Vale do Ninho Nature Houses
À entrada não são precisas grandes dicas ou indicações. A casa é acolhedora, aconchegante, intuitiva. Interior revestido a madeira e cortiça, confortável nos equipamentos, sem segredos na utilização. Seria no seu minimalismo e simplicidade e conforto que pretendia passar os próximos dias, deleitada que estava já com a arquitetura da Casa Cuco, o estúdio que nos estava reservado no Vale do Ninho Nature Houses para as próximas duas noites.
Mas, sem querer, Pedro Pedrosa, o proprietário, deixou uma dica importante à saída: “Da janela do vosso quarto podem ver o nascer do sol. Não sei se apreciam esse momento, mas é só deixar a cortina um pouco entreaberta”. Foi quanto bastou para que a cortina não ficasse apenas entreaberta, mas completamente escancarada.
As três casas de Vale do Ninho Nature Houses são todas diferentes, mas todas mereceram a mesma preocupação por parte de Pedro Brígida, o arquiteto responsável pela reconstrução daqueles antigos palheiros do século XIX. Para além das técnicas de construção sustentável e eficiência energética ali empregues, o arquiteto empenhou-se em rasgar os horizontes. E, naquele vale (o nome não é despropositado) com vista para o casario da aldeia de Ferraria de São João, o horizonte é pontuado ainda por uma crista montanhosa que se torna mágica ao nascer do sol.
Dormir com o blackout todo aberto trouxe uma maravilhosa recompensa. Sem sair da almofada perfeita e do edredon aconchegante, vi o astro rei aparecer por detrás do recorte da montanha. Vi o céu preto dar lugar a uma paleta de rosa, primeiro em tons pálidos, depois inebriantes; para se tornarem no laranja que iluminava o mar de nuvens que repousava no vale. Apeteceu abrir a janela, ir à varanda apanhar o ar fresco.
Mas só me haveria de levantar quando Marcelo zurrou os bons dias, com mais determinação do que poderia ter feito qualquer galo. O dia amanheceu limpo, ouvem-se os pássaros, estou em Ferraria de São João – uma das Aldeias do Xisto do núcleo da Serra da Lousã – e todas as palavras são poucas para descrever a beleza destas montanhas.
Não perco, então, mais tempo com isso, e falemos da Casa Cuco, no Vale do Ninho Nature Houses. Quando reservamos uma casa como esta queremos noites descansadas e dias revigorantes, em contacto com a natureza. E o Vale do Ninho preencheu estes requisitos com distinção. E depois somou-lhes outros aspetos que, mais do que acréscimos, são determinantes para o escolher como destino. Seja para um fim de semana prolongado ou para umas férias em família.
As casas são auto-suficientes, estão completamente equipadas; a horta biológica da família de Pedro está aberta a colheitas; e a piscina biológica deve ser um deleite no verão (até nestes dia de outono estava convidativa, e a minha vizinha dinamarquesa atreveu-se a experimentá-la).
Já eu troquei os mergulhos por um livro no pátio e um passeio com os olhos a acompanhar a atividade da simpática família de burros (o pai Marcelo, a mãe Lady Zorra e o filho Quico). Também experimentei os workshops de queijo e pão, organizados pela Associação de Moradores de Ferraria de São João, que permitem um contacto direto com os moradores da aldeia e as suas tradições. No âmbito da Rede das Aldeias do Xisto, Ferraria de São João é uma Aldeia Viva; e isso faz toda a diferença.
O Vale do Ninho pede estadia mínima de duas noites no inverno e de três no verão. A casa é confortável, mas não há desculpas para não experimentar algumas atividades nas redondezas – mais ainda no caso dos hóspedes serem amantes das duas rodas.
O Vale do Ninho foi o primeiro bike hotel em Portugal, e Ferraria de São João tem inclusive uma pista de trail onde “os mais novos de todas as idades” podem ir treinar manobras. Para além da rede de trilhos marcados por toda a serra da Lousã, há também as praias fluviais, como a das Fragas de São Simão, dignas de postal em qualquer altura do ano.
Resumindo e concluindo, as duas noites em Ferraria de São João souberam a pouco; e dá vontade de regressar com a família toda, uma semana inteira.
Veja também o que fazer em Ferraria de São João no Rostos da Aldeia.
Como é o Vale do Ninho
É um verdadeiro refúgio de tranquilidade, com ligações estreitas à Natureza e às maravilhas da serra da Lousã; e que permite conhecer de perto uma aldeia verdadeiramente viva.
Localização
Os estúdios do Vale do Ninho ficam na aldeia de Ferraria de São João, no concelho de Penela, a duas horas de Lisboa e do Porto e a pouco mais de meia hora de Coimbra. É uma das Aldeias do Xisto do núcleo da serra da Lousã, e a vila de Avelar, onde é possível encontrar tudo o que é preciso em termos de serviços básicos, dista apenas 9km.
Quer venha do Norte ou do sul, a melhor referência é a saída 10 da A1 (Pombal), e seguir em direção a Castelo Branco pelo IC8. Passados 31,5km sair para o IC3 no sentido Norte em direção a Condeixa; e, ao fim de 5,5km, virar à direita para Ferraria de São João. O Vale do Ninho fica à entrada da aldeia.
Quartos
Mais do que simples quartos, o Vale do Ninho oferece três casas independentes, de diferentes tipologias, com capacidades máximas de três, quatro ou cinco pessoas. Fiquei na Casa Cuco, um estúdio com capacidade máxima para 4 pessoas, disponibilizando um quarto independente com varanda privativa e duas camas individuais nas zonas de estar – uma no piso de cima, outra no piso térreo, bem perto do recuperador de calor.
Atmosfera
É o ambiente rural em todo o seu esplendor, aliado ao requinte das linhas simples e modernas e ao conforto dos materiais naturais e sustentáveis. Ouvir os sinos das cabras, o zurrar dos burros e o cantar dos galos, os pássaros de manhã, à tarde e à noite. E é poder conhecer de perto os habitantes que fazem esta Aldeia Viva – sejam os que sempre lá viveram, como a Dona Isilda, que me ensinou a fazer queijo, sejam os que a escolheram para morar, como o Pedro, a Sofia e os filhos.
Pequeno-almoço
O pequeno-almoço incuído na estadia vem servido numa linda cesta de piquenique. Em cima da mesa, na taça reservada à fruta, também costuma estar colheita da época. Apanhamos umas deliciosas maçãs, da árvore de um vizinho do Pedro e da Sofia. Na cesta de piquenique estão também iogurtes feitos pela Sofia, para acompanhar uma deliciosa granola; e também há doces caseiros, frutos secos, queijo, manteiga, leite.
O pão, fresco, é pendurado à porta todos os dias. Basta deixar o saco de pano do lado de fora da porta (tem lá um ganchinho preparado para o pendurar) e deixar no bolso anotado quantos pães quer, de que tipo, e umas moedas. O padeiro também deixa troco, se for preciso.
Vale do Ninho Nature Houses
- Pontos Fortes: O conforto das casas, a beleza da envolvente, a simpatia dos proprietários.
- Pontos Fracos: Não haver um sítio para tomar um cafezinho na aldeia, mais para ter um pretexto para conhecer gente do que pela falta de café – porque há máquinas Nespresso nos estúdios.
- Conclusão: Perfeito para quem quer experienciar o verdadeiro turismo de aldeia.
- Ideal para: tanto dá para um fim de semana romântico como para umas férias em família.
- Preços: estadia mínima de duas noites, a partir de 180€.
- Data da estadia: outubro 2020.