Casa da Cisterna
Era uma daquelas primaveras soalheiras, de dias quentes mas em que os fins de tarde ainda pedem agasalho. Foi num entardecer assim que chegámos à moradia de granito, abrigada numa rua pacata de Castelo Rodrigo. A distingui-la das casas vizinhas só uma placa discreta e a contígua cisterna árabe que lhe dá o nome.
Fomos recebidos pelo sorriso de Ana Berliner e por um cheirinho irresistível a bolo acabado de fazer, que nos fez subir as escadas com o à-vontade de quem entra numa casa de família. Apresentados à autora da iguaria – a avó Conceição – fomos levados até à sala onde crepitavam alguns toros, na lareira acabada de acender. Sentámo-nos no sofá, ao lado de uma biblioteca bem recheada, enquanto Ana nos explicava o funcionamento da casa. Tínhamos livros, guias de campo e revistas para folhear a nosso bel-prazer, uma vasta seleção de DVD que podíamos levar para ver no recolhimento do quarto e mantas para estadas crepusculares no jardim. Quanto ao pequeno-almoço, não havia horários rígidos, fossemos do género madrugador ou daqueles que dormem durante boa parte da manhã.
Não sei quanto tempo ficámos ali, a trocar ideias e a ouvir as dicas de quem conhece muito bem a região. Lembro-me que já tinha escurecido e as estrelas enchiam o céu quando finalmente nos instalamos no quarto Andorinhão, também conhecido como “quarto dos chapéus” por guardar nas paredes a coleção que Ana foi recolhendo durante as suas viagens pelo mundo.
Na manhã seguinte, após uma memorável refeição matinal, partimos para um passeio nas margens da Barragem de Almofala. Trazíamos as bicicletas no tejadilho, porque esta era a primeira etapa de um percurso que nos haveria de levar pela fronteira acima até Bragança, com paragens nas paisagens fabulosas do Douro Internacional, mas ficámos a saber que ali também há BTTs disponíveis para quem se quiser aventurar pelas estradas circundantes.
Foi um dia intenso, passado a pedalar, intercalado com pausas para piquenicar à sombra dos freixos nos lameiros, para espreitar o céu em busca dos grifos que nidificam nas arribas do rio Águeda e até para assistir à procissão de um bando de cegonhas que, atrás de um trator, debicavam a refeição.
No segundo dia, com as pernas a implorarem descanso, deixámo-nos lagartear na cama de rede junto ao canteiro de ervas aromáticas da Casa da Cisterna, que o sol a pino fazia desabrochar em fragrâncias. Só à tarde nos deu para deambular pelas vielas quietas da Aldeia Histórica. Acabámos por desaguar numa esplanada com vista para planalto de Riba-Côa onde, no meio de oliveiras, brindámos com um copo de tinto acompanhado por um pratinho de amêndoas torradas.
As duas noites previstas transformadas em três, pudemos ainda afagar o pelo macio dos burros que António cria num terreno junto ao Convento de Santa Maria de Aguiar. Ficou por fazer o passeio no lombo dos bichos mansos, a descoberta da Reserva da Faia Brava, um jantar de mesa posta no campo. Só não faltaram as lições de birdwatching, nesta morada de biólogos que fazem da sua casa o ninho com que todos sonhamos.
Como é a Casa da Cisterna?
“Ambiente familiar com requinte, numa casa situada às portas do Douro Internacional, onde sabe bem regressar depois de um dia pleno de aventuras.” Ana Pedrosa
Localização
No centro de Castelo Rodrigo, povoação fortificada que faz parte da rede das Aldeias Históricas, é um bom local para explorar os castelos da fronteira e de usufruir do contacto com a Natureza. O Parque Natural do Douro Internacional, com seus miradouros e paisagens de cortar a respiração, está ali ao lado, tal como a reserva privada da Faia Brava. O cenário vinhateiro de Foz Côa e os cruzeiros no Douro a partir de Freixo de Espada à Cinta ficam a uns meros 40 quilómetros do turismo rural Casa da Cisterna, enquanto os trilhos à volta da vizinha Barragem de Almofala são ideais para caminhadas e percursos de BTT.
Morada: Rua da Cadeia 7, 6440-031 Castelo Rodrigo
Quartos
A Casa da Cisterna tem seis quartos. Dois situados no edifício principal, outro com acesso através do jardim, e três na contígua casa Mikwéh que, com sala comum com lareira e cozinha, pode ser alugada na totalidade, a famílias ou grupos de amigos. Distintos na decoração, todos os quartos têm TV por cabo, acesso à internet, aquecimento central, ar condicionado e leitor de DVD – apenas o quarto do Pisco, o mais pequeno, não tem esta última funcionalidade. Existe ainda uma suite, com lareira na sala e cama em mezanine.
Se todos são bonitos, é obrigatório destacar o quarto da Coruja, com a cama suspensa debaixo de uma claraboia onde se podem ver as estrelas no conforto do colchão. Está prevista a abertura, para breve, de mais três quartos e uma suite.
Atmosfera
Sentimo-nos como se estivéssemos em casa, se a nossa casa fosse esse sítio exemplar onde há sempre arranjos de flores campestres, garrafas de vidro com água nos quartos, vários recantos onde nos podemos sentar a ler com toda a tranquilidade, uma lareira acesa quando o frio os puxa para dentro e uma piscina infinita para mergulhar nas tardes de canícula. Mas, se estas paredes de pedra são ideias para quem quer recolhimento, também não faltam atividades para os que desejam partir à aventura. Ana e António orientam visitas guiadas (diurnas e noturnas) às gravuras do Côa, passeios a pé ou de jipe pelas paisagens das redondezas, sessões de birwatching e passeios de burro. Se quiser, pode ainda pedir uma cesta de piquenique para levar nas saídas ou um jantar sob as estrelas.
Pequeno-almoço (café da manhã)
Se a gula é pecado, depois de passar pela Casa da Cisterna todos nós temos um lugar reservado no inferno. É difícil resistir a tantas coisas boas, apresentadas de uma forma cuidada, com enfeites novos a cada manhã, porque os olhos também comem. O palato não fica desiludido, numa escolha que se estende dos doces da casa a vários méis da região, barrados sobre pão regional, em companhia de requeijão e queijo de cabra ou ovelha. Há ainda presunto serrano e bolo da avó, iogurte com mel de rosmaninho, fruta laminada e sumo natural. Obviamente, não falta leite, vários chás e infusões, mais o café, que pode ser adoçado por uma seleção de doze açúcares. O café da manhã está incluído.
Conclusão
- Pontos fortes: o pequeno-almoço, o ambiente de requinte com uma grande atenção dada aos mais pequenos detalhes, o leque de atividades, guiadas por quem conhece muito bem a região.
- Pontos fracos: nada a assinalar para um turismo rural.
- Em resumo: mais do que recomendável, imperdível.
- Ideal para: quem dá importância ao bom gosto, seja numa estadia romântica, numa saída com a família ou numa reunião de um grupo de amigos.
- Preço: desde 65€ duplo · Ver preços
- Data da estadia: abr. 2010