A Serenada – Enoturismo
Não me voltam a ouvir dizer a estrangeiros que nos querem visitar que no Alentejo não chove. Estive por lá no fim de semana prolongado do Carnaval e quase já só vi chuva e nuvens e vento desagradável. Felizmente, um dos lugares por onde passei esses dias chamava-se A Serenada e, apesar de adivinhar o grau extremo de deleite que deve ser usufruir daquela piscina panorâmica num fim de tarde de verão e deixar os olhos repousar no infinito da paisagem enquanto o corpo se refresca, a minha sensação de conforto não saiu beliscada pelo facto de ter de me confinar ao interior do edifício. A minha estadia n’A Serenada foi tão boa que me deixou com uma enorme vontade de lá voltar.
A Serenada é um enoturismo muito recente – abriu em junho de 2013 – e oferece apenas quatro quartos duplos. Decorados numa feliz mescla de design que casa elementos modernos e apontamentos rústicos, são aposentos muitos confortáveis e um deles, o quarto Baga, tem uma vista panorâmica soberba. Quando, na primeira manhã , abri os cortinados e pude contemplar o verde a perder de vista até ao mar, num momento de pausa do São Pedro inclemente, fiquei deslumbrada com o alcance da visão. Um cenário que pode ser apreciado no terraço do hotel e na piscina, e em praticamente todas as zonas comuns.
Outro aspecto muito positivo d’A Serenada é o facto de nos dar a sensação de estarmos em casa de velhos amigos ou conhecidos. Foi o que senti quando encontrei retratos de membros da família entre as prateleiras da biblioteca ou reparei nos apontamentos da decoração que nos remetem para o baú dos nossos antepassados. Por exemplo? A incrível peça de roupa interior feminina, com mais de um século, que decora a parede de uma das casas de banho.
Quem ocupar um dos quartos da Serenada deverá sentir-se, tal como eu, um hóspede bem acolhido. E vai, também, ser testemunho da devoção e empenho que a atual proprietária, Jacinta Sobral da Silva, e toda a sua equipa emprestam na dinamização desta propriedade que está na mesma família desde 1686. Farmacêutica de formação, Jacinta tirou especializações em enologia para se dedicar à arte de fazer vinho.
A propriedade tem 23 hectares, dos quais cinco estão hoje plantados com vinha. Em 1961 o pai de Jacinta plantou a “vinha velha” – aquela de onde hoje são colhidas as uvas que fazem o Serras de Grândola – Cepas Cinquentenárias, um dos rótulos da casa. Em 2008 Jacinta plantou a “vinha nova”, para testar outras castas. E nada de pensar que Jacinta nasceu em berço de ouro, por ter herdado do pai este gosto e esta paixão pela terra, pelo Alentejo, pelas uvas. O berço, afinal, foi de cortiça, e está em exposição na sala, a ajudar a decorar a Casa do Monte, onde agora se fazem as provas de vinho. Uma das mais interessantes características deste enoturismo é o facto de, mesmo com a sua produção relativamente pequena (em 2013 foram produzidos 11 mil litros), permitir aos visitantes assistir, participar e compreender o complexo e apaixonante trabalho de produção de vinho.
Hoje em dia, cima da mesa de prova perfilam-se os vinhos brancos e tintos com o rótulo Serras de Grândolae os vinhos brancos e tintos com o rótulo Serras de Grândola – Cepas Cinquentenárias. Para além dos vinhos, há sobre a mesa queijos, pão caseiro, mel e compotas – recordo a compota de vinho tinto que é uma delícia e uma geleia de verdelho (casta branca) com pimenta rosa que é do melhor que eu já provei. Também há rebuçados de vinho tinto e quadrados de chocolate. Embalados com a marca Serenada, todos os produtos artesanais estão à venda no mercado de Grândola, uma vez por mês. “Temos de valorizar a nossa terra”, diz-me Jacinta. E diz bem.
O nome do hotel ajuda-nos a perceber ao que vamos. Passar uma noite, uns dias, uma semana n’A Serenada será, sempre, uma experiência inesquecível. Pelo conforto dos quartos, pela qualidade da gastronomia (é possível não sair da Serenada nem para ir jantar; são servidas refeições mediante marcação de véspera), pelo enquadramento da paisagem. Em dias de tempo ameno e limpo, ficar no terraço, com vistas a perder de verde até à serra de Arrábida e a espreitar o mar por alturas do pôr-do-sol. Em dias frios, na sala e biblioteca panorâmica com a lareira a crepitar. Serão sempre boas alturas para brindar aos amores e aos amigos. Com o vinho da casa. Claro.
Como é A Serenada Enoturismo?
“ASerenada é o batismo feliz de um lugar muito especial em plena serra de Grândola. É um enoturismo elegante e despretensioso, enquadrado numa paisagem difícil de esquecer.” Luísa Pinto
Localização
Situada em plena serra de Grândola, no lugar de Outeiro-André, A Serenada está “perdida” entre o verde das vinhas e dos sobreiros. Não é fácil lá chegar, sobretudo quando as indicações do Google Maps nos mandam entrar pelo lado errado da estrada. O ponto de referência terá de ser a adega, que é mais visível da estrada de terra batida do que o hotel propriamente dito, que se confunde entre a paisagem e as vinhas. Depois de aprender o caminho – e se não estiver tempo de chuva que faça desejar ter um todo-o-terreno ou, então, se a pequena estrada já estiver alcatroada, como está prometido para este ano -, o acesso torna-se fácil. E deixa-nos muito perto de praias como a magnífica Aberta Nova, que fica a apenas dez quilómetros. Pelo caminho pode fazer um pequeno desvio para Melides. A vila de Grândola também não fica longe. Saindo de Lisboa, e usando a A2, demoramenos de uma hora a chegar.
Em suma: está ao mesmo tempo longe e isolado de tudo, para nos dar a sensação de verdadeiro refúgio e até de privilégio, mas suficientemente perto das estradas e da costa alentejana para que não possa ser considerado remoto.
Morada: Outeiro André – Sobreiras Altas, 7570-345 Grândola
Quartos
Por enquanto, conta apenas com quatro quartos todos diferentes e batizados com o nome de algumas das castas que dão corpo e sabor aos vinhos: o Rabo de Ovelha (duplo standard), Verdelho (twin), Touriga Nacional (duplo superior) e Baga (duplo Deluxe).
Fiquei no Baga, o quarto mais espaçoso (perfeito para acomodar famílias, como a que me acompanhava) e que tem a vantagem de ser, também, o mais panorâmico. Pelo menos por agora, enquanto não avança o projeto de construir mais dois quartos-suites e alargar a oferta do turismo rural A Serenada.
As janelas rasgam a paredes do Baga de ponta a ponta para que não se perca pitada daquela vista. As pessoas que não suportam a luminosidade matinal talvez devam levar uma máscara para dormir, porque as cortinas black-out tapam muita luz mas não fazem milagres. O Baga fica situado mesmo por cima da biblioteca e, no inverno, o calor da lareira mantém a casa de banho e o quarto em temperaturas muitíssimo confortáveis.
Atmosfera
Tem um ambiente sereno, elegante, relaxado. E romântico. É perfeito para casais que gostam de bebericar um copo à piscina ou à lareira tendo uma incrível paisagem por companhia. Os apaixonados pelo enoturismo terão por aqui muitos aspetos com que se deslumbrar; os que gostam de atividades ao ar livre terão muitas sugestões de passeios e piqueniques, a pé, de bicicleta e a cavalo (feito com parceiros da quinta).
Pequeno-almoço (café da manhã)
Servido em buffet, tem tudo o que é preciso para começar bem o dia. Crepes acabados de fazer, bolo caseiro, pão alentejano para torrar, sumo de laranja natural, doces, mel, cereais, iogurtes. Se não encontrar na mesa – é difícil – é só pedir.
Conclusão
- Pontos fortes: a paisagem; o ambiente familiar e relaxado; o conforto dos quartos; a simpatia e amabilidade dos proprietários e funcionários.
- Pontos fracos: o acesso, em terra batida, dificulta a chegada nos dias de maiores chuvadas.
- Em resumo: perfeito para todos os que querem fugir da cidade e mergulhar nas tradições da vinha e do vinho.
- Ideal para: casais apaixonados, amantes da boa vida e do bom vinho.
- Preço: desde 75€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2014