Pousada do Porto – Palácio do Freixo
Dormir na Pousada do Porto – Palácio do Freixo é uma experiência e tanto. Fi-lo um par de noites a propósito de uma reportagem no Porto e tive pena que o tempo fosse escasso. Nestas andanças, devia ser condição sine qua non poder usufruir mais de um espaço que parece saído de um conto de fadas. Mas são os ossos do ofício, dormir meia dúzia de horas quando merecíamos dúzia e meia.
O mais difícil quando se pernoita num palácio com cerca de três séculos de vida é não ter vontade de sair da viagem no tempo que a atmosfera circundante nos proporciona. Ali vive-se paredes meias com a história da arquitetura civil em Portugal. Passo revista às áreas comuns deste exemplar barroco do século XVIII, à espera que as paredes me contem histórias passadas.
Check-in feito, rumo ao quarto destes dias numa dependência da antiga Fábrica de Moagens Harmonia. O nome da fábrica assenta como uma luva na minha morada provisória. Um quarto de tons suaves, onde viria a dormir aquilo que o trabalho permitiu. A sofreguidão de querer absorver tudo em tempo recorde leva-me ao edifício principal. Dou por mim a “instragramar” violentamente os tetos das salas do palácio. O desenho do teto da sala do Visconde de Azurara faz-me lembrar um daqueles devaneios pictóricos do gráfico holandês M. C. Escher. Cada sala da Pousada do Freixo condensa um mundo de estética barroca e, ao pequeno-almoço, enquanto alimento um estômago morto de fome, os meus olhos comem a Sala Nobre e depois, de fugida, passam revista à do Torreão e à da Lareira, que dão forma ao requintado restaurante Paladium – que infelizmente não experimentei.
Nesse primeiro dia, acordei por volta das sete numa tentativa de ganhar o tempo que não tinha. Percorri lentamente os caminhos do jardim italiano do hotel, de olhos postos na cor indecifrável do rio Douro. Dei de caras com a piscina. O fresco da manhã apenas permitiu que fizesse aquele gesto irreflexo de pôr a mão na água a perscrutar a temperatura e, de facto, ainda estava bastante fria para umas braçadas. Alojada na Pousada do Porto – Palácio do Freixo, fiquei também com a sensação de que estava fora da cidade, porque a banda sonora transmitiu-me uma paz incrível. Recordo o grito das gaivotas e de pensar: lá está o Fernão Capelo Gaivota a fazer das suas.
Como é a Pousada do Porto?
“Situado aos pés do rio Douro, esta casa cheia de porte sugere um périplo pela vida palaciana.” Maria João Veloso
Localização
Situado em Campanhã, a três quilómetros da Ribeira e a cerca de quatro da zona histórica do Porto, terá que ser um andarilho para propor-se fazer este passeio a pé. Até ao centro, a corrida de carro ou de táxi levará cerca de cinco minutos. A estação de Campanhã fica a um quarto de hora do hotel.
Morada: Estrada Nacional 108, Campanhã, 4300-316 Porto
Quartos
Todos os quartos da Pousada do Porto – Palácio do Freixo ficam num edifício que em tempos foi a Fábrica de Moagens Harmonia. São quartos sóbrios, sem sinais de novo-riquismo nem a opulência barroca que se verifica nas salas do palácio propriamente dito. Mal entramos, no entanto, apercebemo-nos que há luxos invisíveis que nos aconchegam, como uma almofada que nos retempera as energias ou o duche que nos massajou os nós de stress que colecionamos nas costas. A maior parte dos quartos da pousada tem outra mais-valia: um verdadeiro quadro cuja paisagem é o Douro.
Atmosfera
Com uma vista única para o rio Douro e para a Serra do Pilar, este exemplar barroco, desenhado pelo arquiteto italiano Nicolau Nasoni em meados do século XVIII, é dos palácios mais imponentes do Porto. Em 1910 fez-se jus à sua beleza e foi classificado Monumento Nacional. Entre 2000 e 2003, o arquiteto portuense Fernando Távora devolveu-lhe a sumptuosidade perdida por uns anos ao abandono. A mim apeteceu-me saber mais sobre história de arte, estudar arquitetura e realizar ali uma série de época. A Pousada do Porto é um hotel no mínimo inspirador.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Com exceção para o café com leite que é servido na hora, este é um pequeno-almoço buffet. Há sumos variados, cereais, iogurtes para uma refeição mais frugal. Há também ovos para quem gostar de um verdadeiro english breakfast, pães, compotas, queijos e até salmão fumado.
Conclusão
- Pontos fortes: a conservação ímpar do edifício; a forma como somos recebidos principescamente; e, claro, a vista deslumbrante para o Douro; estacionamento gratuito.
- Pontos fracos: não é necessariamente um ponto fraco, mas quem não gostar mesmo de andar a pé terá que se meter num carro ou táxi para chegar ao centro da cidade.
- Em resumo: recomendável para quem quiser viver um Porto sem ruído, com a Natureza como pano de fundo.
- Ideal para: historiadores, amantes de história, estetas e apreciadores de coisas bonitas.
- Preço: desde 126€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: abr. 2013