Azorean Urban Lodge
Tinha sido um dia em cheio: pequeno-almoço na Madalena do Pico; almoço na Horta; jantar reservado para Ponta Delgada. Três ilhas, vários meios de transporte, poucas horas de sono, muito cansaço acumulado nas pernas à conta de trekkings feitos nos dias anteriores; tudo somado e naquele fim de tarde já só sonhávamos com uma cama onde estender o corpo.
Não contávamos é que o Azorean Urban Lodge nos trocasse as voltas de forma tão imediata. Tínhamos as camas à nossa espera (bem confortáveis, por sinal), num quarto familiar muito espaçoso, com duas varandas voltadas para a rua, mas depois do Miguel nos ter feito uma breve visita guiada às áreas comuns, já ninguém pensava ficar em ficar confinado àquelas quatro paredes.
Num instante, deixámos as Meninas do Ilhéu (duas pinturas coloridas que dão nome e alegria ao quarto) para dar um mergulho na piscina, abrigada entre as traseiras da casa e altos muros de basalto. Sob um sol tépido, as espreguiçadeiras pousadas no deck de madeira estiveram prestes a dar lugar a uma sesta tardia; não fosse a vontade de aproveitar todos os momentos de uma estadia que seria demasiado curta. Quebrando a regra auto-imposta de não beber café ao fim da tarde, pus-me preparar uma dose com muito mais água que cafeína, na cozinha onde apetece planear refeições. É acolhedora, tal como todo o piso inferior, onde impera o bom gosto discreto.
As negras paredes vulcânicas que sustentam o edifício de finais do século XIX, deixadas nuas com a pedra à vista, formam um nítido contraste com os triângulos de cores fortes da sala de refeições, com os armários amarelos e azulejos desirmanados da cozinha, com o pinho claro da madeira que serve de separação entre as duas salas.
Agarrei na caneca de café, sentei-me num dos sofás retro da sala de estar, ignorei a única televisão da casa e pus-me a folhear os livros sobre os Açores, à procura de inspiração para uma próxima visita. Só então me dei conta da absoluta tranquilidade, como se tivesse toda a casa por minha conta, apesar de não estar ali sozinha. A minha família estava já no quarto; outros hóspedes tinham passado para deixar as compras na cozinha mas desaparecido logo a seguir; creio que havia um casal sentado nas mesas do exterior; o Miguel saiu depois de nos dar todas as indicações e de ter gravado as impressões digitais dos nossos indicadores. Não para cadastro, claro está; mas para podermos abrir a portas da rua sem recurso a chaves ou códigos, novidade que os mais novos fizeram questão de experimentar.
Miguel Monteiro, tripeiro rendido à qualidade de vida açoriana, acarinha este novo projeto e dedica-nos o tempo suficiente sem impor a sua presença com detalhes desnecessários. Pelo contrário: está lá para nos receber à chegada; dá-nos uma mapa da cidade e dicas preciosas; tem sempre a cozinha fornecida com os básicos para fazer as refeições (azeite, óleo, sal e outros temperos); fica à distância de um toque de telemóvel para o que for preciso. Na manhã seguinte voltará, para orientar a limpeza; para nos chamar um táxi para o aeroporto; para garantir que tudo continua a correr sobre rodas. No resto do tempo dá aos hóspedes espaço e independência – exatamente o que que gostamos.
Depois de uma noite bem dormida, acordei cedo. Antes do voo impunha-se o pequeno-almoço, que optámos por fazer ali. Fui à mercearia na rua acima, comprei queijo fresco embrulhado em folha de bananeira, pão ainda quente, bananas e leite (das ilhas, claro). À chegada tinha café feito e mesa posta pela família, na esplanada com vista para a piscina. Está tudo bem quando acaba bem; e esta viagem pelo arquipélago dos Açores, que teve vários pontos altos (incluindo a subida ao topo do Pico) não podia ter terminado da melhor forma.
Como é o Azorean Urban Lodge?
“Atencioso e informal. Minimalista e requintado. A preto e a cores. Os opostos atraem-se no Azorean Urban Lodge. Temos cama feita todas as manhãs, piscina e muita dedicação aos hóspedes; mas estamos por nossa conta para preparar o pequeno-almoço. Ideal para quem gosta de independência sem abdicar da tranquilidade.” Ana Pedrosa
Localização
Situado numa pacata zona residencial de Ponta Delgada, o Azorean Urban Lodge fica a cinco minutos de carro do aeroporto e a dez minutos a pé do centro histórico. Ou seja entre a conveniência de voos matinais ou tardios e a proximidade das atrações principais. Siga para o miolo urbano através de ruas estreitas, espreitando lojas tradicionais, estando atento às obras de arte urbana que vão polvilhando as paredes da cidade e ao menu dos lugares de restauração excelente – a Tasca é um dos restaurantes de referência que exige marcação antecipada, mas há muitos outros. Mas pode optar também por seguir junto ao mar, em direção à marina, com os olhos postos no Atlântico. O hostel não tem parking privativo, mas os lugares de estacionamento na rua são gratuitos.
Morada: Rua José Bensaúde, 72 – 9500–209 Ponta Delgada, São Miguel
Quartos
Os sete quartos divididos por dois pisos são todos diferentes, embora tenham características em comum, como a cama queen-size e decoração de inspiração nórdica. São minimalistas sem ser espartanos, com um toque de cor aqui e ali a quebrar a luminosidade das paredes brancas e madeiras claras. Há habitações com varanda para a rua e outras para o jardim. Três duplos e um quarto triplo têm casa de banho interior, enquanto que nos restantes a casa de banho privativa é no exterior do quarto. A limpeza é diária.
Atmosfera
No único dia que lá passei, o ambiente era muito tranquilo, apesar da ocupação máxima. Ou porque os hóspedes da altura eram sossegados ou porque os diversos espaços comuns entre o interior e exterior permitem que possamos estar praticamente sós, num ou outro lugar. Poderia ser também porque muitos andam a conhecer a ilha e só voltam ao fim do dia. Para quem gosta de conviver, a cozinha pode proporcionar uma boa conversa, enquanto se prepara o jantar.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O serviço de pequeno-almoço não está previsto. No entanto, numa pequena mercearia situada a uma centena de metros pode ser comprado tudo o que for necessário; pão fresco, doces tradicionais, requeijão da ilha, leite, fruta e ovos. Café, chá e açúcar estão sempre disponíveis na cozinha do logde, que tem frigorífico e gavetas exclusivas para que os hóspedes de cada quarto possam deixar os seus mantimentos.
Conclusão
- Pontos fortes: A piscina, equipamento pouco habitual num hostel, o restauro do edifício, valorizando os materiais locais, o bom-gosto na decoração, a disponibilidade discreta do proprietário.
- Pontos fracos: Nada a assinalar.
- Em resumo: Excelente como base para quem quer explorar São Miguel e a cidade de Ponta Delgada mas também como poiso de uma noite, para quem está em trânsito entre outras ilhas.
- Ideal para: Todos os que apreciam lugares com carácter sem formalidades desnecessárias.
- Preço: A partir de 60€ · Ver preços
- Data da estadia: set. 2015