Casa da Calçada – Relais & Châteaux
Há lugares que nos fazem sonhar, inspirando o lirismo dentro de nós, outros são luxo para a preguiça, e outros tantos em que parece que somos personagens principais de um filme de glamour – e até nem nos importamos muito. A Casa da Calçada, a funcionar como hotel de charme desde 2001 e membro da prestigiada rede Relais & Châteaux desde 2003, um edifício em pedra e pintado de amarelo-forte, no coração do centro histórico de Amarante, ajusta-se a todas essas descrições e a mais uma íntima e pessoal. É que aqui apetece dar asas à nossa veia de escritores, inspirando-nos, primeiro no cenário de decoração vitoriana, quente e aconchegante, depois na vista privilegiada para o rio Tâmega e o rendilhado de casas do centro histórico de Amarante.
Pelo menos foi o primeiro impulso que tive quando me deparei, no interior do quarto, com a secretária robusta em madeira escura e com um candeeiro elegante e de luz ténue sobre ela. Devaneios, portanto. Certamente alguém já terá escrito sobre este cenário inspirador, dentro deste palácio do século XVI que chegou a pertencer ao Conde de Redondo. Certamente aqui chegados e, olhando a paisagem, entendemos melhor o saudosismo da prosa do escritor, poeta-filósofo Teixeira de Pascoaes, ou mesmo o cruzamento do cubismo, expressionismo e futurismo das pinturas de Amadeo de Souza-Cardoso, ambos amarantinos. Mais de perto percebo que os meus devaneios não são infundados: afinal, este palácio que acolheu intelectuais, depois no século XX, chegou a servir de albergue aos comandos aliados, durante as invasões francesas, e a ilustres exilados, como a princesa austríaca Steinberg.
Cheguei num domingo ao final do dia a este hotel de charme e, por isso, um pouco contrariada por ter de sair do conforto da casa e da companhia de entes queridos, para ir para Amarante trabalhar, uma vez que andava há meses neste vai-e-vem de hotéis. Parece paradoxo, capricho, mas é pura nostalgia da vida privada. Por muito confortável que seja um quarto de hotel, não há nada como a nossa casa. É por isso que qual não foi o meu espanto quando, uma vez no quarto, a contrariedade desvaneceu-se e resolvi desfrutar do carpe diem, do ali-e-agora, não apenas pelo aconchego do ambiente, da cama fofa e lençóis macios, mas também de um robe suave, chinelos confortáveis e uma banheira de realeza. O resto pode-se imaginar, um mimo para a alma de um fim de tarde dominical.
Desde o primeiro instante, os funcionários do hotel Casa da Calçada foram além de simpáticos, muito carinhosos no trato, prontificando-se a acompanhar-me. Essa atenção estendeu-se à hora de jantar, com belas surpresas preparadas pelo subchef André Silva (cinco entradas e vários pratos principais), naquele que foi considerado o Melhor Restaurante da Europa em 2013, e já com uma estrela Michelin no comando do chef Vítor Matos. José Cordeiro, que hoje ostenta o mesmo galardão no Feitoria, em Lisboa, foi o primeiro a agarrá-la; depois, Ricardo Costa, atualmente no The Yeatman.
No dia seguinte perceberia que não são apenas os quartos e o salão de jantar que podem inspirar a imaginação: também a bela piscina com vista panorâmica, o salão de festas, a vinha a produzir vinhos verdes que levam o nome da Casa da Calçada. Mas isso são detalhes para outras divagações.
Como é a Casa da Calçada?
“Serviço de alta qualidade, requinte, sobriedade e sossego olhando o rio Tâmega é uma das inspirações deste solar do século XVI.” Vanessa Rodrigues
Localização
O hotel Casa da Calçada tem 5 estrelas e está muito bem localizado, no coração de Amarante, integrado no centro histórico, mesmo em frente à ponte velha. Desde a Casa da Calçada pode-se conhecer facilmente a cidade, caminhando a pé. Depois, está apenas a 30 minutos do Porto e da região do Douro, sendo por isso geografia privilegiada. Fica ainda a 15 minutos da Ciclovia de Amarante (9,3 km) para quem gosta de pedalar.
Morada: Largo do Paço 6, 4600-017 Amarante
Quartos
Este solar do século XVI dispõe de 30 quartos, num total de 60 camas, todos com decorações individuais, incluindo 3 suites executivas e uma suite presidencial, com sala que se pode transformar noutro quarto. Os quartos têm todos ar condicionado, telefone de ligação direta, TV cabo, mini-bar, cofre e secador de cabelo. Alguns dos quartos têm quartos de vestir autónomos. Dos cinco quartos que visitei eram todos muitos espaçosos. Para além disso, embora haja alguns quartos sem vista, a grande maioria tem ou varanda, terraço ou janela debruçada sobre o Rio Tâmega e o centro histórico.
Atmosfera
O ambiente do hotel Casa da Calçada é informal, embora o primeiro impacto por causa da decoração vitoriana, tradicionalmente inglesa, possa sugerir o contrário e intimidar. Mas os funcionários tratam de nos pôr à vontade. Silencioso e distinto, o hotel dispõe de várias salas de estar, um bar com sofás, local para jogar cartas, sala de jogos (bilhar) e leitura, e uma esplanada quando o bom tempo permite. Como visitei o hotel em época de invernia, não pude perceber a dinâmica. Nesta altura só me cruzei com um casal de espanhóis, pois o hotel estava com baixa ocupação. Tendo em conta que a área da piscina é uma área privilegiada, com um jardim secular, dá para intuir que é o ex-líbris deste hotel de charme na época de verão.
Pequeno-almoço (café da manhã)
A primeira refeição do dia é servida, igualmente, no restaurante e no dia em que visitei a Casa da Calçada dispunha de uma mesa comum, imensa, tipo buffet, com grande oferta de frutas, nomeadamente papaia, abacaxi, banana e maçãs, bem como frutos secos, cereais e várias compotas caseiras. Há ainda vários sumos, o de laranja é natural, os restantes são sumos comercializados. Pão, doces e croissants são servidos à mesa, bem como leite, café, cevada e uma grande variedade de chás. Pedi leite de soja, pois sou intolerante a lactose, e de imediato veio um bule com essa bebida quente.
Conclusão
- Pontos fortes: sossego, tranquilidade, privacidade dentro do hotel e dos quartos que são de grande qualidade; serviço personalizado, generoso e cuidado; estacionamento privativo; tem ainda serviço de golfe e uma sala de SPA (o tratamento deve ser reservado com antecedência), embora eu não tenha conhecido estes dois espaços. Dispõe ainda de shuttle para e do aeroporto.
- Pontos fracos: o acesso entre os quartos e a piscina é feito por uma passagem exterior; para os mais recatados isto pressupõe que se exponham um pouco, pois o parque de estacionamento exterior tem vista para esta passagem.
- Em resumo: é um refúgio romântico e tranquilo para quem quer desligar do buliço urbano e desfrutar de uma bela paisagem, recarregando a energia pessoal.
- Ideal para: casais, famílias, empresários (dispõe de mesas-secretárias confortáveis para trabalhar)
- Preço: desde 99€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: jan. 2014