Hotel Teatro, vamos entrar em cena

Hotel Teatro

Não é preciso ser um apaixonado pelo teatro para gostar deste Hotel Teatro. Mas, se soubermos um pouco da história dos palcos portuenses e, em particular, da história da eficídio que alberga o hotel, é difícil não nos apaixonarmos pelo trabalho de decoração da designer Nini Andrade Silva.

Se, por fora, o edifício ainda parece um vulgar prédio de escritórios (não fora aquelas imponentes portadas em bronze, com um verso do dramaturgo portuense Almeida Garrett a dar-nos as boas vindas), é difícil imaginar o que se encontra lá dentro.

O que inspirou Nini Andrade Silva foi o fato de naquele mesmíssimo local ter funcionado o Teatro Baquet, impulsionado por um alfaiate-empresário que abriu a sala de espetáculos há um século. Trinta anos depois, um violento incêndio reduziu a pó toda a estrutura da sala em menos de cinco minutos.

Nini quis trazer esse fogo ao novo hotel, pintou tudo de dourado e ressuscitou o teatro das cinzas de um edifício de escritórios, oferecendo à cidade do Porto um espaço cheio do glamour das artes de palco, que se sente desde a porta de entrada, onde as palavras de Garrett parecem inscritas em ouro ardente: “Seus olhos – se eu sei pintar/ o que os meus olhos cegou –/ Não tinham luz de brilhar/ era chama de queimar;/ e o fogo que a ateou/ Vivaz, eterno, divino. Como facho do destino”.

Passadas as portas de bronze, dirigi-me à bilheteira para escolher o “lugar”. Estava um casal alemão a fazer o check-in. Sentei-me no sofá a fazer lembrar uma bobine de cinema e quis ter tempo para reparar nos pormenores decorativos. Eram muitos, e estavam por todo o lado, sempre ligados às artes de palco – cabides com adereços pendurados, qual guarda-roupa de uma peça de teatro da Broadway, fotografias de espetáculos, projetores de iluminação. Iriam continuar nos outros espaços comuns, nas paredes e corredores, até desaguar no quarto.

Não escolhi o quarto. Tinham-no reservado por mim, e escolheram-no muito bem. Com a melhor das simpatias e do profissionalismo, entregaram-me o bilhete-chave para um quarto Audience. Dispensei as dicas sobre a cidade do Porto que se disponibilizaram para me oferecer e segui para o quarto, onde me esperava uma garrafa de vinho e chocolates.

Gostei do ambiente, apesar de escuro. Mesmo abrindo as pesadas cortinas (como se estivesse nos camarins, na parte de trás de um palco), a luz natural não chega para clarear o escuro dos castanhos das paredes e cortinas. Mas pareceu-me o ambiente ideal para uma noite romântica, com jogos de luz indireta e os brilhos dourados da banheira cor de bronze que sobressaía, imponente, no meio do quarto. Mas não é um quarto para ser ocupado por hóspedes com pruridos, que gostam de se esconder na casa de banho para os atos de higiene mais íntimos. Tudo é transparência. E sofisticação.

Apesar da muita vontade, achei um desperdício experimentar tamanha banheira, que facilmente se transformaria num spa de relaxamento em pleno quarto. Optei pelo chuveiro, com pressão generosa e água abundante. O quarto tinha todos os requisitos de um hotel quatro estrelas – televisor LCD, serviço de chá e minibar recheado, mesa de trabalho e confortável espaço de leitura e, melhor ainda, uma espaçosa cama de casal coberta com lençóis de primeiríssima qualidade e conforto.

O hotel é servido por WiFi gratuito, ginásio e serviço de lavandaria. Para comer, o muito elogiado restaurante Palco e o bar Plateia, têm sempre sugestões diárias apelativas. Mas não cheguei a experimentar.

Localização

O Hotel Teatro está a pouco mais de cem metros da Estação de São Bento, a mais bonita estação ferroviária portuense. É vizinho do teatro Sá da Bandeira, afamado pela exibição filmes para adultos, mas a zona é segura e recomendável. Fica pertíssimo da Avenida dos Aliados – a “sala de visitas da cidade” – e a curta distância da Torre dos Clérigos e da rua das Galerias de Paris, principal centro de animação noturna onde se encontram dezenas de bares e restaurantes, bem como algumas das principais casas de espetáculo do Porto, como o Teatro Nacional São João, o Rivoli ou o Coliseu.

Outros pontos “obrigatórios”, como o morro da Sé, lá em cima, ou a Ribeira, lá ao fundo, estão a uma distância que se conquista bem a pé. Com o metro à porta, o carro nem precisa de sair do estacionamento do hotel.Morada:Rua Sá da Bandeira 84, 4000-427 Porto

Quartos

O Hotel Teatro dispõe de 74 quatros distribuídos por seis pisos, todos eles decorados com tons de ouro e bronze e jogos de luz indireta. Como não podia deixar de ser, num espaço em que o tema é exaustivamente explorado, os “espetadores” terão de escolher um “lugar” na plateia, nas galerias ou na tribuna. A maioria é da tipologia Gallery, que corresponde a um quarto standard, mas há 11 quartos da tipologia Tribune com áreas a rondar os 30 metros quadrados.

Os quartos Audience, onde fiquei – a primeira plateia, por assim dizer -, são ainda mais espaçosos e têm vista para o terraço interior do edifício. Igualmente espaçosos mas com vista para a rua Sá da Bandeira, há também suites equipadas com cama king kizee sofá-cama. cama. Para dar resposta a famílias, há quartos comunicantes na tipologia Gallery e Tribune e existe, também, um quarto adaptado para pessoas com mobilidade reduzida.

Atmosfera

Muito requinte e glamour, com os tons de bronze e ouro a aquecer os ambientes propositadamente escurecidos. A clientela faz-se de gente aparentemente sofisticada, mas sem exageros que intimidem quem estiver a chegar da estação de mochila às costas e um par de jeans no corpo. O ambiente romântico propicia a maior procura por parte de casais, maioritariamente jovens – mas nem sempre.

Pequeno-almoço (café da manhã)

O pequeno-almoço no Hotel teatro é servido no restaurante Plateia e oferece uma ampla variedade de fruta, pão e doces, sumos e outras bebidas, entre as quais, um inusitado champanhe. Logo pela manhã, não obrigado. Resisti. Assim como resisto com facilidade às viennesoiries que os franceses decretaram como tradição e não troco um pão com manteiga fresco por um croissant ou um pain aux chocolat. O que não resisti foi a a um pastel de nata que tinha ótimo aspeto e cujo sabor não me desapontou. O pequeno-almoço é servido até às dez da manhã e está incluído no preço.