Hotel São João de Deus
Tive sorte de na minha primeira (e tardia) vez em Elvas ter ficado num hotel que, à sua maneira, é uma síntese da história desta cidade fronteiriça. Afinal, o Hotel São João de Deus ocupa um edifício que foi convento, hospital militar e está integrado nas muralhas que fazem a fama de Elvas – e de que maneira: a sensação de estar mergulhada na piscina, ao nível da muralha, será indescritível. Será porque não pude experimentá-la, que o trabalho não deixou tempo. Afinal, estive no hotel quando Elvas foi declarada Património da Humanidade e havia muito para ver.
Mal sabia eu quando cheguei a Elvas para descobrir a fortaleza seiscentista que lhe valeu o título da UNESCO que ia ficar a dormir colada a ela. Ao longe, já vemos a placa a anunciar o Hotel São João de Deus, ao lado de torre sineira, no topo de telhados a rematar volumes brancos enquadrados por trepadeiras floridas em rosa forte – estive no hotel em agosto. A entrada é numa pequena praça, onde o edifício atravessa duas ruas em arcos: a fachada é austera, só com uma pequena varanda com arcos singelos pintados a amarelo. Tem um ar de fortaleza e a porta, pequena, parece contradizer a vastidão do hotel. No interior é possível perdermo-nos – ou se calhar eu sou muito distraída – nos imensos corredores cobertos por tapetes vermelhos com o monograma dourado do Hotel São João de Deus, nos salões que se vão abrindo. Na verdade, muitas vezes, para ir de um sítio a outro fi-lo por tentativa e erro, percorrendo espaços na penumbra.
O Hotel São João de Deus é um bom local para começar a descortinar a história de uma cidade que nasceu e se desenvolveu à sombra de muralhas; sempre em contraponto ao seu vizinho ibérico. Na Elvas-Elvas, com Badajoz à vista, o Hotel São João de Deus acompanha a dos últimos séculos da cidade. O Convento-Hospital Real Militar foi construído em 1645 e funcionou como hospital militar (até 1976), respondendo a uma diretiva real que ordenava a construção de hospitais militares nas principais praças-fortes do país. E Elvas foi durante vários séculos a principal praça do país – “a chave do reino” -, graças à sua posição geográfica estratégica e à extraordinária muralha seiscentista (a última de uma série de muralhas que existiram na cidade desde tempos muçulmanos), paradigma da engenharia militar.
No Hotel São João de Deus cruzaram-se as duas principais vocações da cidade, a militar e a religiosa. E agora, que ela vive o resto da sua vida como Património Mundial, o vetusto edifício também se oferece ao lazer. Abriu como hotel em 2004, e nada expressa melhor a nova alma do edifício e da cidade do que a zona das piscinas: no topo das muralhas, agora vive-se uma tranquilidade inesgotável, com vista para o sistema defensivo de Elvas, em reforma dourada.
Como é o Hotel São João de Deus?
“Foi Convento-Hospital Real Militar Real agora vive uma reforma dourada como hotel. À sombra das muralhas de Elvas, dorme-se dentro da história.” Andreia Marques Pereira
Localização
O Hotel São João de Deus situa-se numa das entradas do centro histórico de Elvas (que corresponde ao seu perímetro amuralhado), no baluarte São João de Deus. É fácil de encontrar e tem estacionamento: o carro pode ficar parado para descobrir o valioso património da cidade – a única exceção é o forte de Senhora da Graça, a norte, a estrutura que mais me impressionou pela dimensão, complexidade e beleza mas também pelo abandono e estado acelerado de decadência. O famoso Aqueduto da Amoreira começa perto do hotel.
Morada: Largo S. João Deus 1, 7350-000 Elvas
Quartos
O Hotel São João de Deus tem 56 quartos e o que me calhou em sorte será dos piores. Na verdade, a única coisa boa do meu quarto foi a casa de banho, moderna, limpa e completa. O quarto em si era desconfortável e com ar de desleixo. Grande e com pé direito interminável, tinha apenas uma janela com vista para telhados e outras paredes do edifício, o que o tornava muito escuro. O mobiliário era antigo mas sobretudo velho, mal cuidado – ainda que a cama fosse grande. Não liguei a televisão, mas o modelo antiquado fazia prever o pior. Tendo estado a ver fotos dos quartos no site do hotel, fico sem saber se tive o azar de ter ficado num dos piores ou se quartos como o meu são a regra e os das fotografias a exceção.
Atmosfera
Tranquilidade foi o que encontrei no Hotel São João de Deus. Não me cruzei com muita gente mas também o hotel é enorme, com espaços amplos como convém a um edifício com estes pergaminhos. Os painéis de azulejos que pontuam muitas das áreas públicas do hotel – na área das piscinas, o amarelo forte das paredes em combinação com os painéis fizeram-me imaginar, por breve momento, um jardim setecentista – são uma surpresa. Gostei do bar e gostei ainda mais do jardim-pátio empedrado abrigado por grossos muros de pedra. Com as suas laranjeiras, trepadeiras e flores, é um verdadeiro oásis com um perfume árabe e um bom local para combater o calor estival de Elvas.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O café da manhã é preguiçoso – em variedade e qualidade. Numa região com tantas provas dadas em termos de gastronomia e num hotel de quatro estrelas é incompreensível.
Conclusão
- Pontos fortes: localização, arquitetura, história do espaço e ter estacionamento.
- Pontos fracos: o wi-fi não funciona bem, alguma degradação do espaço (pintura, portas), má insonorização (pelo menos do meu quarto, onde conseguia ouvir tudo o que se passava no corredor).
- Em resumo: recomendável para quem quer conhecer Elvas e a região envolvente.
- Ideal para: para quem gosta de história, incluindo famílias com crianças – que aqui vivem uma experiência inolvidável.
- Preço: desde 55€ duplo · Ver preços