Casa do Godinho
Se nunca pensou em se hospedar em Matosinhos durante a sua visita à cidade do Porto, talvez esteja na hora de considerar essa hipótese. Não que a hotelaria portuense seja de fraca qualidade – pelo contrário, não faltam exemplos de guesthouses maravilhosas no Porto -, mas porque Matosinhos não sofre das enchentes turísticas do Porto, está literalmente colado à Invicta, também tem praia e, agora, beneficia até de um alojamento local acolhedor.
Não foi nisso que pensou Marta Coelho e o marido quando decidiram comprar e recuperar o número 222 da rua do Godinho. O objetivo era transformá-la numa residência familiar mas, aos poucos, por entre o pó das obras de reabilitação, foi surgindo a ideia de transformar a casa numa guesthouse. Não havia nada do género no centro de Matosinhos e a aposta era arriscada. Foi arriscada. Mas está ganha – e isso percebi logo que cruzei a imponente porta da Casa do Godinho.
Foi Maria João que me recebeu, sorriso discreto estampado no rosto. Maria João é o braço direito de Marta. Trabalhavam juntas no cinzento mundo da banca, seguiram depois rumos distintos na vida profissional, voltam agora a estar juntas no projeto Casa do Godinho. São cúmplices, amigas, parceiras a cuidar do seu bebé.
Sim, apesar de não parecer, a Casa do Godinho é ainda um bebé. Abriu as portas em junho de 2015 e, aquilo que se antecipava uma abertura tranquila e com tempo (leia-se, sem clientes), para ir aprimorando aos poucos todos os detalhes da casa, tornou-se numa abertura de supetão e recheada de stress: “meia hora depois de colocarmos a Casa do Godinho no booking recebemos a primeira reserva. Para o dia seguinte!”, contou Marta, orgulhosa. Terá sido a terapia certa para dar confiança a uma equipa perfecionista e cujo background nada tinha a ver com a hotelaria.
Ficámos à conversa bastante tempo, fui conhecer o quarto e todos os cantos à minha casa por uma noite. Impossível não reparar nas cores utilizadas, incrivelmente belas, aconchegantes, harmoniosas (consta aliás que há muitos hóspedes a pedir as referências das cores); nas paredes de pedra pintada, outra originalidade da Casa do Godinho que lhe dá um toque acolhedor mas irreverente e original; no pátio interior que, num dia de veraneio, decerto proporcionará porto seguro para um fim de tarde a descansar da praia ou uma leitura retemperadora; na sala de pequenos-almoços, simples mas bonita, com mobiliário de madeira recuperada e pintada de branco; e até na pequena sala de leitura, ainda em preparação mas para a qual auguro muitos “clientes”.
Check-in feito, voltei a casa para jantar. Não é engano, voltei mesmo para casa uma vez moro em Matosinhos. É estranho dormir num hotel a escassas centenas de metros da própria habitação, mas foi o que fiz. Nunca tinha dormido num hotel de Matosinhos, e só aí me apercebi de todo o potencial que um alojamento local como a Casa do Godinho tem para rivalizar com as melhores guesthouses do Porto, dada a relativa proximidade da urbe matosinhense ao aeroporto Francisco Sá Carneiro, à Exponor, à praia, à Foz do Douro e até ao centro do Porto. Não me admira até que, quando o fluxo de turistas começar a saturar a Baixa portuense para lá do razoável, Matosinhos seja olhado como uma alternativa óbvia para ficar hospedado. E a Casa do Godinho estará na primeira linha para os receber.
Quando regressei à Casa do Godinho após o jantar era já um pouco tarde, razão pela qual não usufruí da sala comum e não tive oportunidade de me cruzar com outros hóspedes. Dormi, descansei e ainda mais revigorado fiquei depois de experimentar o excelente chuveiro, antes de me dirigir à muito agradável sala de pequenos-almoços, onde Maria João já me aguardava para me mimar com compotas caseiras de sua autoria.
Quando de novo saí rumo a casa, desta feita despedindo-me de vez da Casa do Godinho, estava pensativo: como é que não me ocorrera antes que Matosinhos pudesse ser um excelente destino de viagem por si só, ou a base para turistas – nacionais e estrangeiros – explorarem o vizinho Porto?
Como é a Casa do Godinho?
“Uma guesthouse com personalidade em tons charmosos, a dois passos da praia e dos bons restaurantes de peixe, bem à medida de hóspedes com bom gosto.” Filipe Morato Gomes
Localização
A Casa do Godinho está instalada num edifício recuperado na homónima rua do Godinho, uma das mais emblemáticas do centro histórico de Matosinhos, a pouco mais de 300 metros da praia de Matosinhos. Tem uma estação de metro a dois passos, ideal para o transporte até ao centro do Porto; e o aeroporto está a uma curtíssima viagem de táxi, quase sempre por vias rápidas sem trânsito.
Morada: Rua do Godinho 222, Matosinhos, Portugal
Quartos
A Casa do Godinho tem apenas cinco quartos decorados em tons pastéis distintos, todos suaves e incrivelmente bem escolhidos, cujos nomes refletem a tonalidade dominante: azul varanda, toupeira, lavanda, rosa e azul.Eu fiquei num quarto amplo com decoração minimalista (como eu gosto), onde o branco namora com o tom azul primordial criando harmonia e tranquilidade. Tinha uma pequena mesa para trabalhar e umas mesinhas de cabeceira deliciosas, que mais não eram do que troncos de árvore polidos e pintados. Havia ainda uma discreta televisão, que nem me lembrei de ligar.
E dormi bem? Sim, impecável. O colchão era muito confortável (nada daqueles colchões moles que encontro em muitos hotéis de luxo) e não ouvi muito barulho da rua.
Atmosfera
Mais do que um ambiente propício a socializar, são a tranquilidade, a privacidade e o descanso as palavras de ordem na Casa do Godinho. O staff está sempre disponível para o que for preciso – presencialmente ou à distância de um telefonema – mas sem intromissões desnecessárias. Os hóspedes são muito variados: desde o casal português que vai “fazer praia” para Matosinhos, até ao homem de negócios estrangeiro que vem participar numa feira profissional na Exponor – Feira Internacional do Porto.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Simples mas suficiente. Tem uma pequena mesa com frutas (no dia em que pernoitei na Casa do Godinho havia laranja, papaia, uvas e kiwi), iogurtes e bolo caseiro, e para a mesa vieram ainda três tipos de pão, queijo, fiambre e deliciosas compotas caseiras, resultado do talento culinário de Maria João (caro leitor, obrigo-o a provar as compotas, depois agradece-me!).
Apesar de o pequeno-almoço não ser daqueles de encher o olho, honestamente não senti falta de nada. Pareceu-me aliás perfeitamente adequado ao ambiente caseiro da Casa do Godinho, mas admito que quem esteja habituado a mesa farta, sumos naturais e pratos quentes – como ovos mexidos, por exemplo – possa ficar desiludido.
Conclusão
- Pontos fortes: ambiente intimista, bom gosto da decoração, bela recuperação de um edifício antigo, e ainda o facto de serem pioneiros em Matosinhos.
- Pontos fracos: nada de relevante.
- Em resumo: uma guesthouse com personalidade, numa aposta inovadora e muito bem-vinda para uma cidade como Matosinhos, que tem imenso potencial para complementar a oferta turística do vizinho Porto.
- Ideal para: casais de espírito jovem, homens de negócio que dispensam a formalidade das grandes cadeias hoteleiras, e todos os que queiram usufruir do Porto ficando alojado longe da confusão e perto do mar.
- Preço: desde 50€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: fev. 2016