Casas da Alta de Coimbra, humanizando a dormida em apartamentos

Casas da Alta de Coimbra

Quando Ana Rita me abriu a enorme porta de entrada daquele edifício do início do século XX completamente renovado e me recebeu na exígua receção do Casas da Alta, percebi imediatamente que estava num lugar especial. Que outro pequeno conjunto de apartamentos se dá ao “trabalho” de ter uma receção em funcionamento contínuo durante o dia e me recebe como se estivesse a chegar a casa? Estava dado o mote para uma curta mas memorável experiência na cidade de Coimbra.

Não tardou muito até chegar André Sardet, músico e proprietário do Casas da Alta, que de imediato se juntou à conversa, justificando a muito elogiada opção: “Queremos humanizar a experiência de dormir em apartamentos”. E, aparentemente, nada foi feito ao acaso. André contou-me que analisaram as principais queixas dos hóspedes de unidades hoteleiras semelhantes e, um a um, tentaram evitar os mesmos erros na requalificação do prédio, serviços e decoração dos apartamentos. Tudo sem grandes recursos. “Decorei o prédio com muita imaginação e pouco dinheiro. Até comprei muitas montras de lojas”.

Já era noite escura quando subi ao apartamento. André fez questão de me acompanhar e mostrar os aposentos pintados em tons suaves, mais um pormenor revelador do cuidado posto na aproximação à traça original dos aposentos: “A cor quente das paredes foi recriada a partir da descoberta da cor original das paredes dos apartamentos. O tom suave contribui para um ambiente tranquilo, elegante, acolhedor e charmoso”. Conheci a sala, preparada tanto para uma pequena família repousar como para um viajante de negócios trabalhar; a cozinha, equipada com o fundamental para preparar refeições e onde havia uns mimos de boas-vindas; o quarto, aquecido e confortável, onde haveria de dormir sem sobressaltos e muito conforto; e o terraço – ah, o terraço! – privilégio do apartamento T1 Deluxe Rooftop onde repousavam uma mesa e cadeiras que, imagino, serão inacreditavelmente apetecíveis em noites mais quentes do que a que me calhou em sorte na passagem por Coimbra.

Após conhecer os cantos à casa e, não estando prevenido para cozinhar – nem tal se justificava numa estadia de apenas uma noite -, saí para jantar na cidade. Do resto da noite, pouco tenho a acrescentar senão dizer que trabalhei quanto baste sem vontade de ligar a televisão, dormi muitíssimo bem e acordei revigorado, pronto para experimentar o pequeno-almoço do Casas da Alta que André fez questão que conhecesse.

Manhã cedo, desci então ao piso inferior do prédio para um repasto onde marcavam presença produtos regionais de qualidade, alguns dos quais à venda numa improvisada mercearia. Sim, o Casas da Alta promove iguarias de produtores da região de Coimbra, alguns deles com marca própria, suponho que para facilitar o marketing e a sua comercialização. Para além de vinhos e azeites, havia bolachas de amêndoa cuja receita fora “encontrada nas ruínas da cozinha” do prédio (não é fantástico terem recriado uma receita tão antiga?), gengibre, canela, granola, amêndoa e amendoim caramelizado, tudo embalado com aquele bom gosto discreto que tanto aprecio.

Logo depois, as despedidas. De estômago reconfortado e alma cheia, as ruas de Coimbra esperavam por mim naquele fim de semana outonal. Como qualquer bom profissional, André sonha em grande: “A Saudade é a nossa oportunidade. Temos de fazer tudo para as pessoas terem saudades nossas, e nós das pessoas”. Na minha modesta opinião, julgo que conseguem. Até breve, Casas da Alta!

Localização

Os apartamentos Casas da Alta não ficam no coração da zona histórica de Coimbra classificada pela UNESCO mas, verdade seja dita, as distâncias em Coimbra são tão curtas que não há muito que reclamar da localização dos apartamentos. Fica, na verdade, numa rua tranquila a dois passos do centro histórico. A Universidade de Coimbra fica a sensivelmente a 15 minutos a pé.

Morada: Rua Doutor António José de Almeida, Nº 110 E 112, 3000-042 Coimbra

Quartos

Os cinco apartamentos Casas da Alta são todos distintos. Estão decorados de forma simples mas com extremo bom gosto. Predominam os tons claros, os brancos e pastéis, que contribuem para um ambiente onde se respira tranquilidade e bem-estar. A mim calhou-me um magnífico apartamento no piso superior do prédio, com direito a um maravilhoso terraço com vista para toda cidade de Coimbra, mas todos os outros são igualmente aprazíveis.

Além do quarto propriamente dito, muito acolhedor e confortável, o apartamento tinha uma sala vestida com televisão, sofá e uma mesa de trabalho, uma pequena cozinha totalmente equipada (não a utilizei) e o tal terraço onde, apesar do frio, não resisti a passar algum tempo contemplando uma Coimbra iluminada antes de dormir.

Atmosfera

É difícil classificar a atmosfera de um conjunto de apartamentos onde, por definição, os hóspedes pouco interagem. Ainda assim, foi-me dito que o espaço é frequentado por alguns hóspedes de longa duração, muitos brasileiros e até famílias com crianças. Não é, portanto, um ambiente de hostel (para isso não faltam outras opções em Coimbra), antes um espaço relaxado, para estadias cómodas e tranquilas. Apartamentos sem luxos nem falsos pretensiosismos, mas muito conforto e, acima de tudo, “humanizados” – para usar as palavras de André Sardet.

Pequeno-almoço (café da manhã)

Sendo alojamento em regime de self-catering, no qual os hóspedes podem usar a cozinha para as suas refeições, o pequeno-almoço não está incluído na tarifa. Apesar disso, se solicitado na noite anterior, terá à sua disposição produtos de altíssima qualidade para começar o dia bem-disposto. Quando pernoitei no Casas da Alta, provei um delicioso iogurte com muesli caseiro, fruta e sumos naturais, pão, scones e compotas caseiras, e ainda queijos portugueses, fiambre e presunto. Um deleite! De referir um pormenor que me refrescou a alma matinal: um jarro de água com uma rodela de laranja e um pau de canela – detalhes que fazem toda a diferença numa unidade hoteleira onde os pequenos mimos são coisa natural.