Hotel Pão de Açúcar
O Pão de Açúcar abriu há 60 anos e, a favor da sua história, terá sempre o facto de, então, nesses anos de ditadura e restrição, ter sido o eleito de artistas famosos como Amália Rodrigues ou João Villaret nas suas digressões pelo Porto. Eram os artistas, mas também os visitantes brasileiros que o elegiam nas visitas de negócio à cidade – daí o nome, de Pão de Açúcar, evocando o morro carioca. Hoje em dia saímos do hotel Pão de Açúcar com a certeza de que não nos vamos esquecer da estadia. Isso acontece por causa da marcante decoração dos espaços públicos do hotel, verdadeiro catálogo de colecionismo retro.
O Hotel Pão de Açúcar partilha a entrada do edifício com outros serviços e escritórios – como os consultórios de médicos e advogados -, pelo que os quartos propriamente ditos só começam no terceiro andar. Ainda no rés-do-chão, há um elevador reservado aos hóspedes do hotel e é a ele que me dirijo depois do simpático funcionário me perguntar pela viagem, se precisava de um mapa do Porto ou de lugar para estacionar o carro. Foi um check-in profissional e, ainda assim, bastante rápido. Mal saí do elevador no quarto andar, onde ficava a suite que me esperava, confrontei-me com um carrinho de choque em vez de um candeeiro, e com uma antiga bomba da gasolina da Sacor ao invés de um móvel com livros. Estava avisada para o que aí vinha.
Ainda pensei em continuar a apreciar a “exposição” que o hotel me oferecia patamares adentro, corredores fora, escadas acima. Mas decidi que seria melhor fazê-lo de manhã, na subida para o pequeno-almoço, servido no sexto andar, numa sala que dá passagem para um bonito terraço panorâmico – “o único sítio no hotel onde, se o desejar, poderá ir fumar um cigarro”, avisaram-me na receção.
Pousei a magra bagagem no quarto, espreitei os aposentos, e fui embirrando com os interruptores para acender as luzes – as tomadas estavam mais altas do que o costume, e algumas em locais inusitados. Pude, depois, entregar-me ao colchão e às mantas pesadas. Bem como eu gosto: prefiro desligar o ar condicionado (o ar estava já suficientemente aquecido) e manter os cobertores disponíveis. Em noites frias, agrada-me sentir peso sobre o corpo. A noite foi confortável e tranquila.
De manhã, na subida para o pequeno-almoço, dispensei o elevador para melhor poder apreciar as relíquias espalhadas pelos andares do Hotel Pão de Açúcar. A escadaria do prédio é um elemento bonito de se apreciar, por si só. Quando o seu acesso está recheado com televisões antigos, balanças de mercearia, malas de viagem, rádios e candeeiros, a “viagem” torna-se ainda mais estimulante.
O melhor desta exposição vintage está, porém, numa sala do rés-do-chão junto à receção do hotel. Nesse espaço, que funciona como bar, podemos encontrar os elementos mais marcantes desta coleção pessoal, feita de um espólio angariado pelo atual diretor do Pão de Açúcar, membro da família Barrias – que é também proprietária de verdadeiros ex-líbris da baixa portuense, como o são os cafés Majestic e Guarany.
Filipe Barrias descreveu-me os objetos mais marcantes desta sua exposição, que visita diversos elementos do século passado: recordações de viagem (há bilhetes e malas da Varig, e peculiares máquinas de barbear de pilotos da TAP dos anos 60), cadeiras de barbeiro, secadores de cabeleireiro, máquinas de café, produtos de mercearia, slot machines e velhos telefones e, o mais marcante dos objetos, a frente de um Ford Anglia a irromper sala dentro.
Sim, são os “automóveis”que dão mais impacto à decoração do Hotel Pão de Açúcar, se atentarmos no facto de haver pelo menos seis carrinhos de choque espalhados pelo hotel. Faziam parte da pista de diversões que, em 1975, ainda funcionava no Palácio de Cristal. Filipe Barrias foi encontrá-los “estacionados” num armazém perdido em Oliveira de Azeméis. E agora estão de novo, disponíveis e palpáveis, num hotel-montra que recebe hóspedes de todo o mundo.
Como é o Hotel Pão de Açúcar?
“Deve ser o único hotel no mundo a ter a frente de um Ford Anglia no bar e a decorar os patamares de acesso aos quartos com carrinhos de choque.” Luísa Pinto
Localização
Em pleno coração da cidade, pertíssimo da Câmara Municipal do Porto e da Avenida dos Aliados, a entrada para o Hotel Pão de Açúcar faz-se pela Rua do Almada, uma artéria que se tem vindo a afirmar como um crescente polo de animação, com bares, restaurantes e lojinhas alternativas. Perto de tudo e com todos os meios de transporte à porta, o Pão de Açúcar disponibiliza lugares de estacionamento, pagos à parte, e que custam 6€ para o período entre as 19:00 da noite e as 10:00 da manhã seguinte.
Morada: Rua do Almada 262, Santo Ildefonso, 4050-032 Porto
Quartos
O Pão de Açúcar tem 50 quartos de várias tipologias, desde a individual à familiar, passando pelas suites e pelos quartos deluxe, alguns deles com acesso a um terraço privativo. Todos estão equipados com casa de banho privativa e secador, internet gratuita e televisor LCD de grande formato. O mobiliário é do estilo clássico, com pequenos apontamentos retro. O quarto que me foi atribuído estava virado para um pátio interior, o que o tornava muito tranquilo. Na casa de banho, também ela em traço antigo, não existia aquecimento e foi necessário ligar um radiador a óleo – atrasou-me o banho uns cinco minutos, mas resultou na perfeição.
Atmosfera
Recebe hóspedes de todo o mundo: para além dos muitos europeus, há registos do Irão, da Austrália e até do Cazaquistão, da Coreia do Sul e da China. Mas são os brasileiros e os norte-americanos os únicos a merecerem a bandeira da pátria hasteada no terraço do edifício. Também há clientes para todas as idades, com maior incidência nos casais e jovens ávidos de experiências mais económicas. Talvez por isso o Hotel Pão de Açúcar apresente já alguns “tiques” que encontramos em hostels. Por exemplo, caixotes com livros usados para troca ou, até, o aviso nas casas de banho que é expressamente proibido lavar roupa no quarto.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Está incluído na diária e é servido no sexto andar entre as 7:30 e as 10:00. Deve ser bem mais agradável servimo-nos do buffet e sair para ocupar uma das mesas do terraço, que fica no alinhamento visual do magnífico edifício da câmara do Porto. Em dias de chuva, como o que eu apanhei, teremos de o tomar numa sala pouco ampla, com apenas oito mesas (o pequeno-almoço poderá ser servido no quarto, mas é cobrada uma taxa extra).
Para além dos habituais pães e croissants que compõem o café da manhã continental, o hotel tem muita oferta para os mais gulosos, com bolos de várias espécies – mas que eu dispensei, ficando-me pelas fatias de queijo e fiambre, a rechear um pão, acompanhado de sumo e de café de máquina.
Conclusão
- Pontos fortes: uma decoração original; a localização; bom preço.
- Pontos fracos: nada de relevante a assinalar.
- Em resumo: bom ponto de partida para conhecer o Porto, fazendo uma viagem ao século passado português.
- Ideal para: casais de todas as idades, empresários com orçamento budget e famílias.
- Preço: desde 47€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: dez. 2013