Eurostars das Letras
Na noite em que me alojei no hotel Eurostars das Letras, eu era a antítese de um homem de negócios endinheirado: em vez do Mercedes com motorista, cheguei de metro à Avenida da Liberdade, segui a pé pela Rua do Salitre até à porta do hotel carregando apenas uma pequena mochila com roupa do dia e uma messenger bag com o computador portátil, e entrei vestindo calças de ganga, sem gravata nem camisa. Estava curioso para ver como seria o tratamento à chegada.
Os grandes hotéis são por norma mais impessoais, mas notei que o staff do Eurostars das Letras – da receção à sala de pequenos-almoços – se esforça por transmitir humanidade no atendimento, coisa que, por si só, é de realçar num hotel com dezenas de quartos.
Não senti, também, aquele pretensiosismo estilo não-me-toques-que-somos-muitos-chiques que costuma me irritar em determinados ambientes ditos mais sofisticados. Fui tratado com toda a normalidade, de forma correta e profissional – não fui desprezado por levar uma mochila, nem endeusado por estar num hotel de cinco estrelas. Aplausos. Para mim, que valorizo o profissionalismo mas detesto bajulações, começou bem a estadia no Eurostars das Letras.
Atravessei um hall imensamente amplo, decorado com um luxo opulento e por vezes extravagante, a caminho do elevador. Subi ao quarto do hotel e, mais uma vez, registei a ausência de um bagageiro “obrigatório” à espera de chorudas gratificações. Não sei que expectativas trazia quando me alojei no hotel, mas estava surpreendido com a atitude corretíssima dos funcionários.
Na suite que me foi destinada no sétimo piso, tinha um prato de frutas laminadas à espera e um espaço enorme. Tinha uma sala com sofá, vastos armários para quem viaja com muita roupa ou se aloja no hotel por longos períodos de tempo, e uma cama king size também ela colossal e confortável. Na decoração predominavam tonalidades escuras que, embora adequadas, tornavam o ambiente elegante mas menos alegre e luminoso. Lá fora, uma varanda muito agradável mesmo num dia frio de inverno como o que encontrei em Lisboa, com vistas para o Castelo de São Jorge e a Baixa da cidade, ao fundo, beneficiando da altura do edifício do hotel.
Saí do quarto não sem notar a temperatura um tudo ou nada elevada do ar no corredor, a caminho de uma Lisboa cada vez mais trendy e sofisticada. Ignorei a presença do afamado restaurante vegetariano Os Tibetanos nas imediações do Eurostars das Letras e fui caminhando à procura de uma proposta gastronómica que me parecesse interessante. Encontrei por absoluta casualidade n’O Prego da Peixaria, um espaço recém-aberto e com um conceito curioso bem perto do Príncipe Real, um dos bairros onde tudo parece acontecer hoje em dia em Lisboa. Jantei um delicioso prego em bolo do caco e caminhei até ao Eurostars das Letras para, então sim, fazer jus ao nome aproveitando as últimas horas do dia para escrever numa providencial escrivaninha colocada na sala da suite. O hotel pareceu-me verdadeiramente pensado para quem viaja em trabalho – das condições existentes nos quartos até às mesinhas estrategicamente colocadas no hall de entrada do hotel para reuniões mais ou menos formais de homens e mulheres de negócios.

Quando tocou o despertador, manhã cedo, a vontade de sair daquela cama tão confortável não era muita. Desci à sala de pequenos-almoços para um piso subterrâneo (costuma ser um mau sinal quando se desce muito para tomar o café da manhã) e tive nova surpresa ao constatar que, ao contrário do que antecipara enquanto descia no elevador, a sala era razoavelmente luminosa fruto de umas portadas de vidro amplas e com “vista” para um pequeno pátio.
De estômago reconfortado, era então hora de fazer check-out e me despedir do hotel com uma sensação curiosa: a de que, mesmo estando num hotel de luxo com cinco estrelas e algum formalismo (e portanto fora do meu habitat natural), nem por um minuto me senti deslocado no Eurostars das Letras. Mérito para o staff e para quem gere o hotel.
Como é o Hotel Eurostars das Letras?
“Parece verdadeiramente pensado para quem viaja em trabalho – das condições existentes nos quartos até às mesinhas estrategicamente colocadas no hall de entrada do hotel para reuniões.” Filipe Morato Gomes
Localização
Bem a propósito do público a quem o luxo de um cinco estrelas apela, o Hotel Eurostars das Letras fica a escassos metros da Avenida da Liberdade, zona comercial de Lisboa onde se instalaram as lojas das marcas mais luxuosas e caras do mundo. O acesso ao coração da Baixa lisboeta, mormente as zonas do Rossio e Chiado, faz-se facilmente a pé, de transportes públicos (uma ou duas paragens de metro, respetivamente) ou – para os hóspedes mais exigentes – numa curtíssima viagem de táxi.
Morada: Rua Castilho 6 – 12, Coração de Jesus, 1250-069 Lisboa
Quartos
Fiquei numa suite do outro mundo, enorme, com uma sala com sofá e televisão, um quarto com espaço para uma família, uma cama enorme e confortável (colchão muito bom, mas para o meu gosto poderia ser mais duro), outra televisão e armários maiores do que os de minha casa, e que incluía uma varanda com vistas reconfortantes sobre a luz de Lisboa. A casa de banho, bom, tinha uma banheira e também um chuveiro com micro-jatos de hidromassagem, e ainda todas as amenidades próprias de um hotel de luxo, incluindo um secador de cabelo a piscar o olho aos hóspedes do sexo feminino. Nada a reclamar, exceto porventura os tons castanho escuro escolhidos para o quarto, que retiram alguma luminosidade ao espaço.
Atmosfera
Pareceu-me um hotel marcadamente business classe alta, embora a maioria dos hóspedes com que me cruzei, especialmente ao pequeno-almoço, fossem casais estrangeiros aparentemente em turismo (ouvi espanhol, brasileiro e um outro idioma que me pareceu russo). De manhã, no entanto, as mesas do lobby de entrada albergavam quatro grupos de homens e mulheres com os seus computadores portáteis abertos, em reuniões de negócios.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Atendimento simpático e competente numa sala suficientemente ampla e a expectável vasta seleção de iguarias de um hotel de cinco estrelas. Ovos mexidos, uma apetitosa tábua de queijos, uma boa oferta de fruta inteira e laminadas, muitos presuntos (a cadeia Eurostars é espanhola) e até tomate e orégãos junto a uma torradeira para preparar bruschettas, para além de cereais de vários tipos, sumos, chá e café, e ainda boiões de mel e compotas de marca própria. Perfeito para começar o dia, e sem demasiados formalismos.
Conclusão
- Pontos fortes: profissionalismo do staff, quarto espaçoso e completamente equipado; café da manhã completo.
- Pontos fracos: luxo é luxo, e nesse aspeto nada tenho a reclamar. Mas se tivesse mesmo de apontar qualquer coisa menos brilhante, pediria um pouco mais de criatividade e arrojo na decoração um tanto ou quanto convencional das suites (mas perfeita para o tipo de hóspedes que recebe).
- Em resumo: opção excelente para quem procure um hotel de luxo em Lisboa centralmente localizado.
- Ideal para: viajantes de negócios, turistas que apreciem o luxo.
- Preço: desde 65€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: dez. 2013