Pensão O Laranjeira
Se a sorte assim permite, prefiro experimentar lugares onde os moradores da cidade que visito dormiriam, caso isso tivesse de acontecer. Marta e Mário, amigos e vianenses da gema, não hesitaram quando lhes disse que iria dormir uma noite em Viana do Castelo, mas ainda não tinha marcado local. Pensão O Laranjeira foi o nome que dispararam, com a ressalva de que seria um “local com atendimento fantástico”, numa relação “simpática” de preço-qualidade. Aceitei a sugestão, que não desiludiu, mas confesso que não esperava um ambiente cem por cento familiar, como aquele que encontrei, ao mesmo tempo que descontraído. Tinha a reserva pessoal que os vianenses seriam um pouco conservadores e formais. Estava redondamente enganada.
Mal cheguei, num sábado de primavera mas a ameaçar chuva, Helena, neta de Dona Maria (Micas) e do senhor Francisco Laranjeira, proprietários da pensão, apressou-se a receber-me com um sorriso e simpatia. Ajudou-me com a mala, subindo as esguias escadas que terminavam num pequeno corredor de madeira onde estavam vários retratos antigos dos avós na parede. Neles incidia a luz natural da grande claraboia do telhado. De repente, senti-me em casa dos meus avós de Braga; não pelo ambiente nostálgico, mas pela familiaridade das mobílias, do cheiro a madeiras.
Calhou-me o quarto “traje à vianesa”, com vista para a rua pedonal, onde eu podia ficar de mirone para a entrada de uma perdição: as bolas de berlim do Natário. Ao final do dia, podia ver a fila interminável, em busca da última fornada dos afamados doces e babar sem alguma vez conseguir comer uma única bola de berlim, tal a feroz concorrência. O frenesim lá fora, à hora da doçaria, era proporcionalmente oposto ao sossego do interior da pensão e do quarto, que se insinuava num misto de cheiro a laranjeira – literalmente -, por causa do gel de banho e champô da casa de banho, e odor a novo. Não foram necessárias capacidades de Poirot para perceber que o quarto tinha sido renovado: os bancos de pedra das janelas estavam restaurados, os móveis vintage polidos, o chão encerado e a cama, king size, com ar de semi-virgem.
Uma soneca e 20 minutos depois, estava a preparar-me para sair e jantar quando o mundo parecia desabar lá fora: uma enxurrada que prometia desafiar a arca de Noé. “E agora, onde jantar?”, pensei. Estava neste impasse quando a diligente Helena se antecipa e bate à porta para me dizer que, se quisesse jantar, a cozinha já estava a funcionar. Nem hesitei. Desci as escadas e deparei-me com uma generosa, moderna e comprida sala de jantar. Deviam estar umas 10 pessoas, além da mesa familiar onde estavam os proprietários da Pensão O Laranjeiro, os filhos, netos.
O cardápio não enganava a inspiração na cozinha tradicional portuguesa das entradas às sobremesas: acabei por pedir uma sopa de legumes, lombo assado, vinho maduro tinto e toucinho-do-céu. Tudo impecável e com sabor caseiro. Lá fora, a chuva persistia; lá dentro um pequeno paraíso que me surpreendeu. É por isso que, tal como Mário e Marta, já não hesito a recomendar com o mesmo entusiasmo a casa dos Laranjeira, quando o assunto é dormir em Viana do Castelo.
Como é a Pensão O Laranjeira?
“Uma residencial acolhedora de ambiente familiar, que resgata a tradição do bem receber, localizada no coração vianense. O atendimento é esmerado, um mimo.” Vanessa Rodrigues
Localização
Não admira que consigamos sentir o pulso ao centro histórico de Viana do Castelo desde a Pensão O Laranjeira, porque a Rua Manuel Espregueira, onde se situa, é cúmplice da artéria pedonal da cidade. Podemos até afirmar que fica literalmente no coração vianense, e dali podemos passear para qualquer lugar da cidade. Fica a 5 minutos a pé da estação de comboios, da Praça da República, dos Paços do Concelho, da Matriz Medieval e do chafariz quinhentista e a poucos passos da marginal do Rio Lima.
Desde a pensão pode caminhar-se pelas famosas ruas e ruelas do centro histórico, um dos mais belos e bem preservados de Portugal, conforme se percebe ao olhar a fachada das casas antigas tão bem preservadas, quer pelos preciosos azulejos bem conservados que acompanham muitas dessas casas. Em 15 minutos chega-se ao elevador de Santa Luzia, para subir ao Monte que lhe dá o nome e ter uma incrível vista panorâmica sobre a cidade.
Morada: Rua Manuel Espregueira 24, 4900-318 Viana do Castelo
Quartos
Os sete quartos temáticos disponíveis estão todos equipados com casa de banho privativa e têm nomes curiosos como Vinho Verde, Tapetes, Traje à Vianesa, Filigrana, Lethes, Santa Luzia e Eiffel, decorados a rigor a partir do motivo que os inspira. Dormi apenas uma noite na Pensão, no Traje à Vianesa, quarto duplo standard e fiquei muito satisfeita com a limpeza, espaço, arrumação e ar confortável com um toque de moderno: os móveis antigos estavam todos renovados. Havia uma cómoda para guardar o que quisesse, uma escrivaninha que recebia luz natural direta; televisão, Wi-Fi e um guarda-vestidos com cobertores e almofadas extra. A cama era muito confortável e espaçosa, convidando à preguiça.
Mas há ainda a possibilidade do quarto duplo mais económico, naturalmente um pouco mais pequeno e o duplo superior com terraço, ainda mais espaçoso que o standard. No próximo ano a Pensão vai ainda contar com cinco apartamentos que estão a ser renovados no prédio ao lado por jovens arquitetos.
Atmosfera
Familiar e informal. É inevitável não nos sentirmos mimados e bem recebidos na Pensão “O Laranjeira”, onde desde o primeiro contacto sentimos carinho. A função de área comum à pensão é assumida pela antessala do elegante restaurante, que dispõe de um sofá de espera à entrada. Sala dentro e já estamos a querer sentar-nos na mesa para comer. É aqui que se dá a verdadeira socialização, onde podemos até conhecer os avós de Helena Laranjeira, donos da guesthouse que a neta, formada em Gestão e Turismo, renovou não só a pensar nas memórias, mas também na continuidade do negócio de família, adaptando-o aos novos tempos, mas sempre olhando as tradições vianenses, através do cardápio do restaurante, por exemplo. É ideal para viajantes de todas as idades, backpackers em geral, casais, com ou sem filhos.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço na Pensão O Laranjeira está incluído no preço e é preparado na hora, trazido pela própria Helena Laranjeira. Bolo caseiro, pão, croissants, compotas, manteiga, café, chá, sumo de laranja, ovos, fruta. Tudo deliciosamente competente e, como o meu veio acompanhado de um sorriso, teve com certeza ingrediente secreto que agradou a viajante.
Conclusão
- Pontos fortes: localização ideal no centro de Viana do Castelo; ambiente descontraído e familiar; qualidade do atendimento que é personalizado.
- Pontos fracos: não tem elevador e as escadas são um pouco íngremes para quem tiver limitações de mobilidade.
- Em resumo: absolutamente recomendável.
- Ideal para: todas as idades e estilos.
- Preço: desde 35€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: mai. 2012