The Wine House Hotel
Cheguei à Régua em dia de chuva, com o rio Douro a ameaçar transbordar as suas margens. O alerta de cheias iminentes não tinha ainda obrigado ao encerramento da marginal da cidade, mas a força da Natureza (e as descargas das barragens a montante) estava implacável e fazia temer o pior.
Atravessei a ponte, entrei no concelho de Lamego e pouco depois a simpatia e sorriso fácil de Sofia Dias, anfitriã no The Wine House Hotel, aqueceu a tarde feita noite. Tinha chegado à Quinta da Pacheca e o estado de espírito melhorou consideravelmente.
Fiquei à conversa na recepção, um espaço enorme onde se instalou uma sala de estar muito agradável, com sofás em U junto a uma lareira – ideal para as noites frias do Douro vinhateiro -, paredes de pedra com toque contemporâneo e um belíssimo teto em forro de madeira. Era o mesmo tipo de forro que haveria de encontrar logo a seguir no quarto que me foi destinado.
Calhou-me o quarto mais clássico do The Wine House Hotel. Era uma suite enorme, em tons suaves de castanho, com uma cama de madeira do século XVII de dimensões reduzidas para a estatura média atual e duas mesinhas de cabeceira a condizer. Ao falar da cama preciosa mas pequena, Sofia avaliou com o olhar a minha altura e perguntou se queria trocar para um quarto mais moderno e com uma cama maior. Naturalmente, recusei. Era mesmo ali, naquela suite com mobiliário histórico que iria pernoitar. À minha espera estava uma garrafa de vinho do Porto e uma ardósia com bombons, que comprovei serem deliciosos mesmo antes de jantar no restaurante do The Wine House.
Do lado de fora, no corredor, reparei numa curiosíssima estátua de São Jerónimo que Sofia classificou como “uma das peças mais valiosas do hotel”; fora “encontrada enterrada na propriedade de Vale Abraão”. É verdade que o hotel está repleto de preciosidades – de móveis antigos a sofás e cadeirões com centenas de anos -, mas em nenhum outro lugar isso será tão evidente como na sala de refeições para onde me dirigi.
A sala transformada em restaurante, com janelões panorâmicos que deixam ver a cidade da Régua na margem oposta do Douro, foi pensada em função de um louceiro antiquíssimo onde se expõem loiças da Fábrica Bordalo Pinheiro. Trata-se de uma peça portentosa de estilo barroco, feita em madeira de jacarandá e profusamente decorada com motivos ligados à vinha, construída no Brasil propositadamente para a Quinta do Vale Abraão, propriedade da família Serpa Pimentel, uma família ainda hoje intimamente ligada aos destinos da Quinta da Pacheca.
Depois de um Porto branco como aperitivo, entreguei-me às mãos do chef Carlos Pires num curto menu de degustação. Primeiro, um brilhante prato de “sardinha marinada de citrinos e gengibre sobre torradinha de pão de milho tradicional e puré de pimentos assados”; depois, um curioso risoto de salpicão a acompanhar um “naco de novilho sauté com cogumelo Portobello”; e, para sobremesa, um muito saboroso “creme de leite torrado com frutos vermelhos e aromatizado com limão e hortelã”.
Depois de tão belo repasto, já não consegui trabalhar. Dormi profundamente numa cama com três séculos de existência e os tais centímetros a menos (de que não senti falta) e, quando amanheceu, tomei um belo pequeno-almoço e juntei-me a Ricardo Santos, responsável pelas experiências ligadas ao enoturismo na Quinta da Pacheca. Havia uma prova de vinhos e uma visita a fazer.
Na sua companhia, conheci os lagares onde ainda hoje se faz a pisa da uva a pé, desci à cave a respirar tradição, fria como toda a cave tem de ser, onde se guardam as pipas, os balseiros gigantes e ainda algum stock histórico de vinho produzido na quinta.
O sol tinha entretanto comparecido em força na Quinta da Pacheca e assim saí para o jardim do hotel, muito agradável, e onde em breve será construída uma nova wine shop e a capela aparecerá renascida. Ao fundo, notei uns cadeirões virados à vinha, toda ela plantada em terreno praticamente plano, sem socalcos, fruto da cota relativamente baixa, bem junto ao rio Douro, a que o The Wine House Hotel se encontra.
Teria sido perfeito para me sentar a contemplar a vinha e a Quinta do Vale Abraão, ao fundo (que pertenceu à mesma família, mas agora está a ser explorada pela cadeia hoteleira internacional Six Senses). Mas eram 11 da manhã, hora de regressar. Quando iniciei as despedidas, Ricardo não me deixou partir sem provar um dos melhores vinhos da Quinta da Pacheca. Levou-me até à wine house, loja onde encontrei também compotas, azeites e até chás, mas o assunto era vinho. Foi quando verteu num copo um Pacheca Tawny Port com 40 anos e eu senti o cheiro do vinho do porto caseiro do avô Queiroz a entrar-me pelas narinas. Não mais esquecerei o The Wine House Hotel.
Como é o The Wine House Hotel?
“O The Wine House Hotel é a reinvenção de uma quinta histórica da região demarcada do Douro, transformada com mestria num enoturismo contemporâneo de qualidade.” Filipe Morato Gomes
Localização
O The Wine House Hotel está instalado na Quinta da Pacheca, e encontra-se rodeado de vinhas bem junto à margem esquerda do rio Douro, já no interior da região do Alto Douro Vinhateiro classificada pela UNESCO como Património Mundial. É, pois, uma excelente base para apreciar a paisagem de socalcos que caracteriza o Douro. E para visitar as quintas produtoras de vinho que dão fama à região. A cidade da Régua fica literalmente em frente ao hotel, na outra margem do rio.
Morada: Quinta da Pacheca, Cambres, 5100-424 Lamego, Portugal
Quartos
Entre suites e quartos standard, o The Wine House Hotel – Quinta da Pacheca tem apenas 15 aposentos, o que lhe permite manter o cariz familiar e um contacto personalizado com os hóspedes. Dormi numa das suites superiores, mas tive oportunidade de visitar um quarto standard e posso afiançar que as diferenças são significativas – não tanto na qualidade, mas principalmente na ambiência e estilo: a suite era enorme e com mobiliário clássico, ao passo que os quartos são de dimensão mais modesta mas modernos e de arquitetura contemporânea, cada um decorado numa tonalidade distinta. Durma onde dormir, os aposentos da Quinta da Pacheca são todos confortáveis e acolhedores. As amenities são da portuguesa Lousani.
Atmosfera
Encontrei casais e casais e casais, sobretudo estrangeiros. As idades eram variáveis, tal como as proveniências. Acabei por passar algum tempo a conversar com um simpático casal brasileiro, encantado com a Quinta da Pacheca, e acredito que, com bom tempo, esses momentos de partilha e socialização entre os hóspedes serão ainda mais frequentes. Está prevista a construção de uma piscina, que pode ajudar as famílias com crianças a manter os filhos ocupados durante a estadia.
De resto, há muitas visitas turísticas ligadas ao enoturismo. Grandes autocarros descarregam grupos de turistas na Quinta da Pacheca para conhecerem o método de produção e fazer provas de vinhos. As coisas estão pensadas para que as atividades turísticas não tenham impacto significativo no quotidiano dos hóspedes, mas confesso que ver um autocarro chegar ao meu hotel foi o que menos me agradou na estadia no The Wine House. A Quinta da Pacheca tenta minimizar o impacto, mas é um equilíbrio difícil.
Pequeno-almoço (café da manhã)
A chegada à sala de refeições é, por si só, impressionante. Não só pela visão diurna do louceiro, mas principalmente pela luminosidade provocada pelos enormes janelões, com vista para as vinhas, o rio Douro e, na outra margem, a cidade da Régua.
Quanto ao pequeno-almoço propriamente dito, é uma surpresa. Desde logo, pela imensa variedade de produtos; mas, principalmente, pela superior qualidade de tudo o que pude provar. Havia crepes e míni-panquecas; fruta laminada (kiwi, morangos, papaia), maça assada e até tâmaras; cereais e frutos secos; salmão fumado, queijo e presunto; croissants e compotas Quinta da Pacheca; chás de vários tipos, incluindo infusões de marca própria; e ainda, nos quentes, sopa, bacon com salsichas e ovos mexidos. Até o pão é bom! Absolutamente divino.
Conclusão
- Pontos fortes: qualidade (de tudo); simpatia e profissionalismo de todo o staff.
- Pontos fracos: nada de significativo, exceto porventura o impacto que as visitas de enoturismo possam ter no sossego dos hóspedes na época alta.
- Em resumo: um bom exemplo de adaptação aos novos tempos, o The Wine House Hotel – Quinta da Pacheca é uma excelente base para explorar a região vitivinícola do Alto Douro Vinhateiro.
- Ideal para: casais, gente apaixonada por vinhas e bons vinhos.
- Preço: desde 110€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mai. 2016