Casas do Porto
A escolha foi quase óbvia. A localização era excelente, a dois passos da sempre típica Ribeira, e, mesmo não tendo frente de rio, o sitio na internet das Casas do Porto anunciava que se vislumbrava a ponte D Luís. Eu questionava-me, conhecendo eu relativamente bem a cidade, e se estávamos em plena rua Ferreira Borges, um pouco acima do Palácio da Bolsa, como seria possível ver dali a Ponte D. Luís?
Mas não foi essa curiosidade que tornou a escolha da estadia definitiva: eram aquelas fotos, o papel de parede, as cores elegantes, o ar requintado de alguns dos apartamentos. Pareciam-me, mesmo, muito diferentes e davam ares de serem incrivelmente acolhedores. Porventura este começa a ser problema de quem já experimentou alguns desses apartamentos turísticos e espreitou a oferta de muitos mais: as decorações quase se repetem e começamos a identificar os móveis pelo nome (sim, porque também tenho alguns desses lá em casa). Quando encontro uma decoração mais distinta, a lembrar a de alguns hotéis de charme, fico com maior vontade de conhecer. Estava escolhido.
A estadia concretizou-se num domingo à noite, num fim de semana de chuva, família toda, bebé e criança incluídos. Chegámos a meio da tarde, e tivemos a incrível sorte de ter um lugar de estacionamento à porta (o melhor é ninguém contar com isso). Estava dado o mote para o que esperava da estadia nas Casas do Porto: mesmo que curta (seria só uma noite), deveria ser memorável. E foi. A começar pela forma como fomos recebidos pelo Rui Barreira, o dono do apartamento, que nos pôs vontade com tudo e deixou a certeza de que não nos iria faltar nada.
A conversa foi longa e agradável, tendo sido interrompida apenas porque o Rui ia receber outros clientes. Aproveitámos, então,para reparar na distração do até então choroso São Pedro, e ir espreitar a animadíssima Rua das Flores – e eu também levava esse item na minha to-do list, já que a última vez que a tinha calcorreado ainda passavam carros em algumas partes da sua extensão. E estes pequenos grandes detalhes – como a decisão de sair de casa e dois minutos depois já estamos no destino pretendido – provam que a localização é um pormenor mesmo importante.
Mas o que importa aqui não é falar das ruas, mas sim dos apartamentos. E estas Casas do Porto, o nome feliz com que Rui e Olívia batizaram o conjunto de apartamentos, têm histórias bem interessantes para contar. A começar pelo facto de terem pertencido ao arquiteto Marques da Silva, um importante nome da cidade, autor de ícones como a estação de São Bento ou a Casa de Serralves. Rui e Olívia, engenheiros de profissão, abraçaram o projeto de recuperar os apartamentos (são, por agora, sete, mas há outros no prédio, ainda habitados pelos seus inquilinos de sempre) e de os colocar no mercado de alojamento local.
Ouvir Rui Barreira é perceber que estamos perante alguém que não quer apenas sobreviver no cada vez mais competitivo segmento de turismo na cidade do Porto, mas sim impressionar positivamente quem visita a cidade, sem falsidades nem artificialismos. Ele não é do Porto e apaixonou-se pela cidade. E transmite essa paixão a todos os que pedem dicas, conselhos, roteiros, reservas em restaurantes. É um verdadeiro serviço de concierge, dispensando o casaco de libré. Rui ou Olívia respondem a tudo – falou-nos de visitantes brasileiros que se habituaram a usar o whatsapp para falar com o Rui sobretudo e mais alguma coisa. E tecnologia é o que não falta – há uma aplicação gratuita disponível para download com muitas informações sobre a cidade para quem ela a percorre pela primeira vez.
Mas, confesso, o que mais gostei de ouvir a Rui Barreira quando falava apaixonadamente do Porto foi a sua descrição da população que habita os prédios (os apartamentos estão em dois edifícios contíguos, mas distintos). São eles que dão a autenticidade ao Porto e impedem que se transforme, apenas, numa montra para turistas.
Nós, pelo contrário, quase sentimos que tínhamos uma montra em casa. Ficamos no apartamento Vintage, que tem uma clarabóia no corredor da entrada a dar as boas vindas e umas pequenas escadas para um quarto no sótão que fez as delicias da filha princesa. E o bebé também gostou muito de aprender a subi-las. Não houve sossego, mas houve muita diversão. Os apartamentos estão equipados com tudo o que uma família pode desejar para fazer refeições, ligeiras ou nem por isso. Estivémos muito confortáveis. Como estamos na nossa casa. E esse é, assumidamente, o objectivo dos donos das Casas do Porto. Ah: é mesmo verdade. Das janelas do quarto conseguia mesmo ver a Ponte D. Luís. É uma belíssima paisagem antes de adormecer.
Como são as Casas do Porto?
“Tem como vizinhos de rua o Palácio da Bolsa e o Hard Club, e como vizinhos de portas os septuagenários que continuam a fazer do Porto uma cidade autêntica, onde os turistas são muito bem-vindos mas ainda não tomaram conta de tudo.” Luísa Pinto
Localização
Estar em plena Ribeira do Porto, a escassa meia dúzia de passos de ícones da cidade como o Palácio da Bolsa, a Ponte D. Luís, a Estação de São Bento a ou Igreja de São Francisco, leva a que tenha de ser dito que a localização é irrepreensível. Perto de tudo, sem estar no olho do furacão que se pode tornar a movida portuense – à exceção, eventualmente, dos dias em que os concertos no Hard Club sejam mais concorridos e ruidosos.
Morada: Rua Ferreira Borges, nº 694050-253 Porto
Quartos
Há apartamentos de um quarto ou de dois, com varanda ou com vista de rio, e apartamentos Deluxe, onde as áreas são mais do que generosas. E há um muitíssimo especial, e que foi aquele em que pernoitei: o apartamento Vintage, com direito a clarabóia e a umas irresistíveis águas furtadas. O quarto não tem suite, e toda a casa é servida por uma única casa de banho, onde são dispensados agradáveis produtos da Yves Rocher.
Atmosfera
É um ambiente de requinte, não há que ter medo da palavra. O facto de ter escolhido um decorador profissional, as obras de arte expostas pelas casa, o cuidado postos nos detalhes – em que tudo é bonito, mas nada é um museu -, ajudou a consegui-lo. Só tive pena de não me cruzar com os vizinhos que moram no mesmo andar, e de não ter tido oportunidade de lhes bater à porta. Porque eles fariam a minha experiência no apartamento das Casas do Porto ainda mais autêntica.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Não está incluído na diária, mas existe um serviço disponível. Basta fazer o pedido de véspera e no frigorifico aparecem leite, iogurte, queijo, fiambre, doces, manteiga, sumo… E, pendurado na porta, pão quente e croissants fresquinhos, encomendados na padaria da esquina. Não chegamos a experimentar, porque estávamos servidos. Mas não tem nada para correr mal. Custa 7€ por pessoa.
Conclusão
- Pontos fortes: a localização, o bom gosto da decoração, a simpatia e o profissionalismo dos anfitriões
- Pontos fracos: a estadia mínima de dois dias compreende-se; a obrigatoriedade de deixar à chegada uma caução de 200€ é que parece exagerada; compreendemos o objetivo de segmentar a clientela, e bem sei que todas as cauções são devolvidas, mas o valor parece exagerado
- Em resumo: é ter a casa, a nossa casa, localizada no melhor sitio da cidade do Porto, pelo menos por uns dias.
- Ideal para: famílias, pequenos grupos de amigos
- Preço: desde 85€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2016