Douro41 Hotel & Spa
Já sabia que ia estar à beira-Douro e não teria os famosos socalcos por paisagem. A experiência ia ser diferente: eu seria parte da paisagem de socalcos artificiais, feitos de xistos e transparências, que compõem o postal arquitetónico (e paisagístico, atrevo-me) que é o Douro41 Hotel & Spa (anteriormente chamado Eurostars Rio Douro Hotel & Spa) .
Não fui, claro, para o Alto Douro Vinhateiro, fiquei bem perto do Porto – e todavia a um mundo de distância, no fundo de um vale estreito: um mundo necessariamente líquido (é o Douro por diante, uma ribeira ao lado). Tivesse ido noutra ocasião que não num inverno, por sorte até a fingir primavera, e confesso que teria ficado em modo aquático todo o tempo da minha estadia no hotel. Como não? Na marina privativa estão barcos para passeio, para esqui aquático, para pesca, estão motas de água, canoas, gaivotas; um dos socalcos termina com uma piscina em esquina e imagino a sensação de estar lá dentro empoleirada na paisagem; a piscina interior também finge ser infinita, mais rente ao rio.
É fácil perceber a minha obsessão com tanta água e, para arrumar o assunto (espero), vou só falar do meu quarto, de onde não queria sair: com vista de rio, no quarto e último piso, tem a cama voltada para o rio e um sofá aos pés para visão mais panorâmica. Em manhãs de sol ousado tudo se replica na água, disseram-me; eu encontrei uma manhã de linhas de névoa a esbaterem contornos.
O quarto podia esperar. O Douro41 Hotel & Spa é um labirinto e eu estava ávida por desvendar os segredos desenhados pela sua arquitetura pouco convencional (um pouco como se eu fosse outra vez criança numa casa enorme, desconhecida, cheia de corredores e quartos fechados). Subi e desci os socalcos no exterior, entre jardins de aromáticas (carqueja, menta, rosmaninho) e plantas autóctones ainda a despontar. Passei muros de xisto e paredes iguais, caminhos coroados de pontes a ligarem edifícios e imaginei-me numa pequena aldeia. O seu largo principal, penso-o agora, seria o terraço diante do restaurante, um lounge com sofás onde preguicei um pouco.
No interior, cheguei a pensar em Serralves quando percorri as rampas a ligarem o rés-do-chão ao primeiro andar do hotel e vi a sinalética na parede. Foi um choque breve, essa aura impessoal logo se desfez nessa tal aventura de descoberta em que cada espaço revelava outro numa espécie de matrioskas arquitetónicas – irrepreensivelmente contemporâneas mas, ao contrário do que tantas vezes acontece, tremendamente confortáveis.
Gostava de ter mergulhado na biblioteca, de ter experimentado a mesa de bilhar (uma antiga mesa de competição inglesa) e usufruído dos recantos inesperados e solitários (não esqueço o sofá entre vidro nem a espreguiçadeira num pouco percorrido trilho dos jardins). Aquelas cadeiras do balcão do bar, rebaixado do lado de dentro fazendo com que nos sentemos nele como a uma mesa, teriam merecido uma refeição. Contudo, foi bom jantar no restaurante (entrecôte arouquês) com a garrafeira, uma “caixa” de vidro iluminada bem no centro da sala, a puxar o meu olhar. Foi boa até a surpresa que tinha à minha espera, envolvendo uma ida ao spa – admito não ser a maior fã (heresia!), mas saí de lá a derreter de tão relaxada.
Devo, porém, confessar algo: desde que vi o meu quarto só pensava na hora em que iria descansar. Soube-me muito bem adormecer com os reposteiros abertos e a invasão da noite – com pouco esforço de imaginação estava a flutuar entre o céu e a água.
Como é o Douro41 Hotel & Spa?
“Em socalco, à beira-rio, com marina aos pés e Douro por toda a parte, o Douro41 Hotel & Spa é uma paisagem.” Andreia Marques Pereira
Localização
O Douro41 Hotel & Spa tem os pés no Douro às portas de Castelo de Paiva. A menos de uma hora do Porto, a A32 ajudou a tornar estas paragens mais acessíveis a quem viaja pela A1 (estão ligadas): depois da A32 são 20 km com algumas curvas e contracurvas até que deixamos a N222 para nos aproximarmos do rio. Castelo de Paiva fica um pouco depois.
Morada: EN 222, km 41, 4550-631 Castelo de Paiva
Quartos
Tem 42 quartos, o Douro41 Hotel & Spa – e uma obsessão numerológica: afinal, quantos hotéis têm um número místico? Aqui é o 41: é o quilómetro da Estrada Nacional 222 e o quilómetro do rio (contando da foz) onde está implantado o hotel; é o meridiano que atravessa a zona e é o número de quartos inicialmente previstos (afinal ficaram mais, mas sem o número 13 e com um 0 e, entre eles, quatro suites). Fiquei no 20, o que significa dormir no quilómetro 20 desse percurso: a fotógrafa Inês D’Orey recebeu a incumbência de fotografar todos os quilómetros e as imagens estão em cada um dos quartos. Os quartos variam em tipologia e disposição, mas todos têm sofás e mesas (sempre diferentes) e secretárias (sempre iguais e, nos quartos virados ao rio, como o meu localizada estrategicamente na cabeceira da cama). Se a memória não me atraiçoa, o colchão, as almofadas e o edredão tornavam a cama uma nuvem.
Atmosfera
Sempre muito confortável e irredutivelmente contemporâneo é o Douro41 Hotel & Spa. Tanto é assim que o mobiliário – entra-nos nos olhos mal chegamos – é quase todo vintage. A grande maioria das peças são originais e representativas dos vários movimentos de design do século XX e vêm, sobretudo, do norte e do centro da Europa. Algumas delas têm lugar em museus contemporâneos mas no Eurostars Rio Douro ganharam vida e são obras de arte (bastante) funcionais – estão distribuídas entre os vários espaços do hotel e acrescentam pormenores que dão uma sensação aconchegante a um hotel que tinha tudo para não o ser.
Com uma parte antiga – a receção, edifício de xisto, resquício de uma quinta – e outra ultramoderna, o hotel transita entre estes dois paradigmas, conseguindo uma bela síntese. Tem uma vertente de negócios, durante a semana – disseram-me -, e há alguns espaços que se podem transformar para as ocasiões (a minha pergunta foi: como pode alguém trabalhar neste hotel?). No inverno aproveita-se o conforto e os mimos; no verão, o cenário exterior deverá ser irresistível.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço é o esperado de uma unidade de quatro estrelas, acrescido de alguns produtos regionais (nada desprezível, desde logo, o pão) e miniaturas de bolos que fazem a diferença. De resto, é abundante e variado: da costela britânica com ovos mexidos, bacon e cogumelos, ao estilo continental dos iogurtes e frutas e tudo nos interstícios como compotas, sumos e pastelaria.
Conclusão
- Pontos fortes: o rio Douro, aqui entre duas curvas da paisagem, e a sua “presença” no interior; o spa, sóbrio, luminoso onde deve ser e recolhido onde tem de ser, serviço impecável; os jardins-socalcos, um mundo à parte; a infinity pool; a conjugação da arquitetura e do design – programáticos mas postos ao serviço do conforto.
- Pontos fracos: nada de relevante.
- Em resumo: local perfeito para descansar em ambiente rural, para amantes de desportos aquáticos (quem tem embarcações pode utilizar a marina) e para fãs de um bom spa.
- Ideal para: casais e famílias – com crianças, sobretudo no verão, quando o rio pode ser uma espécie de parque de diversões aquático.
- Preço: desde 54€ duplo · Ver preços