Quinta do Rapozinho
Se eu pudesse avançar para o fim, limitar-me-ia a escrever: “Vão passar uns dias à Quinta do Rapozinho e depois agradeçam-me”. Mas, mandam as regras do bom senso que isto de dar ordens, sem qualquer justificação, não faz sentido. É preciso enquadrar, sugerir, explicar. O problema, no caso da estadia na Quinta do Rapozinho, um turismo rural em Cabeceiras de Basto, é decidir por onde começar, com tantos aspectos que me chamaram a atenção e merecem ser sublinhados.
Costumo dizer – porque assim acredito – que são as pessoas que fazem os lugares. E a Quinta do Rapozinho não é excepção. O lugar propriamente dito é fantástico: encravado entre as serras da Cabreira e do Alvão, é composto por um conjunto de casas a parecer uma aldeia, todas com janelas rasgadas para a paisagem – um prado verdejante -, a apontarem a sul, por onde o sol entra e aquece mesmo nos curtos dias de inverno. E as pessoas, mais concretamente, Teresa Machado Guimarães, e o pai, Armando, emprestam ainda mais encanto ao lugar, pela forma como colocam amor naquilo que tocam e como recebem os hóspedes de coração aberto.
A história da Quinta do Rapozinho seria porventura parecida a muitas outras. Uma casa grande, herança da avó, demasiado grande para a família, mas senhora de um património afectivo demasiado valioso para que a sua venda pudesse ser opção. Mantê-la como estava, a degradar-se, também não. Armando, Gininha e os quatro filhos avançaram para a criação do Turismo Rural. E em boa hora o fizerem.
Começaram com a Casa da Cocenda, a primeira a ser recuperada há já quase uma década, ainda na família ninguém pensava em abrir a porta a turistas. Foi precisamente nessa casa em que fiquei alojada, e dificilmente vou esquecer a sensação de conforto e de serenidade, estar num silêncio escuro da noite, na sala com paredes de vidro, a ouvir o crepitar da lareira com a chuva inclemente lá fora. E vou-me lembrar de ver a minha filha sentada a desenhar, na secretaria do avô de Teresa, incrivelmente iluminada pelo sol da manhã. E vou-me lembrar do pão ainda a fumegar pendurado de manhã na porta da cozinha, para ser a estrela do pequeno-almoço que preparei na cozinha rústica, onde o cheiro a café encheu a casa (ja estava desabituada, por causa do hábito das cápsulas) e a alma.
Depois, em dezembro de 2010, surgiram mais duas casas completamente recuperadas – a da Fecha e a dos Palheiros. Depois a piscina, os jardins, a área infantil, a antiga adega (agora recepção e sala de convívio, com lareira), os lagares (actual cozinha em ilha para workshops e preparação das refeições para os clientes). Em 2014, outras duas casas: a da Compadre e a doPalheiro Grande. As paredes de pedra não parecem frias, a madeira e a criativa decoração torna-as quentes. Em todas as casas, o pai manteve a traça, usou materiais da região, restaurou e transformou mobílias. Armando não é engenheiro civil, mas é dos que tem ideias, mais ou menos mirabolantes, e põe-nas em prática. Por estes dias, anda a ultimar a Casa dos Tonéis, com dois quartos cujas camas ficam dentro dos antigos tonéis de vinho, e uma mezzanine com duas pipas pequenas para as crianças.
Onde quer que o hóspede fique alojado, há muito para ver e para sentir na Quinta do Rapozinho. Passear com Armando pela Quinta, entre os gansos e patos e árvores de fruto e a olhar para o Espigueiro (ponto alto para os sketchers da família), é ouvir mais planos e projectos. É ouvir histórias de vida, é fazer perguntas e ter as respostas. Ou ficar sem elas. “Também não sei por que é que se chama Rapozinho”, responde-me Armando. Não faz mal.
Como é a Quinta do Rapozinho?
“Seis casas independentes, como se de uma aldeia se tratasse, entre as serras da Cabreira e do Alvão. Um refúgio de serenidade onde o cheiro (e sabor) do pão quente e o calor dos sorrisos que nos recebem nunca se esquece.” Luísa Pinto
Localização
A Quinta do Rapozinho fica na freguesia de São Nicolau, em Cabeceiras de Basto. A 90 km do Porto e a 60 km de Guimarães (ambos Património da Humanidade), esta a fica a meio caminho das serras da Cabreira, parte do Parque Nacional da Peneda-Gerês, com tudo o que isso significa em termos de património natural e biodiversidade, e do Alvão, porta de entrada para o Douro Vinhateiro.
Morada: S. Nicolau, 4860-000 Cabeceiras de Basto
Quartos
Melhor do que falar em quartos será falar nas casas. Ao todo são seis casas independentes, todas elas a decoradas de forma temática, com serviço de limpeza diário e pequeno-almoço, aquecimento (indispensável no inverno) e barbecue (fundamental no verão) e parque de estacionamento privativo. A kitchnette, integralmente equipada, permite fazer frente a todo o tipo de pratos. Mas quem não quiser pegar no carro para procurar restaurante e preferir provar um petisco feito por mãos alheias, verifique se o chef Francisco anda pela quinta a preparar um dos menus que leva depois, pronto a servir, à casa dos visitantes. Nós experimentamos um lombo assado durante 12 horas que ficou tenro de se partir à colher. Um solução perfeita para quem não quer sair de casa – mas também não quer cozinhar.
Atmosfera
Atmosfera familiar e uma envolvência de tranquilidade em pleno contacto com a natureza. As janelas rasgadas a fazer a paisagem entrar-nos pela janela. Na casa da Cocenda, o gado barrosão passeia-se a escassos metros da porta – mas sem que passem uma bonita vedação de madeira. Nas outras casas, os pastos não são tão extensos, mas em todas há verde à porta e paisagem no horizonte. Verdadeiramente bucólico.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Todos os dias é colocado à porta um saco com pão quente acabado de fazer – e não é um pão qualquer, é o pão “da Ana”, uma habitante da aldeia vizinha que o faz em moldes tradicionais. O pão é tão bom e tão inesquecível que rapidamente ofusca tudo o resto que vem num cesto principescamente recheado para que não falta nada ao pequeno-almoço dos hóspedes: leite, chás, doces e compotas com frutos locais, fruta, cereais. No frigorífico também são deixados os frescos. É só preparar e servir a gosto. A boa notícia é que a Ana aceita encomendas. E podemos pedir-lhe uma fornada para levarmos connosco na hora da partida.
Conclusão
- Pontos fortes: O ambiente familiar, a tranquilidade e a paisagem
- Pontos fracos: Apesar de haver router em todas as casas, nem sempre o sinal de wi-fi é fiável mas, num ambiente como a Quinta do Rapozinho, “desligar” do quotidiano é uma boa ideia.
- Em resumo: Perfeito para uma semana em família que implique esticadas ao Gerês, ao parque radical PenaAventura e até ao Douro Vinhateiro; e perfeito para quer assentar num sítio num local tranquilo a dar finalmente cabo da pilha de livros para ler.
- Ideal para: Casais, famílias.
- Preço: desde 65€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2015