Solar Egas Moniz
Cinco minutos antes de chegar ao Solar Egas Moniz, só tentava encontrar uma forma delicada de justificar aos meus anfitriões que precisava de umas horas de descanso, antes de querer saber mais sobre o aio, sobre os lenços dos namorados bordados por mãe e filha, e a razão que levou a família Vinha a recuperar esta casa histórica. Já estava há dois meses na estrada, entre os distritos de Viana do Castelo, Porto e Braga, a trabalho, por isso o cansaço começava a alastrar-se, pertinaz, por isso, o convívio social já pedia uma trégua. (Um jornalista-viajante não é de ferro!).
Pelo contrário, a chuva estava implacável, com o céu cor-de-chumbo desatado numa choradeira intempestiva. Distraída pelos pensamentos, entrei no Solar Egas Moniz, em Paço de Sousa, Penafiel, rendida ao facto de ter de me justificar para refugiar por umas horas. Saí do carro, em peleja com a zanga dos deuses, mas ainda reparei no bonito vitral art-déco, na fachada, notei o espaço amplo, para a casa respirar, espiei a piscina lateral e, na linha do horizonte, concluí que os olhos poderiam descansar na paisagem rural, não fosse o aguaceiro.
Iva Vinha, filha do casal Conceição e Júlio, proprietários deste casarão turístico que se vai revelar uma grande casa de família onde se refugiam os amigos-hóspedes, foi de uma compreensão abnegada e de um carinho generoso que desmontou todas as minhas preocupações. Chá de camomila, lençóis fofos e macios, ao som da chuva retumbante nos vidros e não se fala mais no assunto. Foi mais do que aquilo que almejara, a caminho do Solar Egas Moniz. Naquele momento, num quarto com o nome “Lealdade”, coincidência ou não, o certo é que a sesta e a fitoterapia foram de uma filantropia milagrosa.
À hora de jantar, Iva já tinha saído para outros compromissos e, por isso, o casal Conceição e Júlio fizeram as honras das casa, na bela sala de jantar, com luz natural, convidando-me à mesa familiar para uma pescada assada, no ponto certo, preparada pela cozinheira Beta. Há semanas na estrada, tudo aquilo que me apetecia era (sem o dizer, adivinharam) exatamente aquele prato, caseiro, paladar-de-mãe.
Desde 1995 que a família Vinha (a Iva junta-se, também, a irmã mais velha Filipa, com ligação ao turismo) tem em mãos o Solar Egas Moniz, uma casa de campo robusta, com paredes em pedra a sussurrar memórias desde o século XIX. Ao contrário de muitas histórias sobre casas senhoriais, não houve neste caso qualquer herança. A família decidiu apostar num negócio em que acreditasse e, de certa forma, uma forma de continuar a conhecer pessoas. O espaço acabou por surgir, na busca. “Temos um imenso prazer em receber as pessoas e, como as filhas estão as duas dedicadas ao Turismo, percebemos que seria inevitável apostar numa atividade como esta”, confidencia Júlio.
Não foi tarefa fácil, contudo. Foram alguns anos de obras e de procura do conceito ideal, mas o resultado compensa – reza a lenda que, uma vez os hóspedes conquistados, rapidamente se transformam em amigos de longa data. Chavões à parte, não é para menos. O carinho, a hospitalidade e o à vontade, são genuínos. A provar estão as centenas de comentários carinhosos, no livro de visitas do Solar Egas Moniz que tive o privilégio de folhear, percebendo claramente o seguinte: esta família adotou os valores do precetor do primeiro rei de Portugal, fazendo deste Solar um aio, ao serviço de quem visita.
Como é o Solar Egas Moniz?
“O ambiente é marcadamente familiar, onde a decoração simples, minimalista e acolhedora dialoga com a tradição.” Vanessa Rodrigues
Localização
O Solar Egas Moniz situa-se na freguesia de Paço de Sousa, Penafiel, a 30 minutos de carro do Porto, a uma hora e meia de Coimbra e Chaves e a 3h30 de Lisboa. Além disso, está no coração da Rota do Românico. Por exemplo, num raio de cinco quilómetros estão cinco monumentos que integram o roteiro: Mosteiro do Salvador de Paço de Sousa, a Ermida Nossa Senhora do Vale, o Memorial da Ermida, o Mosteiro de Cête e a Capela da Quintã.
Morada: Rua dos Monges Beneditinos 158, 4560-380 Paço de Sousa, Portugal
Quartos
São dez quartos numa decoração dividida em dois conceitos. Na casa original recuperada, a ideia forte são as “palavras” que descrevem o aio-tutor de Dom Afonso Henriques, Egas Moniz, sepultado a poucos metros da casa, no Mosteiro de Vale de Sousa: sabedoria, altruísmo, honra, lealdade. Estes quartos “familiares” e históricos têm vista para um pátio inferior, com janelas grandes; um deles, a Junior Suite, é considerado o ex-líbris do Solar Egas Moniz, com um bonito vitral e sala de leitura. Por outro, já na ala nova, uma extensão da casa original, ligada por um passadiço, os quartos são dedicados à “Arte Popular” (dança popular, o vira, o azeite, o vinho e os lenços dos namorados), onde impera, sempre, a luz natural. Estes abrem-se para um pátio interior, com varandas viradas a sul.
Atmosfera
O ambiente é marcadamente familiar, onde a decoração simples, minimalista e acolhedora dialoga com a tradição. Dispõe de uma sala ampla, aconchegante, com livros, salamandra e mantas. O atendimento é personalizado, cuidado e informal e, lá fora, há imenso espaço para a diversão, um pequeno parque infantil e uma horta biológica, onde o hóspede pode brincar às plantações, sob orientação dos entendidos.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço está incluído na estadia e é recheado de doces e pão regionais, compotas caseiras, café fresco, chá, leite, sumos e frutas variadas.
Conclusão
- Pontos fortes: a hospitalidade, o sossego, a localização, as refeições, a qualidade dos quartos e o espaço amplo para as crianças
- Pontos fracos: nada a apontar.
- Em resumo: é o espaço ideal para quem procura descanso, contacto com o campo e ambiente familiar, mas também para quem gosta de atividade, com rotas culturais e iniciativas ao ar livre.
- Ideal para: casais, famílias e viajantes em geral.
- Preço: desde 89€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2014