Bétula Studios
A primeira vez que fui a Lagomar foi em junho de 2017. Já a Ana e o António tinham saído de Espinho há duas mãos cheias de anos, já os filhos tinham crescido, já ambos, eles e nós, tinham feito muitas viagens e muitas descobertas.
A história deles, e as motivações que os levaram a mudar de vida e a escolher o parque de Montesinho para sua nova morada, já tinha sido contada em jornais e reportagens televisivas. E nós até já tínhamos ouvido falar da boca deles o tanto e o tudo que encontraram naquela aldeia.
Mas foi só quando chegamos a Lagomar, passamos o centro da aldeia, contornamos o adro da igreja pelo lado esquerdo, andamos uns metros e encontramos o portão escancancarado a dar as boas vindas que começamos a perceber: o vício de Trás-os-Montes de que o António e a Ana tantas vezes nos falaram.
O António explica-o bem no seu blog, acertadamente chamado The Quality Times. A Ana também tem um blog, Gastar metade e Viver o Dobro, e os títulos destas publicações já dizem muito do que eles são, e do estilo de vida que praticam. Não dizem, talvez, o suficiente do empenho ambientalista que ambos militaram. Mas também há um texto do António a explicar isso, no Alter Eco. Não vale a pena contar muito mais dos anfitriões, porque aqui queremos é falar dos alojamentos. Mas se aqui deixo estas pinceladas é porque os Bétulas Studios reflectem aquilo que eles são.
Na primeira visita, em junho de 2017, era verão, tivemos direito a banhos gelados em águas de rio cristalino. E só conhecemos o sítio onde iam ser implantados os estúdios, e percebemos a paixão que já havia pelo que pretendiam construir. A última visita, em Março de 2020, ainda com a meteorologia a pedir gorro e de luvas, mas já com o sol a dar o ar da sua graça, trouxe a experiência de ficar num espaço pensado ao pormenor, para que nada falhe na estadia, e para que brilhe o essencial.
As expectativas que levava eram elevadas, porque sabia a experiência e a exigência que ambos iriam depositar naquele projecto. Experiência, que pode ser lida nestas páginas da Hotelandia – a Ana Pedrosa é uma das jornalistas que aqui deixou alguns dos seus reviews. Exigência, na sustentabilidade ambiental e na preocupação por todos os detalhes e pormenores. E, como é obvio, eles não defraudaram.
Os quatro estúdios estão perfeitamente integrados na paisagem, numa implantação que tira o melhor partido da orientação solar e da maravilhosa paisagem: a vista privilegiada para o prado onde se passeia o rebanho da aldeia e o carvalhal que sobe a encosta. Os materiais de construção e decoração são de baixo impacto ambiental, domina a cortiça e o bambu. A janela da sala, do chão ao tecto, abre-se para a varanda privativa e para a paisagem que convida à contemplação.
O António e a Ana pensaram em tudo, desde a qualidade do colchão ao tempo que demora a água quente a chegar às torneiras, desde a potência do sinal de internet aos livros estimulantes que repousam na estante e convidam à leitura. Não há televisão nos Bétula Studios, mas com tanto estímulo fora de portas, a verdade é que ela não faz falta nenhuma. Com ou sem crianças (eu levei as minhas), mas sempre com uma garrafa de vinho por perto, os melhores serões dispensam totalmente a caixa que já foi mais mágica do que agora.
Os dois dias inteiros que passamos nos Bétula Studios, e que acabaram por ser o último fim de semana de liberdade antes do confinamento forçado, deu bem para perceber o vício de que sempre me falaram o António e a Ana. Eles dão-nos as legendas de tudo o que estamos a ver, com o entusiasmo de quem gosta de partilhar aquilo de que percebe e com a sensibilidade de quem sabe não se impor e prefere deixar os hóspedes por sua conta e risco.
Esta será, creio, a melhor dica que posso deixar: usufruam de todas as comodidades dos Bétulas Studios, mas não deixem de aproveitar os passeios guiados que o António e a Ana sabem fazer. O vício é garantido.
Como são os Bétula Studios
“Os quatro estúdios estão perfeitamente integrados na paisagem, numa implantação que tira o melhor partido da orientação solar e da maravilhosa paisagem: a vista privilegiada para o prado onde se passeia o rebanho da aldeia e o carvalhal que sobe a encosta.”
Localização
Os Bétula Studios situam-se na aldeia de Lagomar, em plena área do Parque Natural de Montesinho. O centro da cidade de Bragança fica a menos de dez minutos, e a menos de uma hora chega-se ao Planalto Mirandês e ao Douro Internacional, a Foz Côa e ao Alto Douro Vinhateiro, à cidade de Zamora ou ao lago e montanhas de Sanábria.
Quartos
Os estúdios levam os nomes das quatro estações do ano e são elas que justificam os pequenos apontamentos decorativos que os diferenciam. Têm apenas um quarto e o sofá da sala que se converte em cama permite que seja uma boa solução para uma família. A sala é ampla e luminosa, e a kitchenette está bem equipada para permitir fazer todas as refeições (há supermercados perto para comprar o que falta).
Atmosfera
Uma enorme tranquilidade.
Pequeno-almoço
Os estúdios estão em regime de self-catering mas, à chegada, vai encontrar o frigorífico e os armários recheados com que é necessário para tomar um bom pequeno-almoço: pão fresco, leite e iogurtes, queijo e compotas – caseiras, feitas pela Ana com a fruta da época. Na tarde em que nos fomos despedir, e nos convidou para um café, estava estoicamente a partir cascas de laranja numa juliana finíssima. Iria continuar a haver o doce de laranja que nos animou as manhãs do pequeno-almoço.
Conclusão
- Pontos Fortes: os elevados padrões ambientais em que assenta o projecto em todas as suas vertentes.
- Pontos Fracos: talvez não ter uma piscina – mas quem precisa dela quando há praias fluviais para desfrutar?
- Em resumo: a repetir, todas as estações do ano e de preferência com uma Bétula Tour (programas de exploração desenhados e acompanhados pelo fotógrafo António Sá) inserida no calendário.
- Ideal para: um fim de semana em família, ou umas férias prolongadas para explorar a região.
- Preços: A partir de 80€ por noite.
- Data da estadia: março 2020.