Six Senses Douro Valley
Nasceu casa senhorial, há mais de 500 anos. Mas, na verdade, é um palácio, rodeado de matas frondosas e jardins românticos. Ou, melhor dizendo, voltou a ser um palácio, a partir do momento em que a cadeia internacional Six Senses ali abriu o seu primeiro hotel de luxo na Europa, apenas acessível a bolsas recheadas. A velha Quinta do Vale Abraão, em Lamego, é hoje o Six Senses Douro Valley, um dos melhores embaixadores do esplendor do Douro.
Lembro-me daquele edifício desde miúda, quando percorria umas das mais cénicas estradas do mundo, entre Mesão Frio e Peso da Régua (já sei que a mais famosa é a Régua-Pinhão, mas gostos não se discutem). Sempre me pareceu um palácio, mesmo quando visto do outro lado do rio Douro, às vezes, parecia pouco mais do que um palacete de cores desbotadas, em ruínas.
Impressionava-me também a mata, com as suas árvores frondosas e algo exóticas que nem a largura do rio conseguia esconder.
No início dos anos 90, a casa de família dos Serpa Pimentel sofreu um incêndio e acabou votada ao abandono durante mais de uma década. Houve uma tentativa de resgate do seu fulgor por empresários portugueses, mas também não correu bem. Até que a cadeia Six Senses foi desafiada a trazer para o Douro a sua sólida política de sustentabilidade.
E assim nasceu o Six Senses Douro Valley!
O hotel foi o décimo segundo hotel de luxo que a cadeia tailandesa abriu no mundo. E se digo que, hoje em dia, o Six Senses Douro Valley é o melhor embaixador das belezas do Douro, é porque 90% dos clientes do Six Senses são internacionais, oriundos sobretudo dos Estados Unidos da América e da Inglaterra, mas também da Ásia e do Médio Oriente. Uma realidade que, por estes dias, a pandemia global da COVID-19 alterou.
A minha estadia no hotel Six Senses Douro Valley – e que me proporcionou, também, a primeira visita aos jardins do palácio – deu-se no mês de julho de 2020, em pleno verão, altura em que as temperaturas sobem frequentemente acima dos 30 graus.
E é um prazer difícil de quantificar aquele que senti ao passear pelo jardim recentemente reconhecido como “jardim histórico” pela Associação Portuguesa de Jardins Históricos (AJH); ou ao esticar-me num dos recantos de repouso espalhados pela quinta – sejam eles colchões e almofadas escondidos na mata, com vista para o rio, ou os rest nest (uma espécie de casulo de vime gigante, pendurado numa das árvores seculares) sobranceiros às vinhas.
Tudo no exterior da Quinta do Vale Abraão é de fazer sonhar. E a piscina de borda infinita, com vista para o rio Douro, é a cereja no topo do bolo.
No interior do Six Senses Douro Valley merece destaque a cuidada decoração efectuada pelo gabinete nova-iorquino Cloudagh Design, onde pontua o respeito pelos materiais e tradições da região, e ainda algumas homenagens à família Serpa Pimentel (na sala dos pequenos-almoços, por exemplo, as paredes estão ocupadas com fotos de família, de alto a baixo).
E, se o restaurante Vale Abraão deslumbra com a sua open kitchen, admito que uma das salas mais bonitas do hotel é a wine library, onde diariamente se fazem provas de vinhos e, de quando em vez, workshops.
Também há workshops no Earth Lab, um laboratório onde a diretora de sustentabilidade do Six Senses ensina aos hóspedes métodos antigos de conservação de alimentos, como a salga, o fumo ou o vinagre (pickle); e no Alchemy Bar, no spa do hotel, onde se encorajam os utentes a “fabricar” o seu próprio esfoliante, usando os muitos materiais naturais que têm à disposição. Não fiz nenhum destes workshops, mas fiquei com muita vontade.
Felizmente não falhei a experiência do spa – e as mãos mágicas da Filipa Guerra, uma das terapeutas do resort! -, que me vai ficar na memória pelas melhores razões.
A cadeia Six Senses nasceu como um spa, e isso explica muito da experiência perfeita que tive, deitada numa marquesa aquecida para me submeter a uma massagem enérgica e vibrante enquanto a cânfora penetrava cada um dos meus poros.
O Six Senses Douro Valley tem vários programas de saúde e bem-estar, e apercebi-me que o de maior sucesso é dedicado a melhorar o sono. Deixei essa experiência para uma próxima oportunidade; até porque, mesmo sem praticar yoga do sono ou pedir aconselhamento profissional e cardápio de almofadas, dormi bem e repousada, sem sentir uma ervilha que fosse.
Como na história infantil – fosse eu uma princesa e aquele o meu palácio. O palácio que me habituei a ver do outro lado do rio.
Como é o Six Senses Douro Valley
É um hotel de luxo, a merecer cada uma das cinco estrelas que ostenta. E a sexta, ou o sexto sentido, que lhe dá o nome e evoca a intuição e o equilíbrio, é uma espécie de garantia de harmonia e perfeição.
Localização
O Six Senses Douro Valley fica na antiga Quinta do Vale Abraão, bem junto a uma das fotogénicas curvas do rio Douro, na freguesia de Samodães – que já é concelho de Lamego, mas neste caso fica mesmo pertinho de Peso da Régua.
Para quem viaja do Porto deve apanhar a A4 até Vila Real, e sair na saída 11 para apanhar a A24 em direção a Viseu. Mas eu sugiro sair da A4 logo após as portagens de Amarante, e daí seguir indicações para Mesão Frio e Peso da Régua. Ter de subir e descer a Serra da Aboboreira, sempre com o Marão à vista numa estrada nacional, será “sacrifício” amplamente recompensado pela beleza da paisagem que vai encontrar a partir de Mesão Frio.
Quartos
Há uma dúzia de diferentes tipologias, mas todos os 60 quartos do hotel são amplos, luxuosos, bem equipados e com vistas deslumbrantes. A decoração pareceu-me de inspiração japonesa, minimalista, cuidada, funcional, em tons neutros como o cinza ou o bege, e com apontamentos de madeira e cortiça. O quarto mais básico, o Quinta Superior, tem 46 metros quadrados; o quarto mais amplo, o Vineyard Garden suite, tem mais do dobro, um terraço com jacuzzi privativo e cama para apanhar banhos de sol.
Eu fiquei instalada num Quinta Deluxe, numa das alas novas que o edifício ganhou depois da feliz intervenção do arquiteto Luís Rebelo de Andrade. Com uma aprazível zona de leitura, uma janela aberta do chão ao teto e a mata e o Douro a entrar pelos olhos dentro enquanto bebericava o Porto que me aguardava em cima da mesa, foi-me apetecendo dizer: o jantar pode esperar.
Atmosfera
É uma atmosfera de luxo, não há como negá-lo, onde sobressai a cordialidade e a simpatia dos funcionários. É muito procurado por casais, mas também por famílias que ali podem usufruir de várias atividades – desde as mais infantis às mais radicais (um dos programas sugeridos é escalar arvores, e é impossível não sorrir com a sugestão). A cada hóspede do Six Senses Douro Valley é atribuído um GEM (Guest Experience Manager) que tratará de fazer as recomendações mais adequadas ao seu perfil e interesses.
Pequeno-almoço
A pandemia da COVID-19 retirou-me a possibilidade de usufruir do pequeno almoço em formato buffet – e que torna a open kitchen da sala de refeições do Six Senses Douro Valley ainda mais bonita.
O pequeno-almoço é, agora, servido à mesa; e é composto por fruta laminada, uma seleção de pão e pastelaria, uma variedade de sumos naturais à escolha. E trazia também uma deliciosa chia fermentada com morango, iogurte e granola de que não me vou esquecer nos próximos tempos. Há ainda uma variedade assinalável de opções de quentes – os ovos benedict, a tosta com abacate do algarve e ovo escalfado e os ovos mexidos com tomates da horta passaram com distinção (confesso, provei-os todos!).
Conclusão
- Pontos Fortes: A beleza do edifício, da paisagem e de toda a envolvente. A qualidade do serviço e a qualidade do spa. A simpatia dos colaboradores.
- Pontos Fracos: Nada, exceto porventura o preço, nivelado para clientes internacionais e que, por isso, deixam o hotel acessível apenas a uma pequena franja de portugueses.
- Em resumo: É um refúgio perfeito para o corpo e para a alma.
- Ideal para: Um retiro romântico.
- Preços: A partir de 525€ por noite por quarto duplo.
- Data da estadia: Julho 2020.