanos de todas as idades, desde que não tenham limitações de locomoção. Recebe muitos hóspedes europeus, incluindo portugueses, e, mais recentemente, começou a ser descoberta por hóspedes brasileiros. Dada a ausência de uma sala comum e o facto de não ser um apartamento, não me parece um local onde os turistas passem muito tempo, até porque Lisboa é uma cidade absorvente que exige tempo e atenção a quem a visita. Para quem viaja com filhos ou tem dificuldade de adaptação a gastronomias diferentes (como muitos viajantes do extremo oriente), a cozinha do rés-do-chão, equipada na perfeição, fornece um bom porto de abrigo.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Simples mas perfeitamente adequado, até porque não sou pessoa de grandes extravagâncias gastronómicas logo pela manhã. Joana tinha preparado uma mesinha com vários tipos de pão, compotas, queijo, fiambre e alguns doces caseiros, além do tradicional leite, café ou chá – seleção perfeitamente adequada para um café da manhã caseiro (incluído na diária). Apesar de o pequeno-almoço não ser um marco distintivo deste Bed & Breakfast, não senti falta de absolutamente nada para começar bem o dia. E a cozinha está à disposição dos hóspedes com desejos matinais especiais.
Conclusão
- Pontos fortes: cozinha totalmente equipada, conforto e bom gosto da recuperação, isolamento acústico, staff irrepreensível.
- Pontos fracos: as escadas podem ser difíceis para pessoas com problemas de mobilidade, mas quanto a isso nada há a fazer neste tipo de guesthouses instaladas em património antigo recuperado.
- Em resumo: um refúgio de tranquilidade e bom gosto numa bela zona de Lisboa.
- Ideal para: casais (sem dificuldade de locomoção).
- Preço: desde 65€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: dez. 2013