Lisboa Carmo Hotel
As fardas são do estilista José António Tenente, os produtos da cozinha tendencialmente portugueses, as amenities da portuense Castelbel e, na parede do hall de entrada, a estrela era a reprodução de um lenço dos namorados típico do Minho que dizia: “Volta pra mim Amôr / Não deixes o meu curação aqui ficar / entre pedras e glória / pra sempre te vou amar”. A valorização do made in Portugal numa montra privilegiada: um hotel.
“Queremos pegar no que Portugal tem de melhor e potenciá-lo”, disse-me Nuno Rasteiro, diretor do Lisboa Carmo Hotel, já de manhã, depois de um farto pequeno-almoço tomado no restaurante Maria do Carmo, parte integrante do hotel. Nuno arranjou tempo para me mostrar pessoalmente alguns quartos com notória satisfação e me explicar de viva voz o posicionamento da unidade que dirige: “No Lisboa Carmo Hotel procuramos personalizar ao máximo a experiência de cada hóspede, somos uma espécie de alfaiate”, sorri. Encontrava-me há menos de 16 horas no hotel e estava positivamente impressionado.
Tinha sentido essa atitude “boa onda” desde que chegara ao Lisboa Carmo no dia anterior. Sara recebeu-me com amabilidade e eficiência na receção do hotel e, enquanto me sentei numa cadeira do hall de entrada por breves momentos, reparei na atenção dada aos hóspedes que perguntavam por dicas de Lisboa. Pouco depois, fui instalar-me.
Saído do elevador, fui surpreendido por um corredor totalmente branco com revestimento nas paredes a fazer lembrar tiras de madeira verticais. Prefiro quase sempre os tons claros e alegres aos escuros mais soturnos, pelo que cheguei ao quarto expectante com a brancura do pequeno corredor.
Era uma suite acolhedora, pequena mas agradável, com um papel de parede com pássaros e ramos de árvore a disputar a atenção do branco dominante. À esquerda, uma cama com ar confortável ao lado de uma escrivaninha com televisão e espaço para trabalhar; à direita, um curioso chuveiro embutido e, mais adiante, uma casa de banho luminosa, com luz natural; em frente, janelas com vistas desafogadas sobre a Baixa de Lisboa e o Castelo de São Jorge.
Poderia ficar ali a contemplar a paisagem urbana, mas optei por um banho refrescante no chuveiro construído de tal forma que parecia embutido na parede (só achei estranha a falta de algo para pendurar uma toalha junto ao chuveiro). Com a mente e o corpo refrescados, era então hora de jantar e rumei ao piso térreo para o restaurante Maria do Carmo.
Estava sozinho e, talvez por isso, tive tempo para apreciar calmamente a luminosidade contemporânea da sala histórica, reparar no serviço atencioso e nos convivas que eram todos estrangeiros, de ouvir com prazer o fado ecoando nas paredes e, ainda, de salivar só de ler as possibilidades gastronómicas que o menu me oferecia.
Optei por um creme de abóbora e cenoura divino, um delicioso bife de carne maronesa com batata gratinada recheada com queijo da ilha e, para sobremesa, uma mousse de lima no ponto e sem açúcar em excesso. Tivesse escolhido outras iguarias do menu – que muda periodicamente – e com toda a certeza o deleite seria idêntico. Foi, pois, de estômago reconfortado que saí para um curtíssimo passeio no Largo do Carmo, antes de regressar ao hotel para trabalhar e passar a noite.
Na manhã seguinte, lá encontrei Nuno, o diretor, que me garantiu que o Lisboa Carmo Hotel não quer ter cinco estrelas por opção: “preferimos surpreender o hóspede pela positiva”. Não por acaso, o hotel tem uma taxa de ocupação absolutamente extraordinária. Alguma coisa devem estar a fazer bem estes “alfaiates” da hotelaria.
Como é o Lisboa Carmo Hotel?
“Um quatro estrelas que dispensa as cinco, junto ao histórico Largo do Carmo e com a portugalidade à flor da pele.” Filipe Morato Gomes
Localização
O Lisboa Carmo Hotel está instalado num edifício magnífico pintado de azul-bonito e localizado na esquina na Rua Trindade com a Rua da Oliveira ao Carmo, juntinho ao histórico Largo do Carmo. O local é simultaneamente recatado e perto de (quase) tudo: o Largo Camões, o Bairro Alto, toda a zona da Baixa / Chiado e Rossio, e até o renovado Príncipe Real, tudo está acessível em curtas e prazenteiras caminhadas. Em suma, o Lisboa Carmo oferece uma localização excecional para descobrir Lisboa a pé.
Morada: Rua da Oliveira ao Carmo 1-3, 1200-307 Lisboa
Quartos
O Lisboa Carmo Hotel abriu em junho de 2012 e dispõe de 45 quartos, três dos quais familiares. Tem um piso – o quinto e último – com quartos superiores e, nos restantes, quartos standard divididos em duas alas distintas: uma com decoração mais contemporânea e chuveiro, outra com decoração mais clássica e banheira (os clientes japoneses, por exemplo, costumam pedir expressamente um quarto com banheira).
Eu fiquei alojado num quarto superior e gostei bastante. Apesar da dimensão não ser o ponto distintivo dos aposentos do Lisboa Carmo Hotel, o quarto era confortável e acolhedor. Gostei particularmente do branco e do estilo prático da decoração. De resto, para dormir preferiria ter um colchão mais duro, mas isso é uma questão de gosto pessoal, até porque os lençóis e almofadas são de qualidade inquestionável
Atmosfera
Gostei muito da forma simultaneamente informal e profissional com que fui recebido. Os hóspedes são de eclética proveniência, maioritariamente casais em viagens de lazer mas também algum turismo de negócios, principalmente no inverno. Em épocas estivais, o hotel é muito procurado por turistas oriundos de Espanha, Europa de leste, América do Norte e até do Japão; no inverno europeu, por visitantes brasileiros.
Para além do restaurante, não existem espaços propícios à socialização – como a sala comum de uma guesthouse -, pelo que o público-alvo estará no extremo oposto dos que frequentam os hostels de Lisboa. Não por acaso, a maioria dos hóspedes com quem me cruzei eram casais.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Muito bom, a condizer com a categoria do hotel. Sumo de laranja natural (mesmo!), fruta variada (no dia em que lá dormi, havia ananás, laranja, kiwi, melão e manga), queijo fresco, requeijão, compotas e diversos tipos de pão e pastelaria em miniatura: nos quentes, encontrei ovos mexidos, cogumelos e bacon. O pequeno-almoço está incluído na diária e é servido em estilo buffet supervisionado por funcionárias amáveis e competentíssimas.
Conclusão
- Pontos fortes: localização, tratamento diferenciado; profissionalismo do staff; qualidade do restaurante e excelente pequeno-almoço
- Pontos fracos: colchão demasiado mole para o meu gosto
- Em resumo: excelente hotel para uma estadia de bom nível no coração de Lisboa
- Ideal para: casais, viajantes em negócios.
- Preço: desde 85€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2014