Paço da Torre
Quando cheguei à casa de turismo rural Paço da Torre, da família Cardoso, num fim de tarde de abril, não queria acreditar que no meio de uma aldeia que parecia encafuada num monte poderia haver uma casa de luxo, escondida entre muros. Por isso, quando o portão se abriu, devo ter feito aquele ar de espanto que sempre acomete os desprevenidos. Uma imensa área verde, com árvores, quintal, floreiras, uma casa que é extensão de ruínas e uma piscina de infinito, daquelas que parecem não ter fim, confundindo-se com a paisagem.
Daquele ponto alto e estratégico, o Paço da Torre tem a melhor arquitetura que a Natureza pode esculpir: uma vista brutal para o vale do Vouga e o maciço serrano da Gralheira. Já estava rendida aos primeiros minutos. Eu sei, estava a deixar-me levar muito facilmente, mas não era caso para menos. As duas noites em que dormi no Paço da Torre ficariam gravadas positivamente na memória, no paladar, nos afetos.
Depois de me dar alguns minutos, percebendo que eu estava boquiaberta com a paisagem, António Lima Cardoso, o proprietário, guiou-me para o interior da casa pela porta de serviço, que dá acesso direto à cozinha, onde a esposa, Odete, estava já a preparar o jantar. Notei que eles estavam um pouco nervosos, por saberem que eu era jornalista e por ser a primeira hóspede deste desafio a que se propuserem junto com os filhos. Mas logo relaxaram e trataram-me como amiga de longa data.
Mostraram-me os 6 quartos disponíveis com nomes das donzelas resgatadas pelo cavaleiro de Ansur: Berengela, Guiomar, Mécia, Damásia, Maria e Margarida. Todos aproveitando a luz natural, confortáveis, misturados com madeira e pedra.
À mesa, e sem cerimónias, fui-me servindo de várias ofertas de gastronomia, acompanhados de vinho: morcelas, migas de broa regionais, azeitonas suavemente temperadas com alho e azeite, presunto tenro, alheira, e um suculento peixe assado no forno, à maneira basca. Rimos, conversamos sobre viagens, política, sobre a história deste Paço da Torre, onde os avós do anfitrião, de origem beirã, chegaram a ser caseiros.
No dia seguinte, seguimos para um périplo que António tinha preparado especialmente para mim: centro histórico de Vouzela, Termas de São Pedro do Sul, visita às aldeias preservadas de Covas do Monte e Pena, conversando com pastores e homens da terra. Era fácil perceber o amor à terra do anfitrião. À noite, mais uma viagem pelo cardápio generoso de Odete: salada de abacate, frango desfiado e salteado com figos turcos e nozes suculentas; entradas dinamarqueses, pela mão de Anders, genro, numa camada de pão escuro, tipo canapé, a servir de base, com cavala, ou arenque de conserva, e molho de açafrão ou maionese no topo. Por coincidência, um casal marcara um fim de semana no Paço e os Cardoso tiveram de se desdobrar nas atenções, mas sem problemas. Éramos dez à mesa, como se fôssemos, realmente, amigos de longa data, neste pacato refúgio familiar.
Como é o Paço da Torre?
“Uma casa de turismo rural soberba de ambiente familiar, com uma piscina a avistar o vale do Vouga e o maciço serrano da Gralheira. Imperdível para descansar.” Vanessa Rodrigues
Localização
É preciso ter carro para chegar ao Paço da Torre, pois fica na pequena aldeia de Figueiredo das Donas, no concelho de Vouzela. Os acessos são fáceis mas é necessário levar à risca as indicações, pois só quem conhece ou tiver informação pode lá chegar. Na época em que lá me hospedei, já havia uma pequena placa a indicar Turismo Rural, mas não o nome do Paço da Torre.
Vejamos: deve seguir pela A25 (Aveiro-Albergaria-Viseu-Guarda-Vilar Formoso- Espanha); seguindo desde Albergaria deve utilizar-se a saída 13 (Vouzela/S.Pedro do Sul), segue-se, depois, durante 16 quilómetros por Vouzela (centro) e Fataunços até Figueiredo das Donas. Se seguir desde a Guarda deve utilizar-se a saída 16 (Tondela/Vouzela), seguindo a direção de Vouzela e antes de Vouzela ao passar Fataunços deve tomar-se a direção de Figueiredo das Donas.
Morada: Rua Rainha D. Amélia, 3670-102 Figueiredo das Donas
Quartos
Os seis quartos da casa de turismo rural são soberbos. Além de espaçosos, têm ótimos acabamentos de luxo, são confortáveis, aquecidos, e dá vontade de morar por uns tempos, quiçá, como refúgio para descansar ou criar. Ideal para quem gosta de sossego. Quando dormi no Paço da Torre fiquei no quarto Dona Margarida, que tem duas camas de solteiro unidas, mas muito confortáveis. O quarto é espaçoso, tem uma janela/porta para o jardim interior e outra para uma varanda exterior sobre a muralha, uma janela com namoradeiras e vista sobre o centro de Figueiredo das Donas e as serras da Arada e de Montemuro. Um privilégio.
As dimensões dos quartos e as vistas para a paisagem mudam ligeiramente, mas não as condições de aconchego. O quarto mais pequeno é um estúdio (Damásia) e o maior tem 42 metros quadrados (Maria). As casas de banho são igualmente grandes e confortáveis, com estrado de madeira no chuveiro. Tratamento de realeza.
Atmosfera
O ambiente é familiar, informal e há uma energia que insinua estarmos em casa de amigos. A área comum é a sala grande – de televisão e jantar -, com uma pequena lareira moderna, uma imensa varanda sob a paisagem e janelas enormes ao redor que deixam a luz natural entrar. Ao fim do dia, a luz dourada anuncia o espetáculo que é a chegada do pôr-do-sol ao Paço da Torre.
Os anfitriões são muito profissionais e carinhosos e fazem tudo para que os viajantes se sintam à vontade, promovendo a socialização. Além disso estão prontos a dar dicas sobre o que fazer nos arredores e têm refeições maravilhosas (recomendo esta experiência única, pois Odete tem mão para a cozinha e gosta de experimentar novas receitas, reinventando a cozinha regional). É ideal para casais e para quem procura refúgio e sossego.
Pequeno-almoço (café da manhã)
O pequeno-almoço está incluído na diária e inclui pão caseiro, variedade de bolos e compotas caseiras (abóbora com nozes e amêndoas, por exemplo), manteiga, queijos variados, chá, café, leite, sumos, frutas.
Conclusão
- Pontos fortes: ambiente descontraído, familiar e sociável; qualidade do atendimento; paisagem incrível, sossego, ideal para qualquer estação do ano; cozinha deliciosa; apoio a pessoas com mobilidade reduzida, pois tem quartos térreos.
- Pontos fracos: localização pode limitar o acesso, pois é necessário carro.
- Em resumo: absolutamente recomendável para quem queira desfrutar de um fim de semana em contacto com a terra e descanso.
- Ideal para: casais em geral; para quem quer sossego para criar, relaxar.
- Preço: desde 75€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: abr. 2011