Cerro da Borrega
Era domingo de Páscoa, dia propício a longos almoços em família, e eu cheguei cedo ao Cerro da Borrega. Demasiado cedo. Não tive por isso oportunidade de conversar imediatamente com Rita de Lacerda e Melo, a proprietária que passou anos a tratar do protocolo do Ministério dos Negócios Estrangeiros português e faz agora questão de receber pessoalmente todos os seus hóspedes, enquanto tomava um chá de boas-vindas e comia um delicioso bolo caseiro na sala de estar do boutique hotel construído em taipa.
Para este seu projeto de vida instalado numa propriedade de oito hectares onde se sente uma forte influência mourisca, Rita encontrou no arquiteto Henrique Schreck, sumidade em construções de terra, o parceiro perfeito. Tinha a ideia de criar um espaço romântico em comunhão com o meio envolvente, que respeitasse a história sem ser demasiado rústico. No fundo, Rita tinha a preocupação de construir uma casa tradicional mas com a exclusividade proporcionada por um serviço de excelência e conforto máximo. Para hóspedes exigentes. Ela, que vem de uma década a tratar do protocolo de proeminentes figuras do Estado. E conseguiu-o.
Enquanto passeava pelos espaços da casa, a sensação era de que tudo estava pensado para fazer os hóspedes se sentirem especiais. Mais do que o conforto, a exclusividade. “O Cerro da Borrega não é um turismo rural, somos um boutique hotel”, reforça, numa conversa matinal à mesa de pequeno-almoço e que se prolongaria no pátio interior, um dos espaços mais fascinantes da casa, com múltiplos recantos para deixar as horas passar sobre um chão em tijoleira de barro rosa que “absorve o calor durante o dia e o irradia à noite”, mantendo uma temperatura sempre agradável.
Rita apontou para as paredes, novas mas com “defeitos” provocados pela idade, para demonstrar que nada foi deixado ao acaso no Cerro da Borrega: “toda a casa é feita com materiais que envelhecem naturalmente”. É assim que Rita quer a sua casa: o mais natural possível mas com todo o conforto do mundo. E essa é uma das grandes mais-valias do Cerro da Borrega.
Para tal, não poupou esforços. Inúmeros objetos que fazem hoje parte da elegante decoração do Cerro da Borrega, nomeadamente na sala comum, foram trazidos por Rita das suas viagens pelo mundo, incluindo os anos passados a viver na África do Sul na qualidade de chefe de catering da TAP. A cozinha é da Poggenpohl com fogão vintage da Smeg “comprado em Itália porque em Portugal não havia”, o piso é aquecido e proporciona um conforto ambiental muito superior ao comum ar condicionado, as casas de banho são desenhadas pelo designer-estrela Philippe Starck para a Duravit, os edredons são de penas de ganso e até a tinta para as paredes de taipa, de “cor mandarino”, foi comprada à La Calce de Brenta, uma empresa italiana especialista: “fui a Itália, levei a terra e eles mandaram a tinta adequada”. Tudo pensado ao pormenor!
Eu, amante confesso das coisas simples da vida, senti-me um pouco fora de água no meio de tanto requinte, formalidade e uma etiqueta quase protocolar. Nada contra a luxuosa casa de taipa do Cerro da Borrega, um turismo rural praticamente irrepreensível, pensado para desfrutar a dois em clima de paixão e muito luxo. Não pense é que é um espaço onde pode sentar de havaianas e tronco nu na mesa da cozinha…
Como é o Cerro da Borrega?
“Uma bela casa de taipa de inspiração mourisca, concebida para receber hóspedes exigentes de forma intimista e exclusiva bem perto da Costa Vicentina.” Filipe Morato Gomes
Localização
Para se alojar no Cerro da Borrega precisa de ter transporte próprio. A propriedade fica seis quilómetros a sul de São Teotónio, com acesso por uma estrada de terra que ai da EN120 (há indicações na estrada, mas comigo o GPS funcionou na perfeição), e tem como vizinho o Monte da Teima, outro alojamento turístico de grande qualidade. A praia do Carvalhal dista apenas oito quilómetros, a Zambujeira do Mar pouco mais de 11 e mesmo Odeceixe nem chega a 10.
Ou seja, para quem pretenda explorar a Costa Vicentina tendo por base um alojamento exclusivo em ambiente rural, o Cerro da Borrega fica extraordinariamente bem localizado (desde que tenha carro, claro).
Morada: EN 120, km 120 , 7630-675 São Teotónio, Portugal
Quartos
As três suites standard e a master suite do Cerro da Borrega são imaculadas (especialmente a master suíte, mas já lá vamos). Comecemos pelos quartos “normais”. São confortáveis e espaçosos, num estilo rústico-chique que combina os materiais de forma muito bem conseguida, e com múltiplas opções de iluminação que permitem criar ambientes distintos dentro do quarto. O edredom e o jogo de almofadas são muito confortáveis e o colchão de enormíssima qualidade, tudo debaixo de um teto de madeira em cerne de pinho e um amplo pé direito que aumenta a sensação espacial. Tudo isso imaculadamente limpo.
Quanto à master suite, também apelidada de honeymoon suite, faltam palavras para descrever o espaço. Elegantíssima, com áreas incrivelmente generosas (70 metros quadrados!), sofás e uma mesa belíssima, um closet enorme, lareira, uma casa de banho bonita, funcional e espaçosa e ainda um muito romântico chuveiro duplo com uma janela que escancara a vista do jardim e a faz entrar para o chuveiro. Vale sem qualquer dúvida a diferença de preço – é um dos melhores aposentos que já vi num hotel.
Atmosfera
Requinte; elegância; exclusividade; qualidade extrema; limpeza; romance – tudo epítetos que assentam na perfeição à atmosfera do Cerro da Borrega.
O ambiente é de total tranquilidade, já que quase todos se hospedam no Cerro da Borrega com o objetivo de descansar (e conhecer um pouco da Costa Vicentina, claro). Ora, estando direcionado para casais e promovendo o descanso em terras alentejanas, o Cerro da Borrega não aceita crianças com menos de 12 anos para não perturbar o sossego dos hóspedes, maioritariamente alemães.
No verão, imagino que o belíssimo pátio interior seja ponto de encontro entre hóspedes, proporcionando uma salutar convivência a quem a isso esteja disposto. Para quem procura privacidade absoluta, por outro lado, não faltam espaços recatados junto à casa e ao longo de toda a propriedade e, claro, as magníficas suites.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço é servido numa mesa corrida na cozinha do Cerro da Borrega, com produtos caseiros de qualidade irrepreensível. Para além do delicioso pão alentejano e de um sumo de laranja, havia salmão, torta de batata-doce – receita do Alentejo -, doce de mirtilo e framboesa (as compotas caseiras são de chorar por mais), marmelada feita pela Rita e requeijão confecionado por uma senhora da região. Sim, praticamente tudo é preparado de forma artesanal, e isso torna o pequeno-almoço um dos momentos altos da estadia no Cerro da Borrega.
Conclusão
- Pontos fortes: o método de construção da casa, o grau de exigência colocado por Rita Lacerda em todos os aspetos do Cerro da Borrega; a qualidade de tudo, das almofadas aos produtos servidos no pequeno-almoço; a limpeza dos quartos.
- Pontos fracos: a sala de estar fecha ao início da noite, privando os hóspedes desse espaço de socialização e leitura, aspeto que me desagradou até porque, estando uma noite fria, o pátio interior da casa não tinha condições para ser utilizado, restando-me recolher ao quarto.
- Em resumo: um refúgio de charme e requinte integrado na ruralidade do concelho de Odemira, muito perto da Costa Vicentina e de algumas das praias mais bonitas de Portugal.
- Ideal para: casais requintados com vontade de namorar ou afastar o stress da vida urbana; hóspedes que apreciem uma certa dose de etiqueta.
- Preço: desde 130€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mar. 2016