Évora Inn
Um professor de semiótica com uma loja de design em Évora teve a ideia de transformar o que poderia ser apenas mais uma porta “debaixo dos arcos” – a expressão que os eborenses usam para se referir às “arcadas” que delimitam a praça – num autêntico refúgio de arte e bom gosto.
O edifício onde se instalou o Évora Inn Chiado Design Hotel é o mesmo onde em 1910 se avisou a população de que a monarquia tinha sido derrubada e se gritou: “Viva a República”. Exatamente um século depois, as obras de restauro foram concluídas e o edifício histórico, de cinco andares, é um hoje um misto de hotel, galeria de arte, espaço de conforto e, sobretudo, um retiro inspirador.
Foi isso que eu senti: inspiração. Mérito para quem restaurou o edifício e resgatou as peças de mobiliário, tão modernas mas que não escondem a sua antiguidade – como aqueles móveis com lacados brilhantes e cores pop, a consola que está no lounge, qual piano sem cauda, agora montra de peças de joalheira e artesanato, ou a cómoda colorida a abrilhantar os lanços de escadas entre os pisos dos quartos.
Houve com certeza inspiração no momento de batizar os quartos (ou terá sido o contrário, decorou-se primeiro e batizou-se depois? fiquei sem saber, que o hotel já mudou de donos) e é inevitável não esboçarmos um sorriso quando lemos na porta Lucy in the sky, Viva la Vita ou o Revolution. Cada quarto tem uma personalidade própria. Um apontamento de cor, um pormenor inesperado, uma linguagem minimalista. Para usufruto de todos, a acolhedora sala António Ribeiro Chiado, o poeta que nasceu em Évora no tempo de Luís de Camões e que dá nome ao hotel. É uma sala-lounge serve de galeria, de zona de convívio, de recanto para ouvir música e ler um livro – mais inspiração, de novo.
O prédio hotel Évora Inn tem cinco andares, mas o rés-do-chão está ocupado por lojas. Para o hotel não há mais do que uma passagem e um lanço de escadas onde se explica, de forma criativa, porque é que o senhor Chiado é para aqui chamado. Os quartos começam a surgir no primeiro andar e o espaço comum, onde também são servidos os pequenos-almoços, está no segundo piso. Não há elevador – e isso poderá ser um problema para quem chega a Évora com muitas malas e malotes. Mas desengane-se quem pensa que ficar no quarto andar é sinónimo de castigo. Pelo contrário: a recompensa é ter acesso a um delicioso terraço com vista privilegiada para a Praça do Giraldo, a zona mais central da cidade de Évora.
Todos os quartos do hotel Évora Inn têm janelas para a rua. Uns para a mais movimentada Rua da República, outros para artérias secundárias, uma delas pedonal, como era o meu caso. Deixar as portadas para a rua entreabertas e conseguir avistar a Sé por cima dos telhados, todos eles pintados com as cores quentes do nascer do sol, mal me levantei dos confortáveis lençóis, é uma das mais bonitas imagens que guardo da estadia no Évora Inn Chiado Design Hotel.
Como é o Évora Inn Chiado Design Hotel?
“Um refúgio de arte e bom gosto, de onde um dia se gritou a revolução e hoje se respira design e tranquilidade.” Luísa Pinto
Localização
O Évora Inn fica no troço final da Rua da República, mesmo à entrada da Praça de Giraldo, o centro mais centro de Évora, deixando-o a escassos metros dos mais interessantes monumentos da cidade. Não é preciso carro para nada, pois é possível ir a pé para todo o lado. Para a Sé, para o templo romano, para a igreja de São Francisco e respetiva Capela dos Ossos, para a fundação Eugénio de Almeida e para as várias associações que dinamizam o panorama cultural da cidade. E ainda, claro, para os bons restaurantes que abundam não muito longe do Évora Inn Chiado Design Hotel – o melhor será mesmo resistir à tentação e tentar não comer demasiado, uma vez que não terá tempo de desgastar o jantar no regresso ao hotel.
Morada: Rua da República 11, 7000-656 Évora
Quartos
Os quartos são temáticos e todos têm apontamentos decorativos muito diferentes. Há-os indicados para famílias (três suites), para jovens e grupos de amigos (quatro quartos com um total de 24 camas) e para o retiro de um casal (três quartos duplos). Todos têm casa de banho, ar condicionado, televisão e internet sem fios. Os quartos chegam a ser surpreendentes. Por exemplo, no quarto Revolution temos o icónico Che na parede; no Travelling,um quarto de duas camas onde fiquei alojada, tinha vista para um elegante papel de parede com esboços de caras e sorrisos de todo o mundo.
Atmosfera
O hotel Évora Inn tem um ambiente familiar e divertido. É procurado por casais, famílias, professores deslocados que vêm dar aulas à Universidade de Évora, artistas em trânsito que estão na cidade para apresentar alguma peça de teatro. Respira-se arte. E é de manifestações artísticas e culturais que os hóspedes mais ouvem sugestões de atividades, enquanto podem folhear catálogos de exposições (não necessariamente em Évora) e apreciar as peças de design e fotografias expostas na sala comum – que também pode ser considerada como uma galeria.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Pão fresco e estaladiço, flocos e iogurte, queijo e fiambre, café, chá ou leite. E sumo. Tudo o que é “obrigatório” está colocado em cima da mesa, num ambiente familiar sem pretensões mas com qualidade, servido por uma diligente e simpática alentejana, Zezinha, que enche a sala de alegria. Gosta de meter conversa e de conhecer os seus hóspedes, percebendo-se o quanto gosta de viajar nas palavras deles. Disse-me que “conhece o Alentejo todo”, mas que nunca dormiu fora do seu “monte”, numa pequena aldeia à entrada da cidade de Évora. E não deixa ninguém levantar-se da mesa sem ter a certeza de que não precisa de mais nada. “Não quer um outro pãozinho? E um iogurte, não quer, de certeza? E agora um cafezinho, para terminar?”
Conclusão
- Pontos fortes: surpresa permanente, sempre que se atravessa uma porta e se descobre um novo espaço; a decoração minimalista mas surpreendente; o bom gosto inspirador; a localização.
- Pontos fracos: a centralidade do hotel, que eu considero uma mais-valia, pode ser um ponto fraco para os hóspedes com sono mais leve que plumas. Ouvi quem se queixasse do barulho oriundo da rua – talvez estivessem alojados no primeiro piso. Eu, no terceiro, nunca ouvi nada, mas admito que a Rua da República e a Praça do Giraldo são sinónimo de movimento a horas impróprias. Em abono dos hóspedes está o facto do Banco de Portugal ser ali ao lado e, por isso, haver sempre elementos de polícia à porta, o que ajuda a evitar alguns excessos.
- Em resumo: muito recomendável para quem procura um refúgio e recomendações para um circuito artístico alternativo no Alentejo. O pessoal da receção está muito bem informado sobre tudo o que se passa e vale a pena na cidade.
- Ideal para: casais, famílias e jovens (há quartos e ambientes para todos os gostos, sempre com design moderno).
- Preço: desde 25€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: dez. 2013