Herdade Água D’Alte
Fica a menos de duas horas de Lisboa, mas dista bem mais de quatro do Porto. Foi por isso, e só por isso, que acabei por não chegar a tempo de provar os espargos verdes enrolados em presunto e massa filo, nem os croquetes de alheira com maçã verde e molho de mostarda.
Os restantes convidados tiveram uma viagem mais curta e atiraram-se logo aos ingredientes e utensílios de cozinha que Cristina Silva Costa já havia espalhado na simpática Casa de Xisto, e logo trataram de comer as entradas de uma refeição que se adivinhava generosa. Cristina é a anfitriã, a cozinheira que ministrava o workshop de culinária e, também, a proprietária daquele refúgio em que nos encontrávamos, em plena Serra D’Ossa, no município do Redondo: a Herdade Água D’Alte.
Perdi as entradas, é certo, mas cheguei a tempo das bochechas de porco preto com puré de abóbora e brócolos e maçãs caramelizadas, do risotto de cogumelos aromatizado com óleo de trufa – que ainda ajudei a confecionar – e a tradicional Sericaia, feita com amarelíssimos ovos caseiros. Comecei, por isso, por conhecer a Herdade Água D’Alte à mesa, e não comecei nada mal.
Situada na “Rota dos Vinhos” e também “Rota dos Sabores” do turismo alentejano, esta Herdade posiciona-se como um local adequado para quem quer bem beber e melhor comer. Mas a sua grande mais-valia é mesmo o facto de um verdadeiro refúgio, longe de todos os bulícios – o da cidade e o do quotidiano.
Foi isso que encontrou Cristina Silva Costa quando, apostada em compensar os anos de desgaste como empresária em Lisboa, procurava um espaço no Alentejo onde pudesse fazer render os dias num lugar tranquilo. Acabou por encontrar a Herdade Água D’Alte à venda. E, se inicialmente percebeu as dúvidas do marido, que se questionava se seria de um turismo rural que andavam à procura, Cristina logo admitiu que, afinal, sim, era mesmo isso. “Aqui pude juntar três das coisas que mais gosto de fazer: dar azo ao meu gosto por decoração, que usei na remodelação de todos os espaços, apostar na gastronomia (o que faço, organizando estes workshops) e conhecer pessoas interessantes e interessadas, gente de todo o mundo. Era mesmo isto que eu procurava para refúgio”, diz-me Cristina, ocupada a mexer, ininterruptamente, o risotto.
Depois das obras de remodelação, o novo Água D’Alte reabriu as portas em outubro passado, e Cristina e a equipa têm andado empenhados em garantir estadias memoráveis a quem se aventurar pelas curvas da Serra D’Ossa acima.
Depois de atravessar uma pequena ponte sobre um riacho e franquear os portões da Herdade Água D’Alte, os visitantes vão encontrar um lugar idílico. A arquitetura e as cores alentejanas, das casas térreas a desenhar um “U” a abraçar um pátio central. E depois são jardins e oliveiras e animais em pastos até perder de vista. E a piscina, que antes estava “escondida” pelas casas, aparece logo depois a sobressair da paisagem. O lounge de inspiração colonial e repleto de motivos africanos (os proprietários nunca viveram em África, mas já fizeram muitas visitas àquele continente) ajuda à sensação de lazer. Revela-se o sítio ideal para desfrutar de um livro, um snack ou um cocktail de fim de tarde, com a paisagem deslumbrante da Serra D’Ossa como pano de fundo. Isto, num tempo de primavera ou de estio. Num fim de semana invernoso, como aquele que ali passei, é difícil querer sair da suite. Até porque não se estava nada mal por lá, e a paisagem da serra entrava pela janela dentro.
Como é a Herdade Água D’Alte?
“Um casal de lisboetas procurava um refúgio no Alentejo, e “tropeçou” numa herdade. E agora partilham a casa e a serenidade do lugar com os visitantes que procuram luxo mas sem formalismos.” Luísa Pinto
Localização
A Herdade Água D’Alte fica no lugar da Aldeia da Serra, em plena Serra D’Ossa, na pequena e serpenteante estrada que liga os municípios de Estremoz e Redondo. Esta localização deixa-a bem perto de todos os argumentos gastronómicos, enológicos, patrimoniais e culturais que existem nesta zona do Alentejo. Fica a 6 km do Redondo, a 17 km de Estremoz e a 38 km de Évora.
Morada: Aldeia da Serra 14, 7170-120 Redondo
Quartos
As flores campestres que abundam pela herdade inspiraram a decoração dos dois quartos duplos, duas suites e três master suites que compõem a Herdade Água D’Alte no seu núcleo principal. Dela também faz parte a Casa das Malhadas, isolada num pequeno monte, com kitchenette (sem fogão) e um terraço de cortar a respiração.
Fiquei alojada na suite Alfazema, onde a decoração em vários tons de lilás, associada aos odores que emanavam da jarra em cima do aparador, me transportou de imediato para os campos floridos. A sala e o quarto são dominados por um pé direito muito alto, uma sensação reforçada pela falta de teto (melhor dizendo, pelas traves de madeira à vista) e pelo lanço de seis escadas que temos de descer para entrar na suite.
Como choveu durante o fim de semana, não pude aproveitar grande coisa do terraço privativo que serve cada uma das suites – e onde, sob marcação, podem ser feitas massagens e serviços de aromaterapia. Também não precisei de ligar a salamandra no quarto – porque o ar condicionado tinha a suite suficientemente aquecida. Mas consigo imaginar o conforto, e o calor que sai dali.
Atmosfera
Podemos falar de um estilo country chic, pontuado pelos aromas e os ambientes do campo sem desprezar os detalhes do conforto e da sofisticação. As suites são espaçosas e confortáveis, todas com um terraço privados a convidar ao deleite. E tem espaços públicos irresistíveis, como o lounge junto à piscina. É apropriado para casais e recomendável para grupos e famílias alargadas que queiram ter usufruir de workshops de culinária, ou de olaria, ou simplesmente do sossego da região.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Farto, requintado e caseiro. O pão, quente e estaladiço, surge no cesto em várias versões. O queijo e o requeijão também. Sumo de laranja acabado de espremer. Dos fumados, sobressai o salmão. As compotas são deliciosas, o iogurte com doce e muesli também. Na travessa de frutas pontuavam morangos, papaia, kiwi, laranja… doces e frescos. Os ovos (mexidos, estrelados, é só dizer) são feitos a pedido na hora. Deliciosos. Para rematar: um Nespresso.
Conclusão
- Pontos fortes: a atmosfera requintada e relaxada; a simpatia dos funcionárias, com sorriso muito para além do profissional, mas antes genuíno.
- Pontos fracos: nada de relevante.
- Em resumo: perfeito para quem procura algum luxo e mordomias em ambiente rural.
- Ideal para: casais, mas também grupos de amigos e famílias numerosas, que reservem a totalidade da herdade e ali queiram passar um fim de semana aprazível.
- Preço: desde 125€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2014