Grande Hotel do Porto
Chego para uma noite no Grande Hotel do Porto transportando todo o peso de uma história sobre a qual já tinha lido e queria viver. Já tinha entrado no hotel noutras ocasiões, mas está seria a primeira vez a transpor a recepção e salões adjacentes. Na verdade, seria a minha primeira vez no Grande Hotel com a disponibilidade para ser arrebatada pela atmosfera romântica de fin de siècle. Não é exatamente uma máquina do tempo, mas há momentos em que a ilusão é convincente neste que é um dos mais antigos hotéis do Porto ainda em funcionamento (inaugurado em 1880).
Quando entro para a minha primeira (e única) noite no Grande Hotel do Porto não o faço sozinha, portanto. Comigo vêm aristocratas, espiões, refugiados de guerra, escritores, todo um séquito de personagens romanescas e anacrónicas que frequentaram o hotel e hoje não se sentiriam totalmente perdidos. Lá fora ficou a Rua de Santa Catarina, a mais movimentada artéria comercial da cidade, e eu regresso ao passado ao encontro de um estilo de vida de que já só restam memórias em livros ou fotografias amarelecidas pelo tempo. O mármore brilha, os dourados ofuscam, os lustres deslumbram, os espelhos são inescapáveis e as colunas da sala que se abre depois da recepção (apropriadamente chamada Sala das Colunas, descobrirei) impressionam. Não preciso de esforçar-me muito para “ver” passar a comitiva imperial brasileira fugida dos ventos da República (uma das muitas histórias que a História deixou no hotel). A noite foi a de 24 de dezembro, o ano 1889 – a imperatriz Teresa Cristina não chegou a sair do quarto, o 16, onde morreria quatro dias depois; o imperador Pedro II partiu em seguida para França, com a cama. Já vinha com o pedido na cabeça: ver o quarto. Desilusão – perdeu-se com as restruturações do hotel.
Estive no Grande Hotel do Porto no final de uma profunda remodelação que lhe lavou o rosto, trazendo o século XXI a quartos parados há muitas décadas. Tive a sorte de ficar no terceiro (e último) piso e o contraste com o rés-do-chão é quase radical. Digo quase porque apesar de se notar a estrutura antiga, esta está vestida de contemporaneidade – ainda que, para meu divertimento (infantil, assumo), o soalho, revestido a alcatifa, seja verdadeiramente flutuante. O lambril branco, as paredes castanhas que começam no corredor e se prolongam no quarto são um testemunho dessa modernidade discreta e sustentável (que já o era mesmo antes da sustentabilidade estar na boca de todos os hotéis). Afinal, muito do mobiliário e objetos decorativos atuais foram subtraídos ao olvido do armazém do Grande Hotel do Porto e devolvidos à sua função original com novas roupagens, como me contou a diretora-geral. Haverá, por estes dias, algo mais contemporâneo do que o vintage em contraste com o design moderno?
Devo dizer que não aproveitei muito o quarto, porque me dediquei mais à descoberta dos recantos “históricos” do hotel. Demorei-me na Sala das Colunas, entre jornais e revistas e sobretudo com um olhar atento aos pormenores que me rodeavam. Assim continuei no bar Douro (agora The Windsor Bar), sóbrio com algo britânico na atmosfera, e no restaurante Renascença (agora D. Pedro II), onde se servem os pequenos-almoços. Janelões altos, lustres, alcatifas com monogramas (já um pouco gastas, é certo), piano de cauda e pequena varanda sobre a porta onde outrora tocava a orquestra – retirando as mesas, o cenário não terá mudado desde que Manoel de Oliveira (que aqui filmou cenas de “Cristóvão Colombo – O Enigma”) frequentava os chás dançantes do hotel. Bastam estes espaços para que continue a merecer o nome de Grande Hotel do Porto.
Como é o Grande Hotel do Porto?
“Um hotel que respira o romantismo de oitocentos enquanto vive plenamente o século XXI. Bem no coração do Porto e da sua história.” Andreia Marques Pereira
Localização
A localização é, indubitavelmente, um dos grandes méritos do Grande Hotel do Porto. A Rua de Santa Catarina é o maior centro comercial ao ar livre da cidade e tem uma localização central, perto de grande parte das atrações mais turísticas da cidade. À distância de caminhadas estão a Ribeira, as caves de vinho do Porto (em Gaia), a Torre dos Clérigos e a Avenida dos Aliados. O Teatro São João é vizinho do hotel e o centro noctívago da cidade também. A zona está bem servida de transportes públicos que em pouco tempo levam os hóspedes à beira-mar, por exemplo.
Morada: Rua Santa Catarina 197, 4050-450 Porto
Quartos
Quando se iniciou a remodelação no Grande Hotel do Porto existiam 99 quartos – e quando se pensou fazer um “upgrade” para quatro estrelas percebeu-se que se iam perder 30 quartos. Foi, por isso, decidido manter as três estrelas e fazer a reabilitação a partir daí, com conforto (e charme) q.b. (“Uma elite para todos, essa é a nossa missão”, dizem os arquitetos). O hotel ficou-se pelos 94 quartos que se dividem por 69 standard, 17 superiores e oito suites, todos não fumadores e com mini-bar. O meu foi um dos quartos superiores (todos no último piso, o mais distintivo do hotel): espaçoso e com uma simplicidade decorativa inesperada, tem mobiliário lacado de branco, iluminação suave (alguns candeeiros têm a assinatura de Souto de Moura) e um ecrã LCD na parede. De sublinhar a casa de banho, também imaculadamente branca e com chão de madeira pintada que a torna muito confortável.
Completamente diferentes são as duas suites oitocentistas (Guilhermina Suggia e Manoel de Oliveira), ícones do hotel. Têm antecâmara, sala, quarto de vestir, casa de banho (forrada a mármore), muitos veludos e o mobiliário é robusto, abundante (camiseiros, roupeiros, mesas, secretárias, sofás…) e rebuscado em dourados e mármores.
Atmosfera
O Grande Hotel do Porto vive, antes de tudo, da atmosfera. Ou melhor, dos contrastes de atmosferas: por um lado, revivemos o passado; por outro, vivemos o presente. É fácil deixarmo-nos intimidar pelo cenário, mas também é fácil escapar porque nunca somos os únicos e porque não há formalismos no Grande Hotel do Porto. Passado o primeiro impacto, percebe-se que o ambiente é descontraído: é mesmo habitual ver pessoas que apenas vêm espreitar e outras que aparecem apenas para tomar um chá.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Devo confessar que o pequeno-almoço não foi memorável – mas tenho que fazer a ressalva: porque fiquei mais atenta ao restaurante Renascença. É um café da manhã competente, servido em buffett tradicional: café, leite, cereais, iogurte, sumos, pães diversos, alguma pastelaria e fruta.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização, a conservação da atmosfera do virar do século, o design dos quartos, a existência de garagem (numa zona onde é difícil encontrar estacionamento), o preço.
- Pontos fracos: alguma permeabilidade aos ruídos exteriores nos quartos voltados à rua.
- Em resumo: local perfeito para quem queira usufruir a cidade do Porto e arredores.
- Ideal para: jovens, famílias, viajantes em negócios.
- Preço: desde 55€ duplo · Ver preços