Hotel da Oliveira
Cheguei ao centro de Guimarães ao fim da tarde, ainda o lusco-fusco não estava instalado nem a cidade se tinha enfeitado com a iluminação que lhe dá ares de presépio e de festa. Eu já sentia, porém, tudo leve e iluminado. Vou tentar explicar. Nunca vivi em Guimarães, mas fui lá várias vezes, quase há duas décadas, na altura em que estudava e vivia em Braga, o outro polo da Universidade do Minho. E já nessa altura tinha a cidade de Guimarães como exemplo de uma bem conseguida requalificação de um centro histórico.
Não ia lá, porém, há demasiados anos. Falhei até a Capital Europeia da Cultura de 2012, porque estava fora de Portugal. E tive pena. Já não ia a Guimarães há muito. Mas aquela sensação de satisfação ninguém ma tirava, e ainda nem tinha visto as luzes. Estava a ter um déja vu, apesar de muita coisa estar diferente. A começar por este belíssimo Hotel da Oliveira.
A localização é a melhor possível, no coração do centro histórico reconhecido como Património da Humanidade. Ali, no Largo da Oliveira, defronte do icónico Padrão do Salado (um monumento nacional mandado erguer em 1340), não é à distância que se notam as diferenças do espaço que eu conhecia – antes era uma Pousada, do grupo Pousadas de Portugal. É mal atravessamos a porta que nos confrontamos com um admirável mundo novo (com a assinatura do designer de interiores Paulo Lobo) e nos deparamos com o belíssimo hall de entrada e receção deste boutique hotel – e não será o meu gosto pessoal por livros e alfarrabistas a moldar esta minha opinião. É um espaço cuidado, decoração discreta, cores suaves e luz ténue, para que se ilumine ainda mais o sorriso rasgado de quem, do outro lado do balcão, nos dá as boas vindas.
Recebi as indicações sobre o Hotel da Oliveira e o meu quarto, sugestões sobre o que visitar na cidade de Guimarães e informações sobre o restaurante (aceitei fazer reserva para o jantar), e logo comecei a satisfazer as minhas curiosidades. Queria perceber como é que o hotel se propunha a concretizar o tema que lhe faz a assinatura: “Feel Guimarães”, sinta a cidade. Comecei a percebê-lo, desde logo, no corredor que me levaria ao quarto. A frase “Antes que se separem / os nossos corações / hão-de as oliveiras / dar cachos e limões” estava bordada em tecidos gigantes emoldurados em caixas de luz que iluminavam o corredor. São da autoria de Maria Sousa, a artista convidada a assinar, pelo período de um ano, um trabalho em torno da cidade de Guimarães, das suas “gentes”, tradições, património ou cultura.
Esta foi a forma – feliz – de levar os hóspedes a sentir Guimarães. Iluminar-lhes a atenção e mostrar-lhes os símbolos, as datas históricas, as personagens, os movimentos modernos. Vai acontecer em cada um dos 20 quartos do Hotel da Oliveira. Os temas previamente escolhidos foram levados aos alunos de artes da Escola Secundária Martins Sarmento e eles fizeram as notáveis ilustrações que imperam na decoração de cada aposento. Na mesa de trabalho estava o folheto explicativo do significado de cada um deles – que não é só de história que versam estes temas; também lá está a modernidade, como por exemplo, a Capital Europeia da Cultura ou as indústrias criativas que orgulhosamente moram no “berço da nação”.
Foi quando desci para jantar – um serviço irrepreensível, uma sala muito bem decorada e um menu variado e sugestivo (a especialidade é bacalhau com broa; mas o que eu provei, e recomendo, é o robalo com arroz selvagem e cogumelos shitake) – que me apercebi da iluminação que tomara, entretanto, conta de todas as janelas e fachadas. É assim no Natal, na Páscoa e no verão. Agora sim, a cidade estava de facto iluminada, com ar de festa e de presépio. E o hotel estava na localização perfeita, a convidar a uma passeata noturna pelas ruelas e pátios à procura de mais pormenores, montras e esplanadas a merecer uma paragem. Regressei ao hotel de alma cheia com este passeio. E continuei a “sentir Guimarães” no interior do meu quarto.
Como é o Hotel da Oliveira?
“Design, conforto e um convite irresistível a conhecer a cidade berço a partir do seu coração. “Sentir Guimarães” não é só um tema. É uma emoção.” Luísa Pinto
Localização
Uma localização imbatível, em pleno centro histórico da cidade onde nasceu Portugal. Fica a curtas distâncias a pé do Largo do Toural, do Castelo de Guimarães e do Paço dos Duques, do museu Alberto Sampaio, da Plataforma das Artes e Criatividade. Até mesmo para o teleférico da Penha o caminho se faz bem a pé.
Morada: Largo da Oliveira,4800-433 Guimarães
Quartos
São duas dezenas de quartos divididos entre as categorias de quarto duplo, suite junior e suite deluxe. Todos eles têm a capacidade de receber uma cama extra ou um berço e oferecem as comodidades expectáveis num hotel catalogado com quatro estrelas: casa de banho privativa, ar condicionado, secador de cabelo, cofre, minibar, TV, telefone, Internet (Wireless) e roupões e chinelos.
Fiquei numa suite junior, a “Ícones”, que tinha na casa de banho uma panorâmica privilegiada para o monumento do Padrão do Salado. Tomar um duche ali é, sem dúvida, uma inspiradora forma de começar o dia.
Atmosfera
O Hotel da Oliveira recebe muitos casais, de várias idades, e algumas famílias, e ainda uns poucos viajantes independentes. Tem uma atmosfera romântica e um ambiente urban chic. A decoração é moderna e minimalista, assinada pelo designer Paulo Lobo, a convidar à cultura e ao conhecimento.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Servido no bonito restaurante HOOL, apresenta-se num buffet honesto, sem extravagâncias, mas com muita qualidade. Uma seleção criteriosa que se notou nos fatiados (queijo e fiambre), no cuidado com as dietas especiais (havia alternativas de soja) e na variedade de sumos naturais – havia quatro à escolha, mas eu mantive-me fiel ao sumo de laranja. Pão quente e variado, fruta laminada (morangos, ananás e melão) e inteira (pêras, maçãs, bananas), pedacinhos de bolo, muitos cereais à escolha e ovos confeccionados na hora, a pedido.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização, a simpatia do acolhimento, o serviço cuidado
- Pontos fracos: o carro não pode ficar na garagem nem à porta; mas há estacionamento garantido mas numa rua adjacente.
- Em resumo: uma opção de design que respeita e homenageia o ambiente histórico e patrimonial em que se insere.
- Ideal para: casais e famílias que gostem do conforto mas não dispensem o requinte do design
- Preço: desde 65€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: abr. 2014