ArtVilla – Casas de Campo
Os caminhos a serpentear pequenas elevações e longos vales, sempre com moinhos de vento, lá em cima, no horizonte, a desafiar a meteorologia e a imaginação – e, já agora, a literatura, que eu pensei imediatamente em Cervantes e em La Mancha, apesar de me encontrar em território bem português.
Estava a circular na estrada que liga o município de Alenquer à vila do Cadaval e seguia já espantada com as paisagens. Mea culpa, que desconhecia por completo a beleza destas paragens e dei por mim a pensar que nunca tinha indagado, sequer, onde ficava afinal a primeira parte do “sistema” Montejunto-Estrela tantas vezes citado nos boletins da meteorologia. E agora estava ali, a estacionar o carro no sopé da serra de Montejunto, num dos acessos à “varanda da Estremadura”.
Estava a começar muito bem, esta visita ao Cadaval e mais concretamente à aldeia de Vila Nova. Parei o carro mesmo ao lado da igreja, no centro do centro da aldeia. Os muros cor-de-vinho e o gigantesco portão de onde sobressaía uma pitoresca e surpreendente “caixa de correio” talhada a ferro (a fazer lembrar os alforges dos carteiros a cavalo) e eis que chegamos ao ArtVilla.
Catarina Carvalho, a arquiteta que remodelou o espaço e que está agora a gerir estas casas de campo, explica-me que demoraram muito a chegar a este nome. Terminaram a busca quando perceberam que ele era a síntese de duas características especiais. O prefixo explica as muitas peças de arte que encontramos nas casas e no espaço público que as une; o nome villa remete para o ambiente de aldeia que é recriado com o pátio que une todas as casas.
Catarina aponta-me o Moinho, a minha casa para essa noite. Não era um moinho como os que tinha vindo a apreciar estrada fora – de estrutura cilíndrica e grandes pás a circular ao vento. Nas mãos tinha a chave de uma casa que foi a base de um “moinho americano” – um engenho metálico que já não obriga a grandes pás mas continuava a funcionar a energia eólica.
Quando a família de Catarina resgatou o moinho, já não conseguiu recuperar o engenho. Agora transformou-o num acolhedor apartamento duplex, completamente equipado. No rés-do-chão, sala com kitchenette e casa de banho. Decoração simples, rústica, adequada e com muito bom gosto. No primeiro andar, e depois das escadas de madeira, tem um amplo quarto, todo open space – apenas a sanita está entre paredes. Cama king size, armário antigo, decoração com tons fortes, a contrastar com o escuro da madeira (as vigas do teto estão à mostra) e do lajeado do chão.
Enquanto tentava arrumar as coisas para começar a preparar uma refeição ligeira na kitchenette era constantemente solicitada pela minha filha, que se encantava pelas janelas e recantos da casa e que davam sempre ponto de fuga para um aspeto da paisagem, um moinho no horizonte, um telhado da casa da aldeia, uma encosta da serra. Pensei, então, no facto de estar tão perto de Lisboa e do bulício da cidade (fica a menos de uma hora de viagem) e de estar já tão longe de tudo o que isso significa.
A banheira de hidromassagem no meio do quarto do primeiro andar estava a convidar a uma imersão, o sofá e a lareira a desafiar para o mergulho nas páginas de um livro. Mas isso só depois da história para dormir contada pela minha filha, e após lhe ter aconchegado as cobertas. O televisor nestes dias tem mais é que permanecer desligado. Preparei-me para uma noite repousante no conforto dos lençóis alvos e cheirosos e só acordei com os sinos da igreja a dar as oito e meia da manhã. Já tinha começado a sinalizar as horas bem mais cedo mas, confesso, não o ouvi. E virei-me para o outro lado, aproveitando que a filha estava a fazer o mesmo. E o pequeno-almoço podia esperar mais um bocadinho.
Como é o ArtVilla?
“Numa pequena aldeia do Cadaval, a caminho da serra do Montejunto, são quatro casas de campo unidas por um pátio comum e pela evocação à arte.” Luísa Pinto
Localização
Situado na Aldeia de Vila Nova, no município do Cadaval, o Artvilla fica coração da região do Oeste e, por isso, próximo das suas muitas atrações. As mais próximas são o jardim oriental Buddha Eden, uma excentricidade que o empresário Joe Berardo mandou instalar na sua Quinta dos Louridos, e a Real Fábrica do Gelo, um dos poucos exemplares que ainda existem na Europa. Num raio de 25 quilómetros, temos cidades como Óbidos, Caldas da Rainha e Peniche, praias como as do Baleal, São Martinho do Porto, Foz do Arelho ou Areia Branca (Lourinhã) e a menos de 50 quilómetros temos monumentos como os Mosteiros de Alcobaça e da Batalha ou o castelo de Torres Vedras.
Morada: Largo Nossa Senhora da Conceição, 3, Vila-Nova, 2550-077 Cadaval
Quartos
O Artvilla é um conjunto composto por quatro casas independentes: a Casa do Forno, a Adega, a Padaria e o Moinho, unidas por um pátio comum equipado com forno a lenha, churrasqueira e um tanque transformado em piscina. Cada uma oferece soluções de estadia diferentes, pelo que é possível alugar apenas um quarto, um estúdio, um loft ou, até, um T5.
A Adega (loft), a Padaria (studio) e o Moinho (T1) são as casas onde foi possível manter um traçado mais próximo do original. A que sofreu mais alterações foi a Casa do Forno, a casa principal, onde há cinco quarto para alugar e uma sala comum onde são servidos os pequenos-almoços e refeições a pedido. Todos os quartos têm casa de banho privativa e uma decoração distinta. Em todos os que pude visitar, percebi que o tradicional e o contemporâneo convivem harmoniosamente.
Atmosfera
Acolhedora e rústica. É agradável saber que o moinho serviu toda uma aldeia, que na padaria se fez pão e que na adega os familiares de Catarina chegaram a produzir vinho. Os espaços do ArtVilla foram recuperados com cuidado e bom gosto. E os pormenores decorativos espalhados pelas várias casas e espaços comuns são uma delícia. Havendo oportunidade e se a mãe de Catarina, a “artista” da casa, estiver livre e por perto para explicar pequenos detalhes das originais peças de barro e tecido, e também das ilustrações e pinturas que andam pelas paredes, aumenta a sensação de estarmos numa galeria de arte.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço está incluído na diária e inclui pão variado, bolos e compotas caseiras, manteiga, queijos, iogurtes, cereais, chá, café, leite, sumo e frutas. É servido em buffet na Casa do Forno onde, a pedido, são também cozinhados ovos e é servido um café expresso.
Conclusão
- Pontos fortes: a tranquilidade do lugar e paisagem envolvente; a recuperação de qualidade dos edifícios e a decoração sóbria e ao mesmo tempo vibrante.
- Pontos fracos: os sonos mais leves, e pouco habituados às rotinas religiosas de uma aldeia, poderão incomodar-se com o sino que toca a cada 30 minutos
- Em resumo: perfeito para um fim de semana tranquilo e para conhecer a Região do Oeste.
- Ideal para: casais, famílias.
- Preço: desde 70€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2014