Casa Valxisto – Country House
A Casa Valxisto merecia que a tivesse conhecido debaixo de um sol radioso. Aquela piscina de beiral infinito merecia ser aproveitada, a sombra do canastro (espigueiro) teria sido o lugar perfeito para me sentar a ler ou desenhar, a quinta um espaço para passear e levar os miúdos a cumprimentar as ovelhas, e Quintandona uma aldeia preservada para visitar. Bem sei que era fevereiro, pleno inverno em terras de chuva, mas a esperança é sempre a última a desaparecer no horizonte.
Ambicionava que as nuvens esbranquiçassem e o céu aparecesse pintado com farrapos de azul, e foi precisamente isso que aconteceu na manhã do dia seguinte, permitindo-me sair do turismo rural absolutamente irrepreensível que Ana e Hélder apaixonadamente criaram na deliciosa aldeia de Quintandona, a pouco mais de quase nada de distância do Porto! Mas já lá vamos à Casa Valxisto!
Quintandona é uma aldeia integralmente recuperada há sensivelmente uma década. A maioria das casas e muros é construída em xisto, a fazer lembrar as Aldeias do Xisto do centro de Portugal, o que faz de Quintandona uma aldeia muito fotogénica. Mas não é um museu. Pelo contrário: o povoado está vivo, tem vida, e é habitado por gente jovem! Como Ana e Hélder.
Eles são a alma da Casa Valxisto, uma propriedade originalmente construída pelos bisavôs de Hélder, criado na zona, e que servia de habitação para a família. A quinta chama-se Valverde, tem mais de cinco hectares onde se cultivam “produtos hortícolas e frutícolas em modo de produção biológica”; a casa chama-se Valxisto, “um refúgio que lhe oferece os tons, os aromas e toda a riqueza campestre…”, para usar as palavras dos próprios.
Nesse sábado, entrei na Casa Valxisto – Country House em “hora de ponta”. Hélder fazia o check-in de outro casal de hóspedes (sim, este turismo rural pode e deve ser desfrutado a dois) no momento em que cheguei; logo depois apareceu uma família; a seguir um jovem casal. Deixei-me ficar, dando atenção aos filhos que andavam já a explorar o espaço. Estávamos nas antigas barras, onde outrora se guardava o feno, hoje receção e ampla sala comum, com lareira, sofás e TV, e ainda uma mesa de bilhar. É um espaço que impele os hóspedes ao convívio, haveria de comprovar.
Procedimentos terminados e uma agradabilíssima conversa com Hélder depois, instalei-me no estúdio nature, mas rapidamente voltei para a sala comum fintando a chuva para brincar com a minha filha e conversar com outros hóspedes. Quase sem dar por isso, o relógio chegava às ansiadas 20:00, hora de jantar – momento que na Casa Valxisto é levado muito a sério.
A Casa Valxisto aposta na gastronomia como forma de potenciar a experiência dos hóspedes, usando frutas e legumes produzidos localmente e beneficiando dos dotes culinários de Ana e sua equipa.
Para abrir o apetite, saiba que o jantar começou com entradas de alheira reinventada, pataniscas de bacalhau tradicionais e uns cogumelos portobello cozinhados de forma absolutamente magistral. Depois veio uma saborosíssima sopa de legumes biológicos com agriões, um bacalhau com broa muito agradável e, novo momento alto, um cheesecake de frutos silvestres – produção caseira – para sobremesa. E eu nem gosto de doces!
Experimentar pelo menos um jantar na Casa Valxisto, tal a qualidade da comida e o carinho colocado em todos os aspetos da confeção, é experiência “obrigatória”. A minha estadia poderia acabar ali mesmo, à mesa, que já teria valido a pena.
Mas faltava ainda dormir confortavelmente debaixo da intempérie, tomar um belo pequeno-almoço e visitar a aldeia de Quintandona já com o sol do dia seguinte a brilhar timidamente, e despedir-me dos sorrisos de Ana e da discrição de Hélder com um “até breve”. Gostaria de terminar este texto sem o cliché literário do “hei-de voltar”, mas isso é exatamente o que aqui quero escrever, de forma ainda mais afirmativa: vou voltar a Quintandona! Pela aldeia. Pelo turismo rural Casa Valxisto. Pelas pessoas que lá conheci.
Como é a Casa Valxisto?
“Um turismo rural feito de amor à terra e muito bom gosto, com uma pitada de requinte e uma enorme paixão por bem receber.” Filipe Morato Gomes
Localização
Talvez se surpreenda ao introduzir o nome no GPS ou Google Maps, mas a Casa Valxisto fica a apenas 30 minutos de carro do Porto, na idílica aldeia de Quintandona, uma aldeia de xisto em terras de granito. A Rota do Românico passa à porta, Penafiel e a Quinta da Aveleda estão a dois passos e mesmo Braga e Guimarães não distam tanto assim para quem possua veículo próprio. Note que não precisa ir tão longe para desfrutar, porque a própria aldeia de Quintandona merece, por si só, a estadia.
Falta dizer que, caso queira visitar o Porto e não tiver carro, o comboio passa em Recarei / Sobreiro e larga-o na estação de São Bento, coração da Baixa do Porto, em pouco mais de meia hora.
Morada: Rua Padres da Agostinha 233, 4560-195 Quintandona, Portugal
Quartos
Mirtilo, framboesa, alfazema, tangerina, pera e maça (estes dois colados à piscina) são os nomes dos quartos da Casa Valxisto, para além do nature, um pequeno estúdio com entrada por local exterior resguardado, onde pernoitei em família.
O quarto onde fiquei estava adaptado para um casal com filhos, dispondo de uma pequena kitchenette com as coisas básicas para preparar pequenas refeições para os mais pequenos (é uma heresia não provar as refeições da Ana mas, para quem tem bebés, a estrutura dá sempre jeito).
Sem desprimor para todos os outros, os quartos pera e maça são os mais procurados, e com razão: beneficiam da proximidade da elegante piscina, um espaço a fazer lembrar as famosas infinity pools dos hotéis de luxo, só que com vista para as vinhas da Quinta Valverde. Fica para uma próxima visita, a dois.
Atmosfera
O ambiente da Casa Valxisto tem algo que eu muito aprecio num alojamento: incentiva a socialização entre hóspedes. A forma como os espaços comuns estão montados, da sala comum ao lado da receção à sala de refeições, passando pela zona da piscina, é propícia ao convívio entre hóspedes. No inverno, os hóspedes são maioritariamente turistas portugueses, principalmente casais ou famílias desfrutando de um fim de semana tranquilo; no verão, visitantes estrangeiros que se alojam na Casa Valxisto para explorar a ruralidade da região, a pé ou de bicicleta.
Dito isto, é o carinho e generosidade que Ana e Hélder colocam em tudo o que fazem que torna a Casa Valxisto uma unidade hoteleira tão especial.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Tal como Ana faz questão de referir, boa parte dos produtos são biológicos e produzidos localmente na quinta da Casa Valxisto. É o caso da fruta usada nos sumos naturais (sucos) e das deliciosas compotas que provei ao pequeno-almoço.
Para além de uma mesinha com fruta e os sumos (havia um de laranja e outro de várias frutas), havia outra mesa com vários tipos de pão e croissants, fatias de queijo e fiambre, queijo fresco e uma marmelada divina, e ainda alguns pratos quentes que não provei, como salsichas e ovos mexidos. Dito assim, parece coisa simples, mas a verdade é que o café da manhã é mesmo delicioso. E não é só pelo facto de ser tomado numa sala de refeições inspiradora, com lagar de vinho e tudo; é que ali, no aconchego da Casa Valxisto e mimados por Ana, tudo sabe mesmo bem.
Conclusão
- Pontos fortes: antes de tudo, o próprio conceito da Casa Valxisto. Depois, a simpatia dos proprietários, o carinho que com mimam os hóspedes (como se fossem amigos há séculos), os cozinhados de Ana, a decoração dos quartos, a piscina. E tudo o resto!
- Pontos fracos: é uma heresia falar de Internet num ambiente destes, mas se necessitar mesmo de a usar saiba que na aldeia não há cabo nem fibra ótica, pelo que a Internet na Casa Valxisto pode não ter a velocidade a que está habituado. Pela minha parte, testei e não me pareceu nada má, mas Hélder fez o reparo, talvez para gerir as expectativas.
- Em resumo: um espaço feito com paixão junto a uma aldeia de xisto magistralmente recuperada, ideal para uma escapada romântica a meia hora do Porto.
- Ideal para: casais enamorados, famílias com crianças, todos os que apreciam o espírito de um turismo rural, e ainda os amantes da boa gastronomia portuguesa.
- Preço: desde 85€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2016