Casa Balthazar
Era já noite quando cheguei ao Largo do Carmo. Daí, percorri a pé a estreita Rua do Duque até encontrar o portão da Casa Balthazar, toquei à campainha duas ou três vezes e… esperei. Pouco depois, vindo da rua apareceu Sabin, nepalês radicado em Portugal que me cumprimentou em inglês.
Achei estranho o trato noutra língua, mas talvez não o seja assim tanto num hotel onde a quase totalidade dos hóspedes são estrangeiros. E Sabin é a simpatia em pessoa, mora nas proximidades e está disponível 24 horas por dia para resolver qualquer imbróglio.
É difícil imaginar o que se encontra por detrás daqueles muros de pedra. Assim que cruzei o portão, a Casa Balthazar pareceu-me tudo menos um hotel. Entrei na casa, Sabin explicou-me os procedimentos e indicou o caminho até ao quarto. Passámos por duas salas de estar que poderiam ser as de uma família lisboeta abastada, contornámos um maravilhoso pátio interior com piscina e um pequeno relvado, meia dúzia de cadeiras de praia e um pequeno passeio em calçada portuguesa onde se lia “3/8/1882” – provavelmente a data em que Balthazar Roiz Castanheiro, fundador da popular Confeitaria Nacional, adquiriu a propriedade. Subi uma escadaria e lá estavam os meus aposentos para essa noite.
Era um estúdio e tinha um quarto muito agradável com cama king size e armários embutidos, uma pequena sala de estar com televisão, uma kitchenette corretamente equipada com o essencial para preparar refeições rápidas e uma belíssima casa de banho com espaço, luz e amenities da Saboaria Portugueza. E havia uns quantos pormenores que me chamaram a atenção, desde logo as mesinhas de cabeceira deliciosamente desencontradas.
Na pequena mesa da cozinha repousava uma garrafa de Esteva 2012 e dois copos. Era a bebida de boas-vindas da Casa Balthazar, que não abri, mas pareceu-me uma excelente forma de acolher os hóspedes promovendo em simultâneo os vinhos portugueses. Espalhados pelo quarto, havia guias de Lisboa e um livro fotográfico com “os melhores hotéis de Lisboa” e, na escrivaninha, um telemóvel para ligar a Sabin em caso de necessidade. Não foi preciso.
Saí para jantar e, quando regressei, já familiarizado com os procedimentos, entrei por minha conta. Antes de subir ao quarto, detive-me a apreciar as inúmeras obras de arte que decoram as paredes e espaços interiores da Casa Balthazar – boa parte delas são peças que integram a coleção da família. Tudo somado, os espaços são muito cozy e interpretam de forma feliz a arte de combinar o clássico com os confortos dos tempos modernos.
De novo na suite, preparei-me para uma noite bem dormida numa cama confortável e com roupa de cama e almofadas de extremo aconchego, pelo que acordei fresco e descansado. E foi assim que, manhã cedo e pequeno-almoço tomado, desci até um terraço interior e deixei-me estar: o dia tinha acordado de céu azul e não tive vontade de abandonar o hotel.
Antes de cruzar os portões da casa para o bulício de Lisboa, Rui Viana, proprietário da atual Casa Balthazar, contou-me que aquele sítio fora a residência habitual da família Balthazar e local de implantação da chamada “Fábrica”, de onde saiam bolos-rei e outras iguarias para os estômagos lisboetas. Hoje, a localização mantém-se mas a especialidade é outra: chama-se hospitalidade. Bem no coração de Lisboa.
Como é a Casa Balthazar?
“Uma casa familiar que combina elementos clássicos com toques de modernidade num ambiente de luxo e requinte no coração de Lisboa.” Filipe Morato Gomes
Localização
A Casa Balthazar fica numa rua estreitinha que pode parecer isolada mas, na verdade, está pertíssimo de tudo. Fica no centro do triângulo imaginário formado pelo Rossio, Largo de Camões e Jardim de São Pedro de Alcântara. O popular restaurante Café Buenos Aires fica a menos de 50 metros da Casa Balthazar e, na direção oposta, o Largo do Carmo está também a dois passos. Em suma, localização perfeita no coração da velha Lisboa.
Morada: Rua do Duque, 26, 1200-159 Lisboa
Quartos
A Casa Balthazar oferece nove quartos distintos de tipologias variadas (mais dois a estrear) e todos os que vi eram suites muito espaçosas. A mim calhou-me a Lisbon Suite. Mais que um quarto, a Lisbon Suite é um pequeno apartamento, com mini-kitchenette equipada com o essencial para preparar refeições (fogão, micro-ondas, frigorifico, torradeira e utensílios de cozinha), uma sala de estar funcional e um quarto com cama para uma multidão e armários embutidos.
Para além dos amplos espaços interiores, várias suites têm pequenas varandas ou terraços onde – imagino – seja delicioso saborear um cocktail ao final da tarde ou usufruir de um pequeno-almoço soalheiro. E, claro, desfrutar de magníficas vistas sobre Lisboa.
Atmosfera
A atmosfera é incrivelmente familiar. Ao princípio chega a ser estranho: parece que estamos a entrar numa casa e não há ninguém para nos receber. Mas essa independência é algo muito valorizado pelos hóspedes da Casa Balthazar. Verdade seja dita, não me cruzei com muitos hóspedes, até porque o hotel estava por opção com pouca ocupação: a exceção foram três senhoras escocesas com quem não tive oportunidade de trocar mais que cumprimentos de circunstância. Coincidência ou não, a verdade é que a esmagadora maioria dos hóspedes são estrangeiros, como me confirmaria pessoalmente Rui Viana, mentor do espaço, pouco antes de fazer check-out.
As áreas comuns incluem uma sala de estar com sofás, muito espaço para leitura e uma mesa perfeita para um jogo de cartas, e ainda um espaço com lareira e mais sofás. Imagino que, com casa cheia, estes espaços interiores, juntamente com a área da piscina, sejam locais de convívio por excelência entre os distintos hóspedes da Casa Balthazar.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Os proprietários preferiram não adaptar um dos espaços comuns da casa em sala de pequenos-almoços. É uma opção logisticamente compreensível, embora isso diminua consideravelmente a socialização entre os hóspedes – a não ser que os hóspedes, a seu pedido, optem por tomar o café da manhã na sala ou, estando bom tempo, no pátio exterior junto à piscina ou nos terraços que alguns quartos possuem.
O pequeno-almoço foi-me trazido ao quarto à hora combinada, numa bandeja com sumo de laranja natural, diversos tipos de pão, croissants e uma meia-lua da Confeitaria Nacional – dos mesmos donos da Casa Balthazar -, e ainda um prato de fruta laminada, queijo, fiambre e compotas. Leite e dois iogurtes estavam no minibar, incluídos na diária. Tudo delicioso, com a assinatura da Confeitaria Nacional, uma das mais antigas e tradicionais confeitarias de Lisboa!
Para o final do dia (a partir das 18:00), há opção de room service providenciado pelo Café Buenos Aires.
Conclusão
- Pontos fortes: sossego e discrição; pátio interior com piscina; qualidade dos aposentos e nível do serviço; estacionamento privativo
- Pontos fracos: nada de relevante (não gosto do pequeno-almoço tomado no quarto, mas os hóspedes têm opção de o tomar noutro local).
- Em resumo: um refúgio de exclusividade no coração de Lisboa.
- Ideal para: casais maduros (não aceita crianças até aos 14 anos).
- Preço: desde 150€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: dez. 2013