Gallery Hostel
Quando atravessei a enorme porta de entrada na Rua Miguel Bombarda, já muito tinha lido a propósito daquele que rapidamente se tornou numa coqueluche da hotelaria mochileira do Porto. Lá dentro, um edifício histórico recuperado das trevas por mãos habilidosas. O bom gosto nota-se imediatamente ao longo do longo corredor no restaurado piso de madeira, nas paredes cobertas pelos azulejos originais também retocados e nos tons de azul quente a dar as boas-vindas ao hóspede acabado de chegar. Do lado de dentro, sorrisos e simpatia.
O staff fez questão de me mostrar os cantos do hostel. A rampa de pedra protegida por um vidro no chão, qual relíquia arqueológica, outrora “usada por uma baronesa brasileira para transportar pipas de vinho do Porto para a cave” do edifício – uma cave hoje transformada em sala de convívio onde coabitam uma tela gigante para ver cinema ou televisão, sofás confortáveis e uma guitarra à espera de mãos que dedilhem as suas cordas. Ao fundo do corredor, a pequena sala de sala de acesso à internet que funciona como galeria de arte onde se vendem produtos regionais e objetos de design portuense (t-shirts, postais com ilustrações, cadernos de viagem ou brincos de origami). Nas traseiras, um magnífico espaço exterior raptado ao frio por uma cobertura que permite ao Gallery Hostel aumentar a sua área funcional de forma genial. No antigo quintal, a cozinha comunitária, local de passagem obrigatória à hora de jantar, e um criativo jardim de inverno onde quem fuma pode fazê-lo com dignidade e conforto sem importunar os demais. As paredes estavam transformadas em galeria de arte – no caso, com uma exposição de fotografia. Por fim, um mini-terraço que, em noites quentes de céu estrelado, deve ser um local magnífico para conversar e beber um copo de Porto. E, claro, nos pisos superiores do edifício, as camaratas onde haveria de dormir após o regresso de uma noite entre amigos nos bares das redondezas.
Instalei-me. Calhou-me em sorte o quarto nomeado em honra do pintor Júlio Resende, onde fiquei na companhia de um entradote e simpático italiano, um inglês com mais tosse que fumador inveterado, um coreano que não falava qualquer idioma inteligível e nunca largava o iPhone, e um asiático cuja nacionalidade não descortinei imerso nos seus gadgets.
Deixei as minhas coisas no quarto e desci à sala de convívio. Sendo uma terça-feira fria e bem longe da época alta, não havia muitos hóspedes no Gallery, mas deixei-me ficar por algum tempo antes de me juntar a uma multicultural mesa de jantar. Esperavam-me três entradas magníficas, uma salada bem temperada, um saboroso bacalhau com natas e um bolo de laranja para terminar, tudo acompanhado por um vinho tinto Dona Ermelinda bem agradável. Ficámos – eu, uma brasileira de Salvador, o italiano de Génova, um americano de Chicago e dois membros do staff que jantaram connosco – a conversar um pouco após terminado o repasto, até que o sul-coreano interrompeu para pedir uma garrafa de vinho e eu saí para um bar da Baixa portuense.
Regressei ao Gallery Hostel já a noite ia alta. Entrei sem fazer barulho como mandam as regras de boa convivência, subi para o topo to meu beliche e estiquei-me no maravilhoso colchão coberto por um edredão providencial. Estava verdadeiramente confortável e pronto para dormir, mas os planos saíram furados. Não fora a insistente tosse do inglês e o despertador do sul-coreano a tocar às cinco da manhã sem razão aparente e a noite teria sido bem melhor – mas isso são contingências da vida em camarata. Quanto ao Gallery Hostel, já não me admiro quando ouço dizer que é provavelmente o melhor hostel do Porto.
Como é Gallery Hostel?
“Bem no coração do bairro artístico do Porto, o Gallery é, ele próprio, uma obra-prima na arte de bem receber.” Filipe Morato Gomes
Localização
O Gallery Hostel está no coração do chamado distrito artístico do Porto, o quarteirão em torno da Rua Miguel Bombarda – reconhecida pela profusão de galerias de arte que, não por acaso, inspiram o nome do espaço. Dali, o acesso é fácil e rápido às principais áreas do centro histórico: dos Clérigos à Ribeira, passando pela Avenida dos Aliados. A movida portuense, atualmente centrada na Rua Galeria de Paris e artérias adjacentes, está a dois passos do Gallery Hostel.
Morada: Rua Miguel Bombarda 222, Cedofeita, 4050-377 Porto
Quartos
Conheci apenas as camaratas, onde dormi (o hostel tem também quatro quartos privados), que primam pela funcionalidade. O acesso faz-se por uma íngreme mas lindíssima escadaria de madeira antiga e todos os quartos têm casa de banho privada (a partilhar pelos seis hóspedes da camarata), beliches com colchões e almofadas muito confortáveis e um edredão aconchegante, ideal para uma noite fria. Não tive muita sorte com os companheiros de quarto, mas esse é um risco natural associado às dormidas em dormitórios. Cada hóspede dispõe de um enorme “armário” para os pertences, luz individual e tomada para recarregar os seus gadgets de viagem. Nada a reclamar.
Atmosfera
Hostel que se preze dá muito valor à socialização entre os hóspedes; no fim de contas, essa é uma das grandes mais-valias deste tipo de alojamento, muito frequentado por viajantes independentes e descomplicados. No dia em que dormi no Gallery Hostel, a meio da semana numa noite de quase-inverno, a casa não estava cheia mas, ainda assim, cruzei-me com viajantes de várias latitudes.
Para além do bar e dos espaços comuns do Gallery Hostel, o ponto alto da socialização são os jantares coletivos, que recomendo vivamente (10€, tudo incluído). O hostel organiza ainda passeios pedestres gratuitos pelo centro histórico do Porto e pelo distrito artístico em torno da Rua Miguel Bombarda, o que promove ainda mais o intercâmbio entre os hóspedes – maioritariamente em viagens de lazer.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Nada a apontar sobre o pequeno-almoço do Gallery. Simples mas adequado ao ambiente, coloca à disposição do hóspede a normal seleção de pão, tostas, croissants, além de sumo, chá, leite, cereais e café. Pequenos extras bem simpáticos são a possibilidade de preparar ovos e outras comidas quentes e as pequenas taças de salada de fruta com fruta da época. O café da manhã está incluído na diária.
Conclusão
- Pontos fortes: localização, magnífico aproveitamento do espaço exterior da casa para áreas cobertas comuns,staff impecável, os jantares coletivos, os tours gratuitos pelo Porto.
- Pontos fracos: as escadas podem ser um obstáculo para viajantes com dificuldades de locomoção, mas quanto a isso pouco há a fazer neste tipo de casas antigas recuperadas do centro da cidade.
- Em resumo: seguramente, um dos melhores hostels do Porto.
- Ideal para: viajantes de qualquer idade com espírito jovem.
- Preço: desde 15€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: dez. 2013